TÁSSIA KASTNER
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O mercado financeiro começa a colocar em suas projeções -e no preço dos ativos- a possibilidade de Jair Bolsonaro (PSL) vencer a corrida presidencial ainda no primeiro turno. A euforia que tomou conta das mesas de operação se refletiu nos números nesta terça-feira (2).
A Bolsa disparou. Registrou alta de 3,80% -a maior alta diária desde novembro de 2016. O pregão foi a 81.612 pontos, no maior nível desde 22 de maio, no início da paralisação dos caminhoneiros.
A alta foi puxada pelas ações de estatais. Os papéis do Banco do Brasil subiram mais de 11,41% e impulsionaram papéis do setor bancário. As ações preferenciais da Petrobras avançaram 8,66%, enquanto as ordinárias ganharam 6,74%.
O mesmo efeito se viu no câmbio. O dólar recuou 2,09%, ficando abaixo de R$ 4 –fechou em R$ 3,9350, o menor patamar desde 17 de agosto. Ao longo do dia chegou a ser negociada a R$ 3,9060.
Apenas três divisas emergentes se valorizaram frente ao dólar nesta terça: o peso argentino, o real e o iene.
A reação no mercado financeiro brasileiro foi complemente descolada do exterior. Refletiu em particular o resultado da pesquisa Ibope, divulgada na segunda-feira (1º), após o fechamento do mercado.
O levantamento mostrou crescimento da vantagem de Jair Bolsonaro (PSL) sobre o segundo colocado, Fernando Haddad. Segundo o Ibope, Bolsonaro avançou para 31% das intenções de voto, enquanto o petista ficou estagnado em 21%. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Em um segundo turno, os dois voltaram a aparecer empatados com 42% das intenções de votos. Além disso, a rejeição a Haddad disparou. A pesquisa foi registrada no TSE sob o número BR-08650/2018.
“Muitos analistas esperavam que as intenções de voto de Bolsonaro fossem afetadas depois dos protestos contra o candidato no final de semana”, escreveu Tony Volpon, economista-chefe do banco UBS em relatório.
“A pesquisa surpreendeu porque Bolsonaro estava perdendo tração. Ele apanhou a semana inteira na imprensa, dos adversários e aí chega na pesquisa e abre 4 pontos, e Haddad fica estagnado”, diz Victor Candido, economista-chefe da corretora Guide.
O favoritismo de Bolsonaro foi reforçado no início da noite com a divulgação da pesquisa Datafolha. O capitão alcançou 32% das intenções de votos no primeiro turno. Haddad apareceu em segundo lugar, 21% das intenções de votos.
Entre os analistas brasileiros, já há quem trabalhe com a possibilidade de Bolsonaro sair vencedor ainda no primeiro turno.
O capitão reformado é considerado um candidato mais inclinado a promover as reformas que o mercado considera necessárias para a recuperação da economia.
A visão dos investidores locais contrasta com análises feitas por economistas estrangeiros, que não alimentam as mesmas certezas sobre o fôlego reformista de Bolsonaro.
Nesta segunda, a agência de classificação de risco Standard&Poor’s disse que Bolsonaro representava um risco maior à agenda econômica do mercado do que Haddad. Semanas antes, a revista The Economist, conhecida por seu viés liberal, também apontou riscos sobre uma eventual presidência de Bolsonaro.
“O mercado interno torceu nariz [para a Economist e a S&P]. A reação é de que esses caras não conhecem o Brasil”, afirma Candido.
“Não importa muito se ele [Bolsonaro] é ou não reformista, se ele se rendeu ou não ao liberalismo. É percebido com reformista -isso combinado à narrativa de que não há espaço para o PT”, diz Felipe Miranda, economista e estrategista-chefe da Empiricus.
Para Miranda, até então os preços dos ativos não embutiam nenhuma probabilidade de vitória no primeiro turno, o que também ajuda a explicar a queda do dólar e a disparada da Bolsa “Quanto é essa probabilidade? 5%? 10%? Preciso colocar essa probabilidade nos preços, ela existe”, diz.
O Ibope indica que Bolsonaro tem 38% dos votos válidos (descontados brancos e nulos), ante os 25% de Haddad. No Datafolha, a relação é 38% e 24% respectivamente. Para vencer no primeiro turno, um candidato precisa obter 50% mais um dos votos válidos.
“Uma vitória de Bolsonaro já no primeiro turno ainda exige que ele conquiste 70% dos votos depositados nos quatro candidatos ‘azuis’ (Alckmin, Alvaro, Amoedo e Meirelles) ou 55% dos votos deles somados aos de Marina Silva”, escreveu a XP em relatório.
Para os analistas, a permanência da euforia vai depender das próximas pesquisas.
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