A manutenção das taxas atuais de emissões de carbono e aquecimento global podem colocar 48% das espécies de determinados ecossistemas em risco, segundo um relatório da ONG WWF divulgado nesta quarta (14).
Esse cenário de risco apresentado pelo estudo “Vida selvagem em um mundo cada vez mais quente” está associado a um aumento de temperatura média global de 4,5°C em relação à média século 20. Os autores afirmam que essa é a temperatura mínima esperada caso nenhum esforço seja feito para reduzir as emissões atuais de gases estufa.
Com um aumento de 2°C, o limite estimado pelo Acordo de Paris -o desejável seria um crescimento máximo de 1,5°C- a situação seria melhor, mas ainda assim preocupante. Nesse cenário, 24% das espécies se tornariam vulneráveis à extinção.
Para chegar a essas conclusões, os autores analisaram 35 áreas consideradas pela WWF como prioritárias. A classificação leva em conta ecossistemas excepcionais, com biodiversidade ameaçada e insubstituível. Também foram consideradas áreas cuja preservação manteria intacta uma boa fração do ecossistema nelas presente.
Para cada uma dessas áreas foi feita uma modelagem do clima que leva em conta os fatores temperatura e precipitação. Foi simulada a probabilidade de sobrevivência de mais de 80 mil espécies, entre plantas, aves, mamíferos, répteis e anfíbios.
Foi levada em conta ainda a possibilidade de dispersão das espécies, ou seja, as chances de um vegetal ou animal se adaptar à nova realidade climática ou de ocupar novos habitats –ponto em que mamíferos e aves teriam vantagem.
Os resultados são preocupantes, segundo a avaliação de André Nahur, coordenador de mudanças climáticas do WWF Brasil. “Esses números podem ser ainda piores”, diz Nahur. “[O relatório] traz um alerta vermelho.”
O pesquisador afirma que outros fatores que também podem impactar o risco de extinção de espécies –como desmatamento, perda de habitat e até mesmo efeitos em cascata na cadeia alimentar– não foram levados em conta no estudo.
BRASIL
Amazônia, cerrado-pantanal e a mata atlântica estão entre as 35 áreas prioritárias no mundo selecionadas pelo WWF. A floresta amazônica é classificada como vulnerável às mudanças climáticas. Espécies de plantas e anfíbios podem ser os mais afetados, pela menor capacidade de deslocamento.
“Na Amazônia, todo ano novas espécies são descobertas. É uma perda silenciosa, que não tem como ser mensurada”, diz Nahur. Além da possível perda de espécies, ele aponta que pode haver possíveis prejuízos na descoberta de plantas com potencial farmacêutico e em serviços ecossistêmicos, o que pode resultar em abalos à segurança hídrica e alimentar de algumas regiões.
De acordo com o pesquisador do WWF, há outras possíveis alterações silenciosas em processos ecológicos que a ciência não consegue modelar atualmente, o que torna a avaliação de impactos incompleta.
A solução apontada pelo relatório para evitar os quadros apresentados é a imediata redução nas emissões de gases-estufa. Além disso, os autores também afirmam que os chamados corredores biológicos podem facilitar a dispersão de espécies, diminuindo o risco de extinção. Ampliar esses corredores seria uma possível alternativa para mitigar os danos.
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