24 de novembro de 2024
Brasil

Mineração causou três vazamentos por ano no mundo desde 2009

(Foto: Folhapress)
(Foto: Folhapress)

Os vazamentos provocados pela Vale e pela Samarco nos últimos três anos derramaram, juntos, impressionantes 44 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração no estado de Minas Gerais. Foram dois dos maiores incidentes do gênero em todo o mundo. No entanto, estão longe de serem os únicos.
Desde 2009, a mineração provocou 29 vazamentos em diferentes países, uma média de três incidentes por ano.
Eles deixaram um rastro de, no mínimo, 93,77 milhões de m³ de rejeitos e substâncias tóxicas, segundo levantamento da Wise Uranium Project, entidade sem fins lucrativos contra a exploração de urânio.
O volume tende a ser maior, já que não há informações sobre diversos incidentes. “Há uma dificuldade de transparência, a depender do governo local onde o vazamento ocorreu, e não há nenhuma regra internacional que exija a prestação de informações em casos deste tipo”, diz Peer de Rijk, diretor da organização.
Desde 2009, há registro de vazamentos em países como: México, Austrália, Peru, China, Estados Unidos, Mianmar, Canadá, Rússia, entre outros.
Além dos desastres da Samarco e da Vale, um dos maiores do gênero ocorreu nas Filipinas, em 2012, com 20,6 milhões de m³ de rejeitos da mina de Padcal despejados no rio Agno, no norte do país.
À época, dirigentes da mineradora Philex Mining Corp, responsável pela mina, alegaram que o vazamento foi resultado de chuvas fortes.
Outro caso foi o vazamento na mina de Mount Polley, no Canadá, em 2014, da mineradora Imperial Metals Corp. Uma barragem colapsou e provocou o vazamento de milhões de metros cúbicos de rejeitos tóxicos de cobre e ouro em lagos e florestas da região.
A investigação concluiu que o rompimento resultou de falha na fundação da estrutura, e que o projeto não considerava corretamente a complexidade geológica do terreno.
O incidente provocou uma mudança drástica na fiscalização às mineradoras no país.
Na Associação de Mineração do Canadá -do qual a Vale faz parte, já que tem operação no país-, as companhias são obrigadas a produzir relatórios anuais sobre a segurança no armazenamento de seus rejeitos, com base em cinco indicadores. Além disso, a cada três anos, uma auditoria externa avalia se o acompanhamento está adequado. O Canadá é considerado o país mais avançado em segurança de barragens por especialistas. Outra organização que dá diretrizes de segurança ao setor é o Comitê Internacional de Grandes Barragens.
As duas entidades são mencionadas pela Vale em seu relatório de sustentabilidade de 2017 (o mais recente divulgado) como referências de segurança de suas barragens.
Procurado, o órgão não comentou sobre o caso específico da Vale, mas disse que as empresas de mineração nunca aparecem nas reuniões internacionais do comitê.
“Eles não participam e, em geral, não usam engenheiros especializados em barragens na construção dos empreendimentos”, afirma o órgão.
Para Joaquim Pimenta, especialista em barragens de rejeitos do Comitê Brasileiro de Barragens, isso não se aplica ao Brasil. “A Vale frequenta nossas reuniões e tem uma equipe imensa e capacitada.”
No caso brasileiro, o problema não está nas diretrizes ou mesmo na legislação sobre a segurança das barragens, e sim na aplicação dessas regras, diz ele. “Todo ano que cai uma barragem, aparece uma lei. Mas não é de lei que precisamos, e sim de pessoas disciplinadas para seguir os procedimentos. Se na hora de construir, projetar, operar, o pessoal não aplicar, o acidente ocorre”, afirma Pimenta.
“Nem sempre as empresas formam equipes bem treinadas ou têm uma auditoria interna para saber se estão seguindo os procedimentos.”
No caso de Brumadinho, ele diz que ainda é cedo para avaliar se este foi o caso.

1º SGORIGRAD, BULGÁRIA
Maio de 1966
488 pessoas morreram em desastre envolvendo barragem de mina de zinco, cobre e chumbo

2º STAVA, ITÁLIA
Julho de 1985
Rompimento de barragem de mina de fluorita matou 268 pessoas

3º TAOSHI, CHINA
Setembro de 2008
Barragem de mina de ferro transbordou durante fortes chuvas, matando ao menos 254 pessoas |1|

4º EL COBRE, CHILE
Março de 1968
Forte terremoto provocou o rompimento de barragem de mina de cobre. Estima-se que morreram entre 200 e 350 pessoas

5º ABERFAN, PAÍS DE GALES
Outubro de 1966
144 pessoas morreram após rompimento de barragem de mina de carvão

6º BUFFALO CREEK, EUA
Fevereiro de 1972
Barragem de mina de carvão se rompeu após forte chuva, matando 125 |2|

7º BRUMADINHO, BRASIL
Janeiro de 2019
Rompimento de barragem matou ao menos 115 pessoas. Há ainda 248 desaparecidos; resgate continua

8º HPKANT, MIANMAR
Novembro de 2015
Rompimento de barragem de mina de jade matou ao menos 113 pessoas
(TAÍS HIRATA, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) 


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