27 de agosto de 2024
Destaque • atualizado em 31/08/2021 às 10:06

Nada favorece a queda no preço do etanol para os próximos meses, avalia presidente do Sifaeg

(Foto: Sifaeg)
(Foto: Sifaeg)

O cenário nebuloso frente aos preços do etanol no Brasil e em Goiás continuará acentuado pelo próximo semestre. “Em termos de produção do etanol não temos nada que favoreça nos próximos meses”, pontua o presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás (Sifaeg), André Rocha. A declaração foi dada ao Diário de Goiás em entrevista nesta segunda-feira (30/08).

André explica que a produção de etanol começa um ano antes do produto chegar na ponta para o consumidor e no caso, vivemos períodos que alternam entre secas e geadas – algo incomum para a região goiana. Isso foi péssimo para a produção de diversos insumos: cana e milho, por exemplo. “Geada para a cana é a mesma coisa que queimada”, pontua. A baixa produção faz os produtos tornarem-se escassos e com isso, os preços vão subindo.

Questões climáticas envolvidas

Antes de falar em recuperação para o setor, André reforça que é preciso avaliar como estarão as condições climáticas durante o período de produção e colheita. “Hoje, mais de 90% da produção de etanol é a partir da cana de açúcar e quando a gente planta a cana a colheita dela normalmente é por ano e meio. Nós não temos elementos para favorecer o crescimento da produção para o ano que vem. Esperamos que ano que vem tenhamos uma produção melhor e maior que esse ano tentando recuperar a produtividade, mas para isso, dependemos das chuvas e questões climáticas, mas com certeza a produção do próximo ano não será superior a produção da safra passada. Nós teremos uma cana mais velha, seca e gelada que ainda tem influência pelo menos na próxima safra”, pontua.

Para se ter uma ideia, este ano, os produtores viram condições climáticas totalmente atípicas e adversas para a colheita. “Você teve um período seco que desde o ano passado prejudicou o desenvolvimento da cana e atrasou um pouco o início desta safra”. Esse foi um fator que inflacionou o preço do produto. “Estamos tendo uma colheita bem menor que o previsto, bem menor que a safra passada”, pontua. 

Não bastasse as altas temperaturas, algumas geadas no meio do caminho somatizam os problemas. “Não obstante o ser quente, ainda tivemos três geadas, que é totalmente incomum. Há muitos anos aqui em Goiás não haviam geadas e não tivemos apenas uma, tivemos três. Áreas que nunca haviam sido afetadas, como Goiatuba, Vicentinópolis, Edéia e outros locais. Na região Centro-Sul tivemos uma redução expressiva na safra.”

Por conta dessas geadas, as empresas que trabalham com a cana de açucar tiveram de apressar a colheita. “Eles tiveram que acelerar a colheita porque a uma perda muito grande da sacarola à medida que se demora a processar a colheita. Esse é o cenário e o prejuízo é muito grande porque essa cana colhida não estava colhida não estava necessariamente no ponto de colheita”. André destaca que isso acaba atrapalhando o desenvolvimento da própria cana.

Redução do ICMS não resolve problema do preço do etanol

A possível redução do ICMS sobre o combustível não trará impactos relevantes sob o preço do etanol. Primeiro, para além dos governos estaduais não controlarem o câmbio, os produtores de álcool vivem um momento de final da safra e ela é baixa. “Não tem como você aumentar a produção de uma hora para outra. Mesmo para a próxima safra, praticamente, a cana que vai ser colhida já foi toda plantada”, destaca André.

“Esse é um problema que necessariamente você reduzindo o imposto, não é isso que vai atingir a curto prazo a redução do preço na conta. Até porque, governos estaduais, não controlam o preço cambial, o preço do petróleo é uma commodities, no caso da cana estamos em final de safra”, ressalta.

O que pode ser feito neste momento é colher a cana que está no campo mas não há uma previsão de aumento na produtividade. “Não existe uma política para você falar que você vai conseguir aumentar a produção de açúcar ou de etanol. Não tem como você aumentar a produção de uma hora para outra. Mesmo para a próxima safra, praticamente, a cana que vai ser colhida já foi toda plantada. Você pode ter alguma coisa a mais com relação à produtividade que vai depender muito do clima e você tem um pouco mais de oferta com a produção do milho mas ainda é muito pequena se comparado ai com a oferta do etanol que vem da cana”, destaca.

Então, mesmo com a possível redução de imposto não dá para prever se os preços terão reflexo para o consumidor na ponta da linha. “Você pode ter alguma coisa a mais com relação à produtividade que vai depender muito do clima e você tem um pouco mais de oferta com a produção do milho mas ainda é muito pequena se comparado ai com a oferta do etanol que vem da cana. É muito difícil você falar em qualquer situação de preço mesmo com a redução de impostos neste caso.”

ICMS tem gerado debate e conflito entre poderes

A reportagem do Diário de Goiás tem abordado o assunto com critério em matérias, reportagens e entrevistas ao longo das últimas semanas e já mostrou que os prefeitos não se agradaram quando Caiado fez menção ao assunto semanas atrás.
Para eles, uma redução no tributo faria com que os municípios perdessem receita e a população não veria impactos efetivos no valor da bomba de combustível. No fim das contas, ninguém ficaria satisfeito com a medida.

Em março de 2021, o presidente do Sindiposto-GO, Márcio Andrade já falava que não dava para colocar a culpa do preço do combustível no ICMS. “É bom deixar claro que a política de impostos do Estado, por exemplo, não mudou. Não é ela o causador dos aumentos, ela tá seguindo ali o percentual de ICMS é o mesmo há anos em Goiás, sem alteração. Então, não podemos jogar a culpa no ICMS”, relata em entrevista ao Diário de Goiás.

O grande problema no Brasil hoje é a política tarifária adotada pela Petrobrás que segue a cobrança do mercado internacional. “A perspectiva do mercado de combustível é de enquanto permanecer a política da Petrobrás de vincular o mercado internacional ao preço do petróleo e ao câmbio e o dólar, neste momento, continua com tendência de alta. Porque o preço tem subido no mercado internacional e a cotação do dólar não tem cedido, ela tem continuado alta e aumentando. Nessa perspectiva não tem muita chance que a gente veja a redução de preços”, pontua.

Recentemente, um dono de posto de combustível em Goiânia deu a dica para que o valor do preço seja reduzido. “Em vez do presidente Bolsonaro ficar fazendo esse empurra para cima dos governadores que nada adianta, seria bom ele trabalhar junto com a equipe econômica para reduzir o preço do dólar, com isso, veríamos não apenas o preço do combustível reduzindo, mas da carne, do pãozinho… De outras coisas que fazem muita diferença na vida do brasileiro”, disse mantendo seu anonimato ao Diário de Goiás.

O Diário de Goiás também já mostrou que o sucessivo aumento dos preços que não agrada os consumidores, tampouco satisfaz os donos dos postos. “O próprio revendedor também não está gostando de trabalhar com esses patamares que exige mais capital de giro, exige busca por outros recursos na falta do capital de giro e tem que buscar recursos no mercado. Nos bancos as taxas de juros estão só aumentando. Fica caro para viabilizar a manutenção do negócio”, avalia Márcio Andrade.


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