Mais de quatro meses após as eleições, a chanceler alemã, Angela Merkel, chegou a um acordo para formar uma coalizão. A parceria será travada entre seu partido CDU (União Cristã-Democrata) e o rival SPD (Partido Social-Democrata). Participará ainda a CSU (União Cristã-Social), aliada de Merkel na Baviera.
O acordo foi noticiado pela imprensa local e em seguida a liderança do SPD confirmou os avanços em uma mensagem enviada a seus membros via Whatsapp: “Cansados, mas satisfeitos”. As negociações se arrastaram noite adentro, após uma maratona de conversas entre os representantes dos partidos.
O acordo -em que Merkel fez importantes concessões- é um importante passo rumo à formação de um governo na maior economia europeia, após uma espera considerada longa demais por outros dos líderes do continente. O presidente francês, Emmanuel Macron, afinal depende de Berlim para implementar as reformas que prometeu à União Europeia.
A última etapa para haver um novo governo na Alemanha deve ser a aprovação dessa parceria pelos mais de 460 mil membros do SPD, que votam por correio nas próximas semanas. Se receber o aval, o novo governo pode ser inaugurado até abril. No meio-tempo, o gabinete atual segue com plenos poderes, sem restrições.
CDU e SPD governam juntos desde 2013, mas a aliança incomodou parte do eleitor social-democrata, contribuindo a seu resultado historicamente ruim no pleito de 24 de setembro -seu pior desde a Segunda Guerra (1939-1945). O SPD teve 20,5% dos votos, contra os 32,9% da CDU. O partido ultranacionalista de direita AfD (Alternativa para a Alemanha) recebeu 12,6%.
Com um acordo entre CDU e SPD, a AfD será o principal partido da oposição, um cenário que preocupa parte do país. A ala jovem do SPD chegou a pedir o boicote da coalizão para garantir que os social-democratas fossem a maior sigla de oposição no Parlamento.
Cargos
O acordo entre CDU, CSU e SPD provavelmente significa que Merkel continuará no cargo de chanceler. Sua permanência era dada como certa até as eleições, mas as duras negociações danificaram a sua reputação. Ela governa a Alemanha há 12 anos.
O custo para o tratado pode ter sido alto: diversos dos cargos de alto escalão do governo devem ir para o rival SPD. O líder social-democrata, Martin Schulz, deve ser o próximo ministro das Relações Exteriores, por exemplo, e o partido acumulará também as pastas das Finanças e do Trabalho.
A CDU, por sua vez, manterá Defesa, Economia e a própria chancelaria, enquanto a CSU ficará com o Interior. ‘Foi um processo doloroso’, disse Merkel na terça-feira (6), sobre a dificuldade das negociações. Já Schulz afirmou que o acordo marca ‘uma mudança fundamental de direção na Europa’.
‘A CDU não gostaria de ter cedido tanto, e seguramente deu mais do que queria’, disse à Folha Patricia Hogwood, especialista em política europeia na Universidade de Westminster (Reino Unido). ‘Mas foi um risco calculado e é menor do que parece. Se olharmos para as políticas descritas no acordo, veremos que a CDU conseguiu impor a maior parte de suas preferências.’
Os partidos negociaram afinal, além dos ministérios, a plataforma política dos próximos anos. Eles concordaram em endurecer o controle à exportação de armas, por exemplo, excluindo os países compradores que participam da guerra no Iêmen, como a Arábia Saudita.
CDU e SPD também se comprometeram a limitar em 1.000 o número de refugiados entrando por mês na Alemanha para se reunir com familiares residindo ali. Esse foi um dos pontos duros das negociações, assim como a proibição de um pesticida considerado danoso à população de insetos na Europa -essa última medida era uma reivindicação dos social-democratas.
O acordo está descrito em um documento de 167 páginas e 14 capítulos, detalhando o programa para os próximos quatro anos. Um dos fios condutores da política acordada entre CDU, CSU e SPD é fortalecer a Europa, em uma parceria com a vizinha França.
O tom pró-Europa explica a aparente nomeação do social-democrata Schulz para ministro das Relações Exteriores, e há relação também com o fato de que a SPD acumulou a pasta das Finanças -uma posição fundamental nas negociações com os aliados europeus. (Folhapress)
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