02 de setembro de 2024
Entretenimento

‘Minha mãe se ajoelhou e pediu para não mudar de sexo’, diz Nany People, que estreia em novela

Nani People vive desafio de fazer novela na Globo com personagem Marcos Paulo (Foto eproducao Instagram Nani People)
Nani People vive desafio de fazer novela na Globo com personagem Marcos Paulo (Foto eproducao Instagram Nani People)

Valentina (Lilia Cabral) se surpreendeu com o novo visual do químico Marcos Paulo, no capítulo de “O Sétimo Guardião” de sexta-feira (21). O personagem, interpretado por Nany People, apareceu todo transformado para a perua após se submeter a uma cirurgia de mudança de sexo.
“Ele não fez só mudança de sexo, ele fez uma lipoescultura. A Valentina estava esperando chegar o Sinhôzinho Malta e chega a viúva Porcina”, brinca Nany, que faz sua estreia em novela aos 53 anos.
“Nunca é tarde para nada, veio na hora certa, fiz uma carreira consistente, feliz no teatro e foi graças a isso que acabei chegando até aqui”, vibra.
Na vida real, Nany teve noção exata da sua sexualidade aos 20 anos. “Quando me descobri transexual, não sabia nem que o nome era esse. Com 10 anos, fui jogada no psiquiatra porque eu tinha disfunção social. Eu não me encaixava porque queria ter o comportamento das meninas, mas era cobrada para ter o dos meninos”, conta.
“Quando cheguei em São Paulo aos 20, descobri que o nome era esse, que era transexual, que não tinha mecanismos de comportamento que um gay tradicional teria, era muito romântica, era virgem, então a coisa era lenta comigo. Duas coisas demorei na vida: a dirigir e a dar, quando comecei também, foi ladeira abaixo [risos]”, brinca.
A atriz optou por não se submeter a cirurgia de mudança de sexo na juventude, atendendo um pedido da mãe e não se arrepende.
“Quando fui levada ao Hospital das Clínicas, descobri que era transexual, fiz tratamento três anos e meio, quando foi marcada minha cirurgia, minha mãe se ajoelhou no chão e disse: ‘Não faça isso’. Achei que pra mim não era viável, e a vida me mostrou que não era necessário”, conta.
“Se coloca na cirurgia um resultado, uma expectativa de uma satisfação que não é real. Às vezes, a espera é melhor do que a realização em si. A vida foi me mostrando que não tinha tanta importância assim”, completa.
Certa vez, ela perguntou a um ex-namorado, que foi o grande amor da sua vida, se ele achava que os dois estariam juntos se ela tivesse optado por fazer a cirurgia.
“Ele disse que não tinha nada a ver, falou: ‘O que me prende a você é a tua energia, não é o objeto de desejo em si’, e isso minha mãe me falou. Ela falou assim: ‘Se vagina prendesse homem, seu pai não teria me traído com uma empregada analfabeta’, o que para ela era um grande sopapo.”
“Tomei muita água para dormir de fome. Cheguei em São Paulo com um colchão de espuma e um sonho na cabeça. Com 13 anos fui trabalhar pra embalar condimento e já dava dinheiro em casa. Em São Paulo fui bilheteira de teatro, fui camareira da dona Nicette Bruno no teatro, garçonete no café Piu-Piu, maquiadora, fui passadeira. Chegava a passar 60 camisas no fim de semana”, conta a atriz, nascida em Machado (MG).
TIRANDO O PÉ DO ACELERADOR
Nany disse que foi muito bem recebida pelo elenco de “O Sétimo Guardião”.
“O Marcos Paulo chega em Serro Azul de helicóptero. O primeiro núcleo que gravei foi com Tony Ramos que foi um lorde, um pai pra mim, maravilhoso, deu dicas de como aprender a contracenar com a câmera. Eles tiveram uma paciência de Jó”, conta.
A atriz explica o motivo de o personagem não mudar de nome após a mudança de sexo.  “O Marcos Paulo é uma transgressora. Ele é um químico, que respeita muito a origem da palavra. Por isso, ele bate o pé no nome. Não importa a versão que ele tenha, ele será sempre o Marcos Paulo.”
Uma preocupação dela em sua estreia na novela é não exagerar no tom da personagem.
“Fui gravar a chegada na casa da Valentina e de cara já tinha um jantar. Cada prato muda a atmosfera do jantar. Quando acabou agradeci a todos eles pela paciência, meu medo é ser muito teatral, ficar muito acima, tem que tirar o pé do acelerador, diminuir maquiagem.”
A orientação da produção foi usar menos maquiagem, cílios postiços mais discretos, o que ela não está acostumada.
“Sou muito intensa, o bofe fala ‘oi’, eu já estou beijando na boca, porque a vida não aceita segunda chamada. Você levanta e não sabe como vai terminar o dia”, analisa. (MARCELA RIBEIRO, RIO DE JANEIRO, RJ, UOL/FOLHAPRESS)


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