Jornalista, escritor e ex-deputado federal, Fernando Gabeira sabe como poucos o funcionamento dos poderes que sustentam o país. Dono de 4 mandatos consecutivos, Gabeira tentou se candidatar ao governo do Rio de Janeiro em 2010, mas foi derrotado por Sérgio Cabral (MDB). Alguns meses depois, sem mandato, anunciou sua aposentadoria na política e desde 2013, tem um programa que leva seu nome apresentado na Globo News.
Gabeira, à época das eleições de 2018 até saiu em defesa do então presidenciável em algumas entrevistas que concedeu. “Se você parte pra ideia de que é ele um fascista, nazista, perde o contato com a possibilidade não só de falar com ele, mas com os eleitores dele também. E os eleitores dele não são as pessoas descritas nessas visões alarmistas”, afirmou a um podcast mantido pela Rio Bravo Investimentos. Portanto, é uma pessoa que pode fazer uma análise séria e profunda sobre o contexto político do atual Brasil.
O ex-parlamentar, por duas vezes nesta segunda-feira (01/07) se manifestou sobre os seis meses do Governo Bolsonaro. Escreveu em sua coluna no Jornal O Globo o artigo: “Um governo que namora com a morte” e concedeu uma entrevista ao Estadão no qual ele diz: “Não houve inexperiência”, como parte da imprensa tenta vender os primeiros meses de gestão. “Houve erro de avaliação. Do jeito que está se comportando, perde todas as (votações) e acaba virando um governo ineficaz”, afirmou.
Gabeira é um dos que defendem que Bolsonaro adote uma postura conciliatória com relação ao governo e as conversas com o parlamento. “Para não se transformar em uma ‘Rainha da Inglaterra'”.
Ao longo dos seis meses da gestão Bolsonarista, os contrapesos e salvaguardas funcionaram, “evitando que a democracia fosse empobrecida”, disse ao Estadão. Quando se fala em contrapesos e salvaguardas, lê-se Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Por outro lado, é um governo que acaba ‘flertando com a morte’. “A liberação das armas, a flexibilização das regras de trânsito, a velocidade nas estradas, extinção de radares, é um governo que flerta com a morte.”
Quando Bolsonaro admite que sua gestão é “inexperiente”, Gabeira comenta que isso é algo comprometedor. “Significa que ele passou muito tempo lá (28 anos) sem analisar corretamente o que se passava, como eram feitas negociações, quais são os pontos que levam um projeto a avançar ou não”, menciona.
Na análise de Gabeira, Bolsonaro acreditou no grande poder que recebeu nas redes sociais e que isso se converteria no Congresso. “Supor que por ter vencido as eleições e por ter base popular, por ter apoio nas redes sociais, você conseguiria fazer do Congresso aquilo que quisesse, não houve inexperiência, houve erro de avaliação”, salienta.
Se existe risco de Bolsonaro se tornar uma ‘rainha da Inglaterra’, Gabeira diz “ele próprio [pode] se transformar em uma rainha da Inglaterra. Não está tanto nas mãos do Congresso”, afirma Gabeira dizendo que a “incapacidade [de Bolsonaro]” está em jogo. Gabeira diz que é necessário que Bolsonaro possa “compreender o jogo democrático e fazê-lo amplamente”. Aí sim, ele “recompõe a importância dele e de alguns temas de campanha. Mas se insistir que o Congresso é tábua rasa onde você pode ter tudo o que quer, ele realmente vai perder todas”, afirmou.
O ex-parlamentar não deixou de falar sobre a situação de Sérgio Moro no Governo. Elogiou a atuação e a popularidade do ex-juiz. “Uma grande força, o ministro mais popular, mais bem recebido pela população”. Apesar de tudo, ao integrar o Governo e com recentes conversas vazadas, isso pode macular a imagem do ministro e da Operação. “Agora, representando como representou a Lava Jato, ele leva algumas suspeições sobre a operação. O Moro deixa para quem criticou a operação a impressão de que existia uma perspectiva política através da Lava Jato. A associação da Lava Jato com o governo Bolsonaro é o que de pior poderia acontecer com a Lava Jato, embora seja muito boa para o governo”, pontuou.
Gabeira não tem medo de um ataque ao direito das minorias, apesar dos riscos impostos com as políticas bolsonarístas. “Existe uma grande tentativa de retrocesso nesse campo dos costumes, mas é uma tentativa que, no meu entender, não vai ser bem-sucedida”, afirmou.
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