20 de novembro de 2024
Mundo • atualizado em 13/02/2020 às 01:11

Negociador da União Europeia revela planos para o ‘brexit’

Michael Barnier, negociador europeu do 'brexit', durante entrevista coletiva nesta quarta (03) / Foto: John Thys
Michael Barnier, negociador europeu do 'brexit', durante entrevista coletiva nesta quarta (03) / Foto: John Thys

O negociador europeu para o “brexit”, Michel Barnier, revelou nesta quarta-feira (3) seus planos para as negociações do divórcio com o Reino Unido, advertindo o país que as exigências financeiras europeias não são uma “punição” e têm por objetivo apenas “liquidar as contas”.

“Não há uma punição, não há uma conta do ‘brexit'”, a questão financeira “é apenas sobre liquidar as contas”, disse em uma coletiva de imprensa o negociador da Comissão Europeia, que liderará as tratativas em nome dos 27 membros do bloco.

As linhas de negociações reveladas por Barnier se baseiam nas diretrizes adotadas no sábado pelos líderes europeus em uma cúpula sem sua colega britânica, Theresa May, na qual ressaltaram sua “unidade” diante do processo de divórcio de até dois anos ativado em 29 de março.

E tudo isso em um ambiente tenso depois de um jantar na semana passada entre May e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que acabou colocando em evidência a enorme distância entre Londres e Bruxelas, de acordo com declarações de fontes europeias a um jornal alemão.

Com a publicação destas recomendações, Bruxelas avança em seu objetivo de que a UE esteja pronta para negociar em 22 de maio, embora a negociação formal comece após as eleições antecipadas de 8 de junho no Reino Unido convocadas por May com o objetivo de se reforçar antes da negociação.

SEM CHEQUE EM BRANCO

Na linha dos líderes europeus, Barnier afirmou que nos próximos meses vai se concentrar em três questões: o futuro de cerca de cinco milhões de cidadãos afetados pela mudança; as dívidas financeiras de Londres; e questões fronteiriças com a Irlanda.

No que diz respeito aos direitos dos cidadãos, o plano da Comissão Europeia propõe garantir o acesso à residência permanente após cinco anos de residência legal, tanto para os europeus que vivem no Reino Unido quanto para os britânicos em outros países do bloco.

Bruxelas também acredita que o Reino Unido deve cumprir com os seus compromissos financeiros já acordados com os seus parceiros europeus. Essa conta de saída pode chegar a € 60 bilhões (R$ 190 bilhões), de acordo com fontes europeias.

O jornal Financial Times elevou, no entanto, nesta quarta-feira (3) que o valor poderia alcançar € 100 bilhões, se forem levados em conta os pedidos de Alemanha e França especialmente em relação aos subsídios agrícolas.

“Não pagaremos 100 bilhões”, advertiu rapidamente o ministro britânico para o “brexit”, David Davis, em declarações à rede ITV.

De acordo com o negociador europeu, até o momento não existe nenhum número, mas ele será calculado segundo uma “metodologia”. “Nunca se tratou de pedir ao Reino Unido um cheque em branco”, trata-se de “saída ordenada com contas a liquidar”, reiterou Barnier.

EM OUTRA GALÁXIA

Depois de lançar o processo de saída, o Reino Unido deve se tornar no primeiro trimestre de 2019 o primeiro país a abandonar o projeto europeu. A incógnita é se ele o fará com um acordo fechado com seus sócios europeus, especialmente quando o jantar entre May e Juncker mostrou a complexidade das negociações que estão por vir.

Londres quer negociar simultaneamente a saída e o âmbito das futuras relações com a UE, algo que os europeus se opõem a fazer se não forem registrados avanços nas três prioridades apontadas pelo bloco.

Quanto à questão econômica, Barnier indicou que “há posições diferentes” e “isso foi visto durante o jantar” da última quarta-feira (27) em Londres.

De acordo com um relato detalhado do encontro publicado pelo jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, citando fontes europeias, Juncker deixou o jantar com a impressão de que May “vive em outra galáxia” e que tem ilusões inatingíveis sobre as negociações.

“Não vivo em uma galáxia diferente”, respondeu May em uma entrevista à BBC. “O que isso demonstra, e o que demonstram os comentários que chegam de outros líderes europeus, é que haverá momentos em que as negociações serão duras”, acrescentou.

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