08 de agosto de 2024
Destaque • atualizado em 24/04/2020 às 15:17

Moro anuncia que deixa o governo após interferência de Bolsonaro

Moro fez pronunciamento nesta sexta. (Foto: Reprodução)
Moro fez pronunciamento nesta sexta. (Foto: Reprodução)

Sergio Moro anunciou no fim da manhã desta sexta-feira (24) que deixa o cargo de ministro de Justiça e Segurança Pública. A decisão se deu após o presidente Jair Bolsonaro interferir na Polícia Federal (PF) e demitir o diretor-geral Maurício Valeixo.

Em pronunciamento na sede do ministério, o ex-juiz destacou que aceitou o convite de Bolsonaro após a eleição de 2018 para aprofundar o combate à corrupção. Dentro disso, conforme Moro, estaria a garantia de autonomia de instituições de controle como a PF. “Fui juiz por 22 anos, com muitos casos criminais relevantes e sempre temi por intervenções do Executivo”, disse.

O agora ex-ministro confirmou que lhe foi prometida carta branca para tocar a gestão do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Porém, Bolsonaro insistiu em trocas de superintendentes regionais e do diretor. Segundo Moro, ele disse ao presidente que essas substituições seriam uma interferência política. Bolsonaro teria respondido: “seria mesmo”, revelou Moro. Disse ainda que o presidente queria alguém de sua confiança.

“O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência, seja diretor, seja superintendente. E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação”, declarou.

O ex-juiz da Lava Jato disse que chegou a concordar com a troca na direção-geral, desde que ela fosse feita de forma técnica, sem interferência política. “O grande problema não é quem entra, mas por que entra”. Ele ainda afirmou que não assinou o decreto de exoneração de Valeixo. “A exoneração foi feita de madrugada. Não assinei esse decreto”.

Repercussão

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse que Bolsonaro quer aparelhar a Polícia Federal e “utilizá-la de forma política, tal como os ditadores”. O senador Jorge Kajuru disse que Moro colocou o presidente em uma saia justa e se preocupa em como se dará o combate à corrupção no país.

Em uma live, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luis Roberto Barroso, disse que Moro é símbolo da Lava Jato, que representou “a luta contra a corrupção em uma sociedade que deixou de aceitar o inaceitável”. Ele vê “um certo arrefecimento desse esforço de transformação do Brasil”.

Entidades policiais e de juristas lamentaram o pedido de demissão do ministro e disseram ser “preocupantes” as acusações de Moro de interferência política na Polícia Federal.

O governador Ronaldo Caiado também se pronunciou. “O @SF_Moro tem uma vida de grandes serviços prestados ao País na moralização e no combate à corrupção. Lamentável que essa situação tenha chegado a esse ponto”. Wilson Witzel e João Doria também lamentaram a saída do ministro.

Parlamentares da oposição, como Alessandro Molon (PSB-RJ), também disseram ser “grave” as denúncias feitas pelo ministro. “Ele nunca quis acabar com a corrupção. Bolsonaro só trabalha em prol da família dele e da reeleição, criando crise atrás de crise. E o Brasil? Continua sem governo”, afirmou Molon.


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