29 de dezembro de 2024
Brasil

‘Não há homem perfeito’, diz pastor de Bolsonaro

Jair Bolsonaro (PSL) em culto. (Foto: Fernando Frazão/Agencia Brasil)
Jair Bolsonaro (PSL) em culto. (Foto: Fernando Frazão/Agencia Brasil)

Como as de tantos outros pastores, as redes sociais de Josué Valandro Jr., 49, ganharam tintas políticas nas últimas semanas. Tudo em prol do candidato abraçado por 7 entre 10 evangélicos, Jair Bolsonaro (PSL).

Após o triunfo do homem que popularizou o slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, Josué deu parabéns: “Conte com nossas orações!”. A 11 dias do segundo turno, publicou um bom recadinho, tudo em maiúsculas, sobre fundo verde-amarelo: “Nós, evangélicos, estamos falando sobre política hoje para não sermos proibidos de falar de Jesus amanhã”.

Entre a legião de líderes evangélicos que encontrou no católico Jair Messias Bolsonaro um presidente que vá lutar por moral e bons costumes, Josué tem algo que a maioria não tem. Acesso ao homem.

Ele lidera a Igreja Batista Atitude, no Recreio (zona oeste carioca), onde vai Michelle Bolsonaro. A mais ilustre fiel lhe garantiu uma ponte com o marido e futuro presidente.

Neste domingo (4), Bolsonaro subiu ao púlpito e nele orou, ficou de joelhos, chorou e atribui a vitória a Deus.

“Se isso tudo [o resultado] aconteceu, só tem uma explicação: Deus que decidiu. Nenhum cientista político conseguiu explicar o velho garoto que tinha apelido de Palmito ter chegado aonde chegou.”

Não era sua estreia naquele altar. Em agosto, mais uma vez ali lacrimejou e falou sobre “varrer o comunismo do Brasil”. Especialistas apontaram propaganda irregular, já que a lei eleitoral proíbe campanha em “bens públicos de uso do povo”, de igreja a estádio.

Antes e depois do triunfo de Bolsonaro, o pastor foi recebido na casa do casal. Também visitou o candidato recém-esfaqueado pelo homem que depois Michelle definiria como “um ser humano muito mau” .

Michelle começou a frequentar a Atitude em 2017, após visitar a sede e se sentir “muito tocada”, conta Josué.

Antes ela ia à igreja de Silas Malafaia, e a troca de denominações se deu meses após o pastor ser indiciado numa operação da Polícia Federal e brigar com Bolsonaro, por se achar abandonado na hora difícil. Malafaia chegou a gravar um vídeo sobre a “direita radical” que quer “fechar o Congresso” -já fez as pazes com o amigo e disse que falou “besteiras” por estar chateado.

A desavença ajudou a empurrar Michelle para a Atitude. Intérprete de Libras, ela fica na primeira fila, com fiéis surdos -auxiliou inclusive no preparo do grupo para tocar no bloco carnavalesco da igreja, “Sou Cheio de Amor”.

Josué recebeu a Folha em seu escritório na igreja e, por uma hora e meia, desfiou o corolário bolsonarista. Falou sobre 1964, ano do golpe tão querido por Bolsonaro, como o início de uma temporada em que “tivemos muitas coisas ruins, né?” Mas ao menos “nunca caímos no comunismo”.

“Quem matou homossexual à beça foi Fidel Castro. Não sei de nenhum homossexual morto no regime militar”, diz. A Comissão Nacional da Verdade, que investigou violações de direitos humanos pela ditadura, tem textos sobre perseguições a grupos LGBTQ.

Já 2018 entrará para a história como o ano em que “as famílias cristãs salvaram o país”, afirma Josué. “Um dia aqueles tristes com o apoio [a Bolsonaro] vão nos agradecer.”

O filho de um pastor batista que, após trabalhar num banco de investimento, seguiu os passos do pai ataca a esquerda em todas as frentes que pode.

Abraça a versão de que o “kit gay” -pacote anti-homofobia gestado, mas nunca veiculado, no governo Dilma- ensina a crianças orgias e que é ok um “menino de 12 anos decepar seu pênis”. A idade mínima para mudança de sexo no SUS é 18 anos.

Não acha Bolsonaro o racista que setores progressistas dizem ser. Aliás: “Discordo chamar negro de minoria. Calma aí, o principal jogador da história [Pelé], e o maior artista, Michael Jackson, são negros”.

Duvida inclusive “das estatísticas de que negro morre mais”. Argumenta: “Quase não vou em enterro de negro, já em enterro de branco vou a toda hora. Sério mesmo”.

O pastor canta o jingle “Lula lá” para confessar que, sim, num passado do qual hoje quer distância, ele votou no petista. “Já fui enganado.”

Se a maioria evangélica foi de Bolsonaro agora, não pense a esquerda que o bloco não conhece o candidato que ungiu.

“A gente precisa entender que não há homem perfeito. Ele falou algumas coisas que não foram boas. Essa brincadeira, por exemplo, de falar ‘dei uma fraquejada’ [quando nasceu a única filha, Laura]. Estamos ficando um país chato. Toda brincadeira que era normal de homem, quando é o Bolsonaro, é levada à última instância da falta de senso. Agora ele virou machista por causa disso?”

Ao menos com o marido de Michelle o “marxismo cultural que inibe as pessoas de dizer o que sentem” acabará, aposta.

Já Bolsonaro nutre o “desejo de união da nação, pois a esquerda tenta dividi-la o tempo todo”, diz o pastor que, na ponta da língua, traz sempre o versículo bíblico “Anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes”. (Folhapress) 

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