07 de agosto de 2024
Brasil

Michel Temer: Trajetória até a prisão

A Força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro prendeu, na manhã desta quinta-feira (21/03) o ex-presidente da República, Michel Temer. O mandado foi expedido pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio.

Michel Temer foi o 37º presidente da República do Brasil. O segundo a assumir o mandato sem voto popular após a redemocratização da República. Assumiu no dia 31 de agosto de 2016, ainda quando o MDB tinha o P na sigla, após o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), ficando até o final do mandato, encerrado no ano passado.

Michel foi coordenador e articulador político da presidente, mas ambos se distanciaram logo no começo do segundo mandato de Dilma. Em dezembro de 2015, o vazamento de uma carta escrita por Michel Temer escancarou a crise e o abismo no relacionamento com a chefe de estado. Temer reclamava ser apenas um “vice-decorativo” e que perdeu seu “protagonismo político”. O então vice-presidente desabafou dizendo que só era chamado para resolver crises políticas e questões internas do seu partido.

Com o impedimento de Dilma instaurado, Temer assumiu interinamente a presidência em maio de 2016, aproximadamente 5 meses após o vazamento da carta em que reclamava do tratamento que recebia da então presidente da República. Com o fim do processo de impeachment, Temer então, viria a assumir definitivamente a presidência da República. Duas semanas antes, porém, um áudio contendo seu discurso de posse foi vazado (mais uma vez) levantando suspeitas de conspiração por parte do então vice-presidente.

Crises na Esplanada

Temer se tornou o presidente mais velho da história a tomar posse. A experiência possivelmente o ajudou a gerir diversas crises. Não teve um dia em seu governo que não tivesse de dar alguma explicação. A insatisfação foi tão grande que nos meses finais do seu mandato sua avaliação era a pior da história, com apenas 4% da população brasileira aprovando seu governo.

Quando iniciou o mandato, foi bastante criticado por não ter nomeado nenhum negro nem mulher para um ministério em seu governo, algo que não acontecia desde o regime militar, mas o primeiro grande episódio que escancarou a crise aconteceu em março de 2017, quando Temer foi gravado por Joesley Batista, no Palácio do Jaburu, em um encontro as escuras, não registrado em sua agenda oficial. Sem que soubesse que estava sendo gravado, as conversas indicavam que Temer estava comprando o silêncio de Eduardo Cunha (PMDB) seu antigo aliado e principal articulador do impeachment de Dilma Roussef. Cunha estava preso e ameaçava sacolejar Brasília com suas bombásticas revelações. “Tem que manter isso aí”, disse Temer a Joesley. Na conversa, o empresário também disse que estava “segurando” dois juízes e que tinha um procurador dentro da Operação Lava-Jato, para saber em primeira mão o rumo das investigações. No dia seguinte a revelação da gravação, Temer não titubeou e num discurso firme em pronunciamento a rede nacional, garantiu que estava sendo perseguido e acusou uma conspiração contra ele e sua equipe.

As crises não se limitavam apenas a ele. Ministros estavam envolvidos até a testa com escandalos. Romero Jucá, homem forte do seu partido, não passou de onze dias no cargo de Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão. Caiu após ter seu nome envolvido na Operação Lava-Jato e ter uma gravação comprometedora divulgada. Como prêmio, Temer entregou a liderança do partido no Senado Federal.

Michel Temer também teve um privilégio ingrato: foi o primeiro presidente da República a ser denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro enquanto estava no cargo. Duas vezes. Uma por receber dinheiro ilegal da Oderbrecht e outra por conta de um esquema que favorecia empresas com a edição de um decreto sobre o setor portuário, em Santos, litoral paulistano.

Mesmo com tantos indícios e provas, a Câmara dos Deputados, em agosto de 2017 recusou as denúncias que haviam contra o presidente e o livrou de um processo de impedimento, semelhante ao que sua antecessora passou. A justificativa da maioria dos parlamentares era que uma saída do presidente aquela altura teria efeitos prejudiciais a economia brasileira.

Ao longo do seu mandato, recheado de controvérsias, escândalos, ameaças conspiracionistas os gritos nas ruas de “Fora, Temer” aos poucos foram tomando um só coro. Setores da esquerda e da direita passaram a ter a mesma voz, no entanto, sem o mesmo efeito que tiveram as manifestações pró-impeachment que Dilma Rousseff sofreu.

Vida pregressa

Michel Temer era considerado um dos maiores advogados constitucionalistas do país. Foi diretor do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional e membro do Instituto Ibero-Americano de Direito Constitucional. Autor de quatro obras relacionadas a área jurídica e política, teve seu magnum opus em Elementos do Direito Constitucional. Foi Procurador-Geral do Estado de São Paulo e iniciou sua carreira na Câmara dos Deputados, em 1994 quando foi eleito deputado federal. Teve duas passagens como presidente da Câmara e de lá só saiu para ocupar o cargo de vice-presidente.

Sem o foro-privilegiado que tinha na vida pública, Temer, segundo a Coluna Radar da Veja, vinha tendo uma vida tranquila. Em 17 de fevereiro o colunista Maurício Lima teceu a seguinte nota: “Interlocutores que estiveram recentemente com o ex-presidente Michel Temer dizem que ele está mais alegre, disposto e… até mais bronzeado. “Depois do Joesley (Batista), o poder foi um peso para ele”, comentou um deles.”

No dia seguinte, debateu com Fernando Henrique, na BandNews o papel atual da presidência da República e outros assuntos políticos. Pouco mais de um mês após o encontro com FHC, Temer está preso, alvo da Operação Lava-Jato.


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