07 de agosto de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 13/02/2022 às 00:30

Não olhe para o Plano Diretor

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Por Rafael Tavares

A sensação do momento, o filme comédia/ catástrofe: “Não Olhe Para Cima”, lançado na Netflix na véspera do Natal , conta a história de dois astrônomos que descobriram um meteoro em rota de colisão com a Terra capaz de extinguir toda a vida no planeta. Entretanto, os cientistas são desacreditados ao alertarem a população sobre o que viria a acontecer.

O filme se trata de uma satira nada sutil ao momento em que estamos vivendo, todos os personagens são bastantes conhecidos nossos; os acadêmicos, os políticos, os que se beneficiam da catástrofe para ganhos financeiros e os negacionistas que mesmo diante do fim do mundo preferem acreditar em teorias absurdas.

Enquanto isso no Brasil, depois de quase dois anos de pandemia, com pessoas garimpando ossos, cenas de cidades sem oxigênio e assim como no filme, o lado que está vencendo é a parte negacionista. O filme não me parece assim tão risível das situações absurdas.

Ao efetuarmos um recorte ainda mais local, o que poderíamos dizer que foi uma oportunidade da Prefeitura de Goiânia, aproveitar a situação de um Plano Diretor que vem se arrastando desde 2017 para abrir a discussão de um novo plano que consultasse a população, empresários, acadêmicos, organizações sociais e contemplasse todas essas novas situações. Na verdade ocorre de forma oculta, sendo feito a toque de caixa sem sabermos a quem interessa toda essa pressa.

Um documento que regulamenta as cidades no ano de 2021 e não cita nenhuma vez a palavra pandemia me parece um tremendo absurdo e tenta fazer por emendas modificações estruturais para que pareça ser ainda a proposta inicial sem apresentar os mapas do novo ordenamento. Se olharmos para o lado, nossos vizinhos enfrentam nesse momento inundações em razão das fortes chuvas e ocupação das margens dos rios; a ideia de controle da natureza; as altas emissões que geraram a crise climática. Ao mesmo tempo que devido a forte carestia pessoas se aglomeram nas ruas de Goiânia totalmente desalentadas como verdadeiros refugiados de um sistema que falhou em auxiliá-los.

Não olhe para o Plano Diretor me parece aquela farsa que é anunciada como repetição da tragédia e que por isso parece menor, mas no entanto, como tudo que ocorre nas cidades, todas as escalas de discussão são importantes.

Rafael Tavares, é Arquiteto e Urbanista, mestrando em Arquitetura na Universidade Federal de Goiás (UFG) pelo PPG Projeto e Cidade e um dos Idealizadores do Salve Goiânia.