Os motoristas do Eixo Anhanguera realizam, nesta sexta-feira (9), uma paralisação em manifestação por reivindicação de vacina contra a Covid-19 para a categoria. Em entrevista ao Diário de Goiás, um motorista que preferiu não ter o nome identificado, relatou momentos vividos atualmente com relação à pandemia, ao número de contaminados no sistema e até mesmo à perda de benefícios que antes eram garantidos aos profissionais.
“O cenário, hoje, é um cenário de horror com relação a essa pandemia. O motorista trabalha dentro de um ônibus, onde ele divide um espaço, que já é pequeno, de trabalho dele, com em torno, por dia de trabalho, em média cada motorista transporta em torno de mil pessoas. Essas mil pessoas, é cada uma vindo de um lugar diferente. O motorista trabalha oito horas ali dentro e ninguém fala dele. Fala do cliente, mas não fala do motorista que tá ali dentro”, alerta o motorista que pede atenção para os trabalhadores do transporte. Ele explana a realidade do que vivem no cotidiano.
A situação se agrava em períodos chuvosos. “E ele fica ali oito horas por dia, dentro daquele ônibus. Isso quando não se fala da chuva. Quando vem a chuva e as pessoas fecham o vidro, aquilo causa um desespero na gente. E aí a gente vê todo mundo passando na frente, tem gente sendo vacinado, pessoas que não têm nenhum tipo de contato igual o que nós temos e sem falar das perdas que nós temos sofrido”, salienta. “Nós estamos trabalhando há um ano de pandemia, nós estamos trabalhando sem parar. Mesmo com esses problemas, nós estamos trabalhando sem parar”, destaca.
Para acentuar o cenário de piora, o motorista diz que os motoristas convivem com cortes de benefícios em meio à crise de forma irregular. “E o que acontece, a empresa ainda vem ainda suprimindo os benefícios nossos. Tem benefícios nossos que estão sendo retirados ilegalmente. O nosso anuênio foi negociado e foi 3% que eles retiraram, agora, esse mês, com a suspensão da data base, retiraram 3% que eram fixos e nominal. Era um anuênio que não podia ser mexido. Essa foi a nossa negociação do ano passado e a empresa veio e suprimiu o benefício. Além do risco que nós estamos correndo, ainda vem suprimindo benefícios. Toda negociação, nós perdemos alguma coisa. Sempre estamos perdendo alguma coisa. Aí chega o limite”, desabafa.
A realidade hoje no transporte coletivo é de desespero. Apenas na estatal foram quatro mortes. Há trabalhadores intubados. “Nós estamos com sessenta e poucas mortes, no sistema inteiro. Só na Metrobus tem quatro mortes, nós temos dois colegas nossos que estão intubado. E no transporte metropolitano, nós temos quase 300 pessoas contaminadas, 300 motoristas contaminados. Então, assim, nós somos só 3.500 funcionários no transporte coletivo. Essa proporção, a polícia possui parece que 20 mil soldados efetivos. Em proporção, nós estamos morrendo muito mais gente nossa, do que deles, se colocar em proporção. Porque o efetivo novo é 3.500 pessoas. Nós temos em torno de 68 mortes e isso aí não é nem divulgado”, disse o profissional.
O motorista afirmou, ainda, que a adesão da Metrobus no ato de paralisação é total, que a manifestação segue pacífica e que a categoria deseja uma resposta e o reconhecimento da necessidade de proteção aos profissionais, por parte de um representante do governo e da empresa.
“Nós queremos que o governo exponha qual é a nossa colocação na preferência, porque nós estamos trabalhando sob pressão e medo da doença. Nós temos um efetivo de 40% do vacinados, porém eram pessoas que nem eram para estar aqui no volante. Pelo que a gente entende da lei, nem era para estar trabalhando, mas estão trabalhando, pessoas de efetivo nosso, aqui, são pessoas que já são idosos. Apesar de os idosos estarem sendo 60, 67 anos. Só que a gente tem, uma grande parte do efetivo, são pessoas que ainda não chegou neles. O que a gente quer é que ele olhe pra situação nossa e veja qual a nossa colocação, entre a preferência da vacina. Não tem vacina para todo mundo, mas tem muita gente que não tem o mesmo risco que nós temos”, ponderou.
Metrobus tem dialogado para normalização do serviço
Por meio de nota, a Metrobus afirma que está acompanhando e em diálogo com os trabalhadores para que a operação seja normalizada “o mais rápido possível”. A estatal pontuou que recebeu na semana passada uma “comissão formada pelos motoristas” e tentou elucidar as medidas possíveis que estão sendo tomadas. “A Metrobus informa que desde o início da pandemia vem tomando todas medidas para conter o avanço da Covid-19 entre os seus colaboradores, como o fornecimento de máscaras, aferição de temperatura e higienização constante dos ônibus e dos ambientes de trabalho”, destacou.
A nota também salienta que o governador tem buscado uma solução para a demanda dos motoristas. “A Metrobus reforça que o governador Ronaldo Caiado já mencionou a inclusão dos trabalhadores do transporte coletivo nas próximas etapas da vacinação contra a Covid-19”, concluiu.
O que a Saúde diz
Apesar de estar inserido dentro dos diversos grupos prioritários para a vacina contra a Covid-19, os trabalhadores do transporte coletivo ainda não veem uma previsão de data por parte do Governo Estadual ou municipal. “De acordo com o Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde, os trabalhadores do transporte coletivo rodoviário de passageiros integram a lista de grupos prioritários para a vacinação, mas ainda não foram contemplados para receberem as doses da vacina nesta etapa que está em andamento. Dessa forma, com o recebimento de mais imunizantes, o Estado de Goiás avançará, gradativamente, na imunização dos públicos definidos pelo governo federal”, pontuou a Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO) ao Diário de Goiás.
A pasta pontua que os motoristas deverão ser priorizados em próximas etapas, no entanto, não há como estimar quando ela se iniciará. “Este público deverá ser priorizado nas próximas etapas da vacinação contra a Covid-19. No entanto, ainda não é possível prever uma data, visto que para isso é necessária a chegada de mais doses da vacina”, destaca.
(Colaborou: Domingos Ketelbey)
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