22 de dezembro de 2024
Brasil

Militares defendem mais moderação a campanhas na reta final da eleição

Urna eletrônica. (Foto: Divulgação/Educa Mais)
Urna eletrônica. (Foto: Divulgação/Educa Mais)

IGOR GIELOW – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A entrada de elementos militares na discussão entre as campanhas de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) levou a cúpula da área de Defesa no país a fazer chegar às candidaturas um pedido por moderação na reta final da disputa.

Como Bolsonaro é o favorito para vencer o segundo turno, no domingo (28), as atenções estão mais concentradas no capitão reformado do Exército. Mas o PT, que procurou militares para conversar, também ouviu alertas.

Do lado do PSL, a preocupação maior foi com o vídeo no qual um dos filhos de Bolsonaro, o deputado reeleito Eduardo, diz que é fácil fechar o Supremo Tribunal Federal com “um soldado e um cabo” em caso de contestação judicial da vitória de seu pai.

Ainda que considerem que Eduardo falava em tom de blague, a menção à força militar contra o Judiciário por parte do filho mais midiático de Bolsonaro contrariou oficiais, segundo alguns deles.

Os militares contam com o general da reserva Augusto Heleno, anunciado ministro da Defesa caso Bolsonaro seja eleito, para exercer o papel de moderador desses impulsos.

Heleno, um general de quatro estrelas (topo da hierarquia), deixou o serviço ativo em 2011. Em 2017, começou a atuar na pré-campanha de Bolsonaro, a quem já conhecia, e quase foi seu vice.

A preocupação não é tanto com o Bolsonaro candidato, persona a qual oficiais generais costumam atribuir seus arroubos mais agressivos.

Mas sim com o eventual Bolsonaro presidente, cuja palavra poderá ser levada ao pé da letra por estratos sob o guarda-chuva do Estado.

É o proverbial guarda da esquina, que se excede empolgado pelo que crê ser uma carta branca vinda de cima, como teria dito o vice-presidente Pedro Aleixo quando debatia o AI-5, ato que endureceu a ditadura há 50 anos.

Nesse sentido, a fala de Bolsonaro no domingo (21), prometendo “varrer inimigos vermelhos”, prender Haddad e criticar a Folha de S.Paulo por suas reportagens sobre o papel do WhatsApp na campanha caiu muito mal na cúpula.

Bolsonaro, fiel a seu estilo à la Donald Trump de bater e depois recuar, até tentou minimizar o que falou, exceto no caso do jornal.

Mas a cúpula espera uma declaração firme, mesmo que depois do resultado do pleito, para amainar ânimos.

Há também uma preocupação com atos violentos após a eleição, como o Painel mostrou nesta quarta (24).

Do lado petista, o desconforto veio pela acusação feita por Haddad na terça (23) de que o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), vice na chapa de Bolsonaro, teria sido um torturador.

O petista repetiu o que dissera o cantor Geraldo Azevedo, preso pela ditadura em 1969, durante uma apresentação. A questão é que Mourão tinha 16 anos na época e estava no colégio militar.

Mourão, general de quatro estrelas, era integrante do Alto Comando do Exército, centro de gravidade militar do país, até o fim de fevereiro.

Se não é unanimidade, é respeitado e influente. Faz parte de uma geração que cresceu no oficialato pós-1985, e considera ter tido de absorver os maiores ônus da transição da ditadura para a democracia.

Um petista procurou militares para tomar pulso da situação e ouviu queixa para transmitir a Haddad.

O petista até se desculpou pelo erro factual, mas voltou a criticar o fato de que Mourão e Bolsonaro declaram admiração aberta por Carlos Alberto Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-Codi, centro de torturas na ditadura.

Além de Heleno, o general da reserva Fernando Azevedo e Silva é outro esteio do arcabouço informal que se montou entre as instituições à medida que a candidatura de Bolsonaro passou a ser vista como uma realidade viável.

Ele deixou o Alto Comando e foi assessorar o novo presidente do Supremo, Dias Toffoli, movimento acusado como de tutela no meio jurídico.

Seus apoiadores creem que ele servirá como um facilitador na transmissão de informações, até para reduzir o potencial de crises quando verborrágicos bolsonaristas ocuparem lugares de destaque no novo Congresso.

Silva é um ano mais velho que Bolsonaro na academia de formação de oficiais, e ambos serviram juntos na Brigada de Infantaria Paraquedista.

É uma costura delicada. Como a Folha de S.Paulo descreveu nesta segunda (22), a cúpula da área teme que a natural identificação entre as Forças e um eventual governo que se propagandeia como militarizado possa causar danos institucionais. (Folhapress) 

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