Investigação da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) indica que a mãe e o irmão da ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, que morreu na terça-feira (28), lideravam uma seita religiosa, denominada Pai, Mãe, Vida. Segundo o inquérito, Ademar Cardoso, irmão de Djidja, era o líder da seita e acreditava ser Jesus, enquanto a mãe, Cleusimar, seria Maria. Djidja Cardoso seria Maria Madalena.
Os detalhes sobre o caso foram revelados em entrevista com o delegado Cícero Túlio, responsável pela investigação, no começo da tarde desta sexta-feira (31), conforme apurou o jornal Correio Braziliense.
Segundo o policial, quatro integrantes da seita, presos em operação realizada na quinta (30) eram responsáveis por fornecer e distribuir substâncias com fins alucinógenos, como a ketamina, além de incentivar e promover o uso da droga de forma recreativa. Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão.
Djidja Cardoso foi encontrada morta na cama na manhã de terça-feira. Uma das suspeitas é de overdose pelas drogas veterinárias.
Investigação de seita no Amazonas apura se animais também eram dopados
Além das prisões, os animais que estavam sob os cuidados de Djidja e da família dela foram apreendidos por suspeita de serem drogados. A ex-sinhazinha tinha duas cobras de estimação.
Conforme a polícia, a seita usava como base o livro Cartas para Cristo. Eles acreditavam que o uso das drogas com meditação “faria o ser humano adquirir o autoconhecimento”. Os envolvidos já estavam sendo investigados devido a denúncias por parte de funcionários do Belle Femme, rede de salões da família.
Parentes de Djidja acusam a própria mãe e o irmão de negarem atendimento médico à ex-sinhazinha. Os dois são apontados pelos familiares como possíveis responsáveis por fornecer drogas para ela.
Segundo a CNN Brasil, em depoimento à polícia, uma ex-namorada de Ademar Cardoso relatou já ter utilizado ketamina e potenay junto com ele e com a mãe dele, Cleusemar Cardoso. Ambos são medicamentos veterinários poderosos. Ela relatou que, em algumas ocasiões, chegou a ser abusada sexualmente por Ademar durante o uso das drogas.
Em outro depoimento, a atual namorada de Ademar disse aos policiais que também fez utilização dos medicamentos. Segundo este depoimento, era uma exigência de Cleusemar, mãe de Ademar e Djidja, para que aceitasse a frequência dessa atual namorada em sua residência. Era uma forma de “purificação”.
Operação Mandrágora
As investigações sobre a seita no Amazonas começaram há aproximadamente 40 dias. Na ocasião foi identificado que o grupo adquiria ketamina em clínicas veterinárias e realizava a distribuição do fármaco entre funcionários da rede de salões de beleza. A droga é um anestésico poderoso, geralmente indicado para cavalos, capaz de causar alucinações.
Nesta sexta, os investigadores realizaram a Operação Mandrágora no salão de beleza Belle Femme, localizado no bairro Vieira Alves, apreendendo dezenas de anestésicos para cavalo e tranquilizantes.
Segundo o CB, também houve busca e apreensão na clínica MaxVet, localizada no bairro da Redenção, na zona centro-oeste de Manaus. O estabelecimento veterinário é acusado de vender a substância ketamina, suspeita de provocar a morte de Djidja Cardoso.
Estupro e aborto
Ao investigar a seita, a polícia também confirmou que Ademar, que acreditava ser Jesus, é acusado dos crimes de estupro e aborto sem consentimento da gestante.
A organização é investigada pelos crimes de: tráfico de drogas, associação para o tráfico, perigo para saúde ou para a vida de outrem; falsificação, corrupção e adulteração de produtos destinados para fins terapêuticos e medicinais; aborto provocado sem consentimento da gestante; estupro de vulnerável; charlatanismo; curandeirismo; sequestro; cárcere privado e constrangimento ilegal.
Na quinta-feira (30) foram presos cinco integrantes da seita: o irmão e a mãe de Djidja e três funcionários da rede de salões, sendo um gerente, um cabeleireiro e uma maquiadora.
Despedida do Boi Garantido
O Boi Garantido é um dos dois bois folclóricos que competem anualmente no Festival Folclórico de Parintins. A empresária interpretava Sinhazinha da Fazenda, personagem filha do dono da propriedade, que representa parte da história do espetáculo do boi. Djidja interpretou o papel de 2015 a 2020, quando foi atuar no salão com a família.
“As cores hoje já não brilham tanto, a sombrinha já não gira mais no ar, os sorrisos momentaneamente tornam-se em lágrimas, a galera vermelha e branca chora com sua repentina partida”, escreveu o Boi Garantido no Instagram. “Agora é hora de descansar, hora daquele adeus. Que Nossa Senhora do Carmo te receba e console o coração de sua mãe, Cleusimar Cardoso da Silva e de seus familiares, amigos e torcedores encarnados do Boi do Povão.”