Transcorridos quase quatro meses desde as eleições, a chanceler alemã, Angela Merkel, chegou a um pré-acordo para formar sua próxima coalizão.
O partido de Merkel, a conservadora CDU (União Democrata-Cristã), havia se reunido durante uma maratona noite adentro com sua sigla-irmã bávara CSU e com o rival SPD (Partido Social-Democrata), de Martin Schulz.
O avanço desta sexta-feira (12), no entanto, não significa que a Alemanha terá imediatamente um novo governo. O pré-acordo ainda precisa ser aprovado em uma conferência do SPD em 21 de janeiro, e as siglas terão de negociar a composição do Executivo e a sua plataforma política. Analistas esperam que o processo se prolongue possivelmente até abril.
Há alguma pressa, já que a Alemanha é a principal economia europeia e tem servido de referência para a política do bloco econômico, que enfrenta anos de crise -o Reino Unido decidiu deixar o grupo em 2019 (o chamado “brexit”) e diversos países na região, inclusive a Alemanha, têm registrado o crescimento de forças de extrema direita, críticas ao sistema.
Caso essas negociações fracassem, a Alemanha pode ser obrigada a voltar às urnas, com um alto custo político à chanceler, e com o risco de fortalecer a sigla de direita nacionalista AfD (Alternativa para a Alemanha). Outra alternativa seria a CDU formar um governo de minoria, uma solução vista como pouco estável ao longo prazo.
A CDU e a CSU conseguiram 246 assentos no pleito de 24 de setembro. O SPD teve 153, enquanto os direitistas da AfD chegaram a 94.
“Percebemos desde as eleições que o mundo não vai nos esperar”, Merkel disse após a longa noite de tratativas.
O presidente da Comissão Europeia (o braço Executivo do bloco), Jean-Claude Juncker, disse que o pré-acordo era “significativo, construtivo, positivo e alentador para a Alemanha e a UE”.
Merkel, há 12 anos no poder, vinha governando com o SPD no que é conhecido na Alemanha como “grande coalizão”. Após a eleição, no entanto, Schulz havia dito preferir voltar à oposição e se recuperar de seu pior resultado eleitoral em décadas.
Com isso, a CDU tentou formar uma aliança com os Verdes e o FDP (liberal), sem sucesso. Só então Merkel voltou para o seu antigo aliado.
As tratativas se alongaram porque os partidos discordavam em uma série de pontos fundamentais, como as políticas de migração, de ambiente e tributária. O SPD cedeu em pontos importantes.
Merkel obteve, por exemplo, sua meta de limitar o número de familiares que poderão se reunir com refugiados já abrigados na Alemanha. Serão mil por ano, segundo o documento de 28 páginas do pré-acordo -um ponto amargo para a base do SPD.
Os partidos também se comprometeram a limitar a entrada de migrantes em busca de asilo: serão entre 180 mil e 220 mil a cada ano.
Mesmos poderes
O período entre as eleições e a formação de um governo é previsto pela Constituição alemã. O texto esclarece que o gabinete anterior segue no comando sem prazo e mantendo todas as suas funções. Merkel continua sendo a chanceler, assim como segue válida a coalizão com que governava ao lado do SPD.
Essa situação levou a um constrangimento quando o ministro da Agricultura, Cristian Schmidt, aprovou uma decisão europeia para permitir o uso de um pesticida controverso. Ele não consultou o restante do gabinete, enfurecendo os membros do SPD e prejudicando as negociações. Apesar de seguir no comando durante o período de negociações, o governo de Merkel evita tomar decisões em temas políticos de peso, como aqueles que lidam com o futuro da União Europeia. Mas essa é apenas a prática comum no país, e não uma regra. (Folhapress)
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