10 de agosto de 2024
Tecnologia

Meu amigo robô: popular, politiqueiro e mentiroso

Perfis falsos nas redes sociais influenciam debates políticos e fomentam negócios (Foto: Thaís Dutra/Diário de Goiás)
Perfis falsos nas redes sociais influenciam debates políticos e fomentam negócios (Foto: Thaís Dutra/Diário de Goiás)

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Postagens em intervalos regulares durante todo o dia, apoio incondicional a posições políticas polarizadas, aquisição de muitos seguidores em pouco tempo e republicação constante de outras contas notoriamente estranhas. Estes são comportamentos associados a robôs, que você pode estar seguindo ou sendo amigo sem saber.

O advogado especialista em Direito Digital, Rafael Maciel, explica que os robôs nada mais são que uma rede de perfis falsos geridos automaticamente por um computador. Ao comentarem e publicarem determinados conteúdos, esses perfis fazem uma informação atingir um grande número de pessoas.

Milhares desses robôs, segundo o estrategista digital Bruno Vilela, foram criados de forma automática por softwares com essa função. Outros são contas inativas que foram hackeadas e têm uma agenda alinhada com os interesses do grupo que os opera. Publicam conteúdo original, links para fake news, compartilham conteúdo de outros robôs e comentam as publicações que pretendem ecoar.

A motivação para essa prática ilegal pode ser tanto política – movida por grupos ideológico-partidários que apoiam um candidato – quanto financeira. Apesar da possibilidade de privilegiar um nome em detrimento de outro, não é possível garantir que o beneficiado tenha tido responsabilidade pelo crime.

 “O que mais acontece são pessoas que produzem informação falsa para conseguir mais visualização nos sites. Então, eles não estão nem aí se ‘fulano’ ou ‘sicrano’ vão vencer a eleição, eles querem que mais pessoas vão ao site dele”, expõe Rafael.

Identificação                                                                   

Questionado como esses perfis falsos podem ser identificados e rastreados, Bruno Vilela pontuou a necessidade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) criar um software para localizar contas suspeitas. No entanto, a única forma de se saber com certeza se um perfil é robô ou não é interagindo com ele.

“Ao longo do tempo, suas respostas demonstram comportamento estranho, sem nexo. Robôs ainda não conseguem manter uma conversa lógica com seres humanos por um período extenso. Eventualmente, a conversa evolui para além do escopo previsto pelos programadores e começa a se desmontar”, explicou Bruno.

Além disso, o estrategista defende a ação das redes sociais – as quais, segundo ele, são as mais competentes no combate aos robôs. No entanto, as megaempresas de comunicação como o Facebook ainda hesitam em intervir no comportamento dos usuários, a fim de não se responsabilizar por suas ações.

Uma possível responsabilização poderia acarretar processos judiciais e perdas financeiras, Bruno afirma. No entanto, ele tem esperança de que, com as pressões sociais recentes, o Facebook e outras redes sociais tomem uma atitude decisiva contra o problema.

Moda antiga

Rafael lembra que, apesar de o assunto ter ganhado maior repercussão a partir das eleições nos EUA, esse tipo de tecnologia existe há muitos anos. “O crime de uso de robôs não é novo. É desde 1997 ou até antes”, ele explica. Nas eleições de 2014 no Brasil, 10% dos debates políticos no Twitter foram movidos por robôs, de acordo com um estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

“O que é novo é o impulsionamento de conteúdo. Agora, proferir ofensa e criar conteúdo falso é crime há muitos anos”, afirma Rafael ao referir-se às Fake News. O impulsionamento, tipo de propaganda paga que aumenta a divulgação de uma postagem, pode agora fomentar o trabalho desses robôs.

Fake news

Apesar da relação entre eles, o advogado chama a atenção para a distinção entre fake news e robôs: robôs podem repercutir mensagens positivas verdadeiras, enquanto fake news podem ser compartilhadas por perfis verdadeiros. Aliás, estes últimos ainda são os maiores responsáveis por notícias falsas. São pessoas que não checam a fonte e vão repercutindo essa informação.

“Só que essas fake news também utilizam de redes informatizadas, de robôs”, afirma Rafael. Isso porque uma matéria com o objetivo de difamar determinada pessoa ou chamar a atenção pra um site, pode alcançar rapidamente muitas pessoas com uma rede de robôs.


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