Morreu na tarde de sexta-feira (26) o psicólogo, escritor e ativista da causa LGBT João W. Nery, conhecido por ser o primeiro trans homem a submeter-se a uma cirurgia de readequação sexual no Brasil, em 1977, em plena ditadura militar.
Nery, 68, estava internado no Complexo Hospitalar de Niterói, no Rio de Janeiro, e lutava contra um câncer.
No dia 8 de setembro, informou por meio do Facebook que o câncer havia chegado ao cérebro. “Por isso quero prepará-los. Continuem a luta por nossos direitos, se unam, não oprimam os nossos irmãos”, escreveu.
Ele ainda agradeceu aos que torciam por sua saúde e disse que era responsável por seu destino. Em outra postagem, Nery contou que o câncer começou nos pulmões, por causa do tabagismo. “Não tem nada a ver com os hormônios”, esclareceu.
O escritor era um símbolo da luta pelos direitos das pessoas trans no Brasil. Leva o nome dele um projeto de lei que tramita no Congresso desde 2013 sobre identidade de gênero, para garantir o direito de retificar os registros civis. Além de lutar por direitos, ele costumava conversar e orientar as pessoas que o procuravam pelas redes sociais, email, telefone ou pessoalmente.
João W. Nery nasceu Joana, mas aos 27 anos, por meio de um procedimento cirúrgico clandestino realizado em 1977, plena ditadura, tornou-se uma das primeiras pessoas do país a adequarem seu corpo à sua verdadeira identidade. Nery conta sua experiência na autobiografia “Viagem Solitária: Memórias de um Transexual 30 anos Depois”. Também escreveu “Vidas Trans” e “Velhice Transviada”, este ainda não lançado.
O Instituto Brasileiro de Transmasculinidades publicou nota lamentando a morte. “A nós, fica o compromisso e a responsabilidade de não deixarmos que as lembranças se percam e que mantenhamos João vivo em nós e nas nossas histórias”, cita o texto.
Pelo Twitter, a cartunista Laerte também prestou uma homenagem a Nery, a quem chamou de herói. “Ousou ser o homem lutador que quis ser, e iluminou nosso planeta com sua masculinidade serena e afetuosa. Não será esquecido. Nem hoje, nesse tempo de machices fanfarronas, nem nunca.” (Folhapress)
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