27 de agosto de 2024
Saúde

MS compra R$ 285,8 milhões em remédios sem registro da Anvisa em empresa de Aparecida de Goiânia

Ao todo Ministério da Saúde investiu R$ 392 milhões, restante foi para outras empresas
Empresa de Aparecida afirmou que produto é fabricado pela farmacêutica chinesa Nanjing Pharmacare e já foi utilizado no Brasil em outros anos. (Foto: reprodução)
Empresa de Aparecida afirmou que produto é fabricado pela farmacêutica chinesa Nanjing Pharmacare e já foi utilizado no Brasil em outros anos. (Foto: reprodução)

O Ministério da Saúde vai gastar R$ 392,2 milhões para comprar medicamentos sem registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e parte desses contratos vão adquirir remédios de uma empresa de Aparecida de Goiânia, ou pelo menos com sede na cidade, chamada Auramedi. A informação, divulgada pela Folha de S.Paulo nesta terça-feira (23), diz se tratar de insulina e imunoglobulina.

Ainda de acordo com a pasta, o gasto milionário com os produtos sem registro foi justificado pelo estoque estar escasso e pela dificuldade em comprar no mercado nacional. Isso por que, apesar da sede da empresa ser em Aparecida de Goiânia, o produto é fabricado pela farmacêutica chinesa Nanjing Pharmacare e já até foi utilizado pelo SUS no Brasil em outros anos.

A reportagem mostrou, também, que a empresa afirmou que segue a legislação sanitária e exige, entre outros pontos, que o produto seja certificado por agências reguladoras de outros países. Apesar disso, um fato curioso é que, até hoje, a Auramedi tinha poucos contratos com governo, já que dados do portal da transparência mostram que a empresa apenas R$ 21 mil em todos os contratos já feitos com a esféra federal.

Agora porém, dos R$ 392,2 milhões, R$ 285,8 milhões – mais de 70% – vão apenas para a Auramedi, empresa de Aparecida de Goiânia. A empresa, porém, afirmou que dispõe de serviço de atendimento por telefone a pacientes com dúvidas sobre o produto ou reações adversas.

Em apuração feita pelo Diário de Goiás, o perfil da Auramedi no LinkedIn, mostra que foi fundada em 2013, tem entre 11 e 50 funcionários e fica localizada em um polo empresarial chamado Cidade Empresarial em Aparecida. Além disso, a empresa diz que conta com outra unidade que fica na cidade de São Paulo. O site indicado pela empresa, no entanto, não funciona e a localização exata do escritório também não foi identificado por ter endereço incompleto.

A reportagem da Folha, por sua vez, ainda revela que situação de comprar remédios sem registro no Brasil cria crise entre o governo e a indústria nacional. Além da indústria ser prejudicada ao disputar os contratos com importadoras que não tiveram de submeter o produto ao crivo da agência sanitária há, também, a preocupação coma qualidade destes produtos.

O presidente-executivo do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos), Nelson Mussolini, disse, na matéria, que o processo de registro e o compromisso de monitorar o produto no mercado podem elevar o preço das vendas.

“Tanto no caso da imunoglobulina como no da insulina temos produtores no Brasil […] Entendemos que, para o fortalecimento do complexo industrial da Saúde, as regras regulatórias da Anvisa devem ser seguidas. Importar produtos sem registro põe em risco a população brasileira”, afirmou Mussolini.

Restante do dinheiro dos medicamentos

A outra parcela da imunoglobulina, no valor de R$ 87,63 milhões, deve ser entregue pela Prime Pharma LLC, representada no Brasil pela empresa Farma Medical, de Manaus, Amazonas. Vale lembrar que este remédio é usado, por exemplo, no tratamento de pessoas com o vírus do HIV e imunodeficiências. Desde 2018 o governo acumula compras frustradas e disputas na Justiça e no TCU pelo produto.

Além da imunoglobulina, há, ainda, a compra das canetas de insulina análoga de ação rápida – para diabéticos – que custou R$ 18,8 milhões. Para as canetas, a escolhida foi a Globalx , que disse que a fabricante do medicamento usado para controlar o diabetes é a empresa, também chinesa, Gan&Lee. A mesma farmacêutica tem outro tipo de insulina registrada no Brasil, a glargina, além de fábrica certificada pela Anvisa.

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