O rosto de Donald Trump brilha sobre a Times Square de minuto em minuto, mas não do jeito que o presidente gosta. Na praça mais famosa e movimentada de Nova York, telões fazem agora uma luminosíssima campanha a favor de seu impeachment.
Nos anúncios piscantes desde o início desta semana, tarjas vermelhas rasuram um retrato em preto e branco do republicano fazendo cara de mau, enquanto um contador mostra, em tempo real, quantos já aderiram a um abaixo-assinado pedindo a sua remoção da Casa Branca.
Quase 3 milhões de americanos endossam a campanha, cujo chamariz luminoso disputa espaço com outdoors de musicais da Broadway, de roupas criadas por Kourtney Kardashian (a irmã da Kim) e do filme “Meu Malvado Favorito 3”.
“É assustador cada vez que vejo a cara dele”, dizia Rose Aris, plantada diante do telão, indiferente à garoa gélida do outono. “Ele é destrutivo, precisa ir embora logo.”
Tom Steyer, o democrata bilionário por trás dos anúncios, acredita tanto nisso que gastou US$ 20 milhões, quase R$ 65 milhões, para comprar os espaços publicitários na Times Square até o Réveillon, o momento triunfal de sua campanha, quando 1 milhão de pessoas devem se espremer ali para a contagem regressiva do final do ano.
Ele está mesmo contando com esse momento e com a vocação de vitrine para o mundo da metrópole, já que os nova-iorquinos que vivem nos arredores da praça nunca apoiaram Trump -nas últimas eleições, Hillary Clinton teve uma vantagem de 16 pontos sobre o rival por ali.
Mas Steyer, investidor que acumulou uma fortuna de US$ 1,6 bilhão, não perde nenhuma chance de listar os motivos que, na sua visão, embasariam o impeachment.
Ele afirma que Trump representa um “perigo real” e está levando os Estados Unidos para a “beira de uma terceira guerra mundial”, além de “ameaçar a segurança nacional” ao não se posicionar sobre a Rússia e “mentir repetidas vezes” sobre seus elos com o país de Vladimir Putin.
Uma versão para a TV dessa campanha chegou a ir ao ar no intervalo do “Fox & Friends”, noticiário matutino que o presidente nunca perde. Trump rebateu pelo Twitter, chamando o bilionário de “maluco e transtornado que não vence eleições” –Steyer estuda se candidatar a um assento no Senado pela Califórnia no ano que vem.
O grupo do democrata atualmente tenta recrutar até 500 mil jovens eleitores para votar contra os republicanos nas legislativas de 2018, aguardadas como uma espécie de referendo sobre o governo Trump.
“O pessoal está se dando conta de que ele não pode fazer as coisas por conta própria. Ele não é dono do país como é dono do ‘business’ dele”, dizia Leonardo Faria, brasileiro há mais de duas décadas nos Estados Unidos, que filmava o anúncio na Times Square. “Não me surpreende um movimento desses.”
Mesmo democratas, no entanto, acham remotas a chance de um impeachment, por mais desgaste que o presidente tenha sofrido em seu primeiro ano de mandato -mais de 60% dos americanos, segundo o instituto Gallup, desaprovam sua administração.
Na história do país, processos de impeachment só foram abertos contra dois presidentes -Bill Clinton, em 1999, e Andrew Johnson, em 1865. Nenhum deles resultou na cassação dos mandatos.
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