O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello afirmou nesta sexta-feira (23) que está sendo crucificado por ser visto como o responsável pelo adiamento da análise do habeas corpus preventivo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O julgamento foi paralisado, entre outros motivos, porque Mello tinha um embarque marcado para as 19h40 de quinta (22) para participar, nesta sexta, de um evento da Academia Brasileira de Direito do Trabalho –que, equivocadamente, chamou de associação durante a sessão do STF. Ele assumiu a presidência do conselho consultivo da entidade.
A maioria dos ministros defendeu que uma eventual prisão do petista deveria aguardar novo encontro dos magistrados, marcado para o dia 4 de abril, em que o caso voltaria a ser analisado.
“Hoje estou sendo crucificado. Estou sendo crucificado como culpado pelo adiamento do julgamento do habeas corpus do presidente Lula porque sou um cumpridor de compromissos. Honro os compromissos assumidos”, disse ele, durante o 15º Colóquio da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, realizado na OAB-RJ.
Em sua fala, ele se queixou do atraso do início da sessão de julgamento do STF e deu a entender que a análise do habeas corpus poderia ter ocorrido sem a sua presença.
“Depois de, para confirmar uma constância, começarmos a sessão com um certo atraso –e sou um inconformado quanto a isso–, chegamos às 18 horas. […] O embarque seria às 19h40 e não poderia permanecer no colegiado. Para o colegiado funcionar, bastaria a presença de seis integrantes, não da totalidade dos componentes do Supremo Tribunal Federal”, disse ele aos presentes ao colóquio.
Mello disse que, em razão do adiamento, passou a ser alvo de patrulhamento das redes sociais. O assédio, disse ele, já havia feito com que ele cancelasse anteriormente dois endereços de emails que tinha.
“E aí surge um aspecto interessantíssimo. Hoje com as redes sociais o patrulhamento é muito grande. Isso tende a conduzir aqueles que não têm uma base maior, não têm couraça, à adoção de uma postura hipócrita, a postura politicamente correta”, disse o ministro.
“Estamos vivendo uma época psicodélica, com um patrulhamento sem dó”, declarou Mello.
(FOLHA PRESS)
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