O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto disse na tarde desta quarta-feira (24/11) que o setor financeiro está bastante interessado na concepção de uma vacina para imunização do novo coronavírus e que o olhar agora se dirige à um cronograma para vacinação. “A pandemia foi o que ditou a política macroeconômica de curto prazo”, pontuou.
Neto participava do 4º Painel de Cooperativismo Financeiro, promovido pelo cooperativa financeira, Sicoob Engecred. Ele destacou que o mercado agora deixa de olhar para o que os governos estão fazendo com relação à ajudas financeiras e pacotes fiscais e mira no cronograma da vacinação. “Minha leitura de mercado é que o mercado parou de se concentrar nas ajudas financeiras de países, pacotes fiscais e o mercado passou a se concentrar mais no cronograma de vacinação. Isso significa que os agentes de mercado que tem uma vacina a caminho e agora a preocupação é com o cronograma da vacinação e a logística do processo”, salientou.
Ele destaca que apesar da segunda onda da covid-19 ter vindo na maioria dos países europeus, ela foi menos letal que a primeira, o que de certa forma, também dá confiança ao mercado no processo de reabertura dos países. “Apesar da segunda onda ter sido maior, quando a gente olha o gráfico de óbitos, é bem menor. Apesar da segunda onda ser maior em casos, os óbitos caíram por várias razões: a contaminação na segunda onda é mais em jovens, os métodos de tratamento melhoraram, estão testando mais, então casos diários confirmados estão relacionados a teste.”
Neto também pontuou que a queda da indústria brasileira foi uma das menores no mundo. “Quando falamos de indústria mundial o Brasil foi um dos que menos caiu. É o que recuperou mais rápido de todos. A gente tem uma recuperação bastante forte. Em termos de PMI é um dos mais altos do mundo”.
Plano fiscal
No evento, o presidente do BC voltou a defender a necessidade de que o país retome as reformas estruturais após o fim da pandemia. Segundo ele, um plano fiscal precisa ser levado a cabo para conter a dívida pública, que cresceu durante o surto global de covid-19.
“O problema principal do Brasil agora é a dívida grande para administrar. Um ponto super importante, talvez ponto chave, é conquistar credibilidade com a continuação das reformas e com um plano que indique a clara percepção para investidores que país está preocupado com trajetória da dívida pública”, comentou.
Campos Neto lembrou que a curva de juros doméstica atualmente é uma das mais inclinadas do mundo, atribuindo o fato às incertezas em relação ao quadro fiscal. Apesar de a Selic (taxa de mais curto prazo) ter caído para o menor nível da história, as taxas dos títulos públicos de médio e de longo prazo aumentaram desde o início da pandemia por causa dos receios sobre a economia brasileira. Quanto maior a inclinação, maior a desconfiança dos investidores.
Na avaliação de Campos Neto, os agentes de mercado estão preocupados com o impacto de uma eventual extensão do auxílio emergencial sobre as contas públicas. Ele reiterou que hoje não há quase nenhum espaço para novos gastos do governo.
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