05 de dezembro de 2025
GUERRA NO RIO • atualizado em 28/10/2025 às 17:58

Megaoperação no Rio deixa 64 mortos e é a mais letal da história; Castro reclama da União e ministério cita investimentos

Número de mortes choca. Ação com 2,5 mil agentes mira o Comando Vermelho e grupos do Pará; Polícia apreende 75 fuzis e mais de 100 suspeitos são presos
Operação tinha 64 mortos, 100 presos e muitos feridos até o meio da tarde - Foto: reprodução / redes sociais
Operação tinha 64 mortos, 100 presos e muitos feridos até o meio da tarde - Foto: reprodução / redes sociais

Às 16 horas desta terça-feira (27) somavam 64 mortos durante uma megaoperação policial no Rio de Janeiro, iniciada ao amanhecer, e que avançou para uma guerra após a reação do crime organizado. Cerca de 2,5 mil agentes das polícias Civil e Militar estão participando da operação que mira traficantes locais e um grupo oriundo do Pará que está se organizando nas comunidades cariocas. A operação é considerada a mais letal da história carioca.

Durante a tarde, chegou a circular nos celulares alertas de estágio crítico de segurança (nível 4, de 5), com a mensagem do nivelador de risco adotado pelo Centro de Operações da Prefeitura do Rio para quem recebeu não se deslocar pela cidade e procurar abrigo seguro.

Entretanto, segundo veículos de comunicação como a Agência Brasil, Infomoney, O Globo e Rede Globo, o alerta passou para o estágio nível 2 de segurança.

Mensagem circulou nos celulares, assustando ainda mais os moradores, mas o nível era 2
Mensagem circulou nos celulares, assustando ainda mais os moradores, mas o nível caiu para 2

Os alertas surgiram após os criminosos da facção Comando Vermelho darem ordens para fechar as principais vias da cidade.

Pessoas nas ruas, dentro de residências e em outros locais fechados foram alvejadas. Barricadas foram queimadas e 50 ônibus foram incendiados ou usados em bloqueios pelos bandidos. Unidades de saúde, escolas infantis e universidades suspenderam as atividades.

Imagens mostram até drones dos criminosos lançando bombas sobre os agentes de segurança que avançavam pelos locais-focos da ação: os complexos da Penha e do Alemão.

Vítimas fatais e 100 presos

Morreram pessoas comuns, criminosos e também quatro policiais, civis e militares, havendo vários feridos.

Às 16h o número de presos já ultrapassava 100, muitos deles da facção criminosa do Pará. Mais de 75 fuzis, além de pistolas e granadas, tinham sido apreendidos na ação.

Chamada de Operação Contenção, a ação visa a capturar chefes do tráfico do Rio e de outros estados e combater a expansão territorial do Comando Vermelho nos complexos.

A operação conta com dois helicópteros, 32 blindados terrestres e 12 veículos de demolição do Núcleo de Apoio às Operações Especiais da PM, além de ambulâncias do Grupamento de Salvamento e Resgate.

Governador reclama do governo federal e Lewandowski divulga nota com lista de ações e recursos

O governador do Rio, Cláudio Castro, reclamou que o governo federal havia deixado o estado “sozinho” e que não recebeu blindados e forças federais”. Nas redes sociais, muitos recordaram de entrevista de Castro em abril último, afirmando que não gostaria da participação da Polícia Federal em ações nos morros cariocas, alegando que seus agentes não são treinados para isso.

Ele foi rebatido no mesmo dia também pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Em uma extensa nota, o ministro da pasta, Ricardo Lewandowski, que não citou a megaoperação desta terça, aponta os investimentos no combate à criminalidade no Rio de Janeiro.  Entre as ações, cita que, só em 2025, foram realizadas 178 operações federais no Estado do Rio de Janeiro, sendo 24 delas relacionadas a tráfico de drogas e armas.

Veja a íntegra da nota do Ministério da Justiça e Segurança:

“Em cooperação com o Rio de Janeiro, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) mantém atuação no Estado desde outubro de 2023, por meio da Força Nacional de Segurança Pública, conforme previsto na Portaria MJSP nº 766, de 12 de dezembro de 2023. A operação segue vigente até 16 de dezembro de 2025, podendo ser renovada.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública tem atendido, prontamente, a todos os pedidos do Governo do Estado do Rio de Janeiro para o emprego da Força Nacional no Estado, em apoio aos órgãos de segurança pública federal e estadual. Desde 2023, foram 11 solicitações de renovação da FNSP no território fluminense. Todas acatadas.

No âmbito da Polícia Federal (PF), só em 2025, foram realizadas 178 operações no Estado do Rio de Janeiro, sendo 24 delas relacionadas a tráfico de drogas e armas. Ao todo, foram 210 prisões efetuadas, das quais 60 estão diretamente relacionadas a investigações sobre o tráfico de drogas e armas.

No mesmo período, foram apreendidas 10 toneladas de drogas e 190 armas de fogo, incluindo 17 fuzis. Além disso, foram apreendidas cerca de 600 peças e acessórios de armas de fogo, capazes de moldar cerca de 30 fuzis.

Esses números refletem o esforço contínuo da Polícia Federal no enfrentamento ao crime organizado e na redução do poder bélico das facções criminosas.

Entre 2024 e 2025 (até outubro), foram 855 mandados de prisão cumpridos, sendo 462 no ano de 2024 e 393 no ano de 2025.

Entre as ações de destaque, estão a Operação Forja, que desarticulou uma fábrica clandestina com capacidade de produção de 3.500 fuzis por ano, destinados a comunidades dominadas pela facção Comando Vermelho; as operações Buzz Bomb e Libertatis, deflagradas em 2024, que prenderam os operadores de drones das duas principais facções criminosas em atuação no Rio de Janeiro.

Além disso, a PF coordena duas operações conjuntas com as forças de segurança do estado, FICCO/RJ e Redentor, que reforçam o compromisso comum de enfrentar o crime organizado de forma coordenada e eficiente.

Também desde 2023, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) tem atuado no Estado em operações de combate a roubo de cargas e a roubos de veículos nas rodovias federais.

De janeiro de 2023 a outubro de 2025, foram:

3.082 veículos recuperados;

13.961 munições apreendidas;

172 armas curtas apreendidas;

72 fuzis apreendidos;

8.250 pessoas detidas;

R$ 3.240.201,00 apreendidos (de origens ilícitas);

29.5 toneladas de maconha apreendidas;

3.9 toneladas de cocaína apreendidos;

73.990 unidades de drogas sintéticas.

Nos últimos anos, o Estado do Rio de Janeiro tem recebido recursos do governo federal para investir no sistema penitenciário e na segurança pública. Por meio do Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), o estado recebeu mais de R$ 99 milhões entre 2016 e 2024 – valor que, com rendimentos, superou R$ 143 milhões. No entanto, apenas cerca de R$ 39 milhões foram efetivamente utilizados, restando mais de R$ 104 milhões ainda em conta.

Já pelo Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), o Rio de Janeiro recebeu quase R$ 288 milhões desde 2019, montante que, com rendimentos, alcançou R$ 331 milhões. Desse total, pouco mais de R$ 157 milhões foram executados até o momento, deixando um saldo superior a R$ 174 milhões disponíveis.

Além disso, o estado tem sido atendido com doações de equipamentos, como veículos, computadores, drones, coletes e munições, que somam aproximadamente R$ 10 milhões.

O MJSP informa ainda que, no âmbito da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), tem desenvolvido uma série de iniciativas com o Governo do Rio de Janeiro, como a integração do Estado à Rede Nacional de Unidades Especializadas de Enfrentamento das Organizações Criminosas (Renorcrim) e à Rede Nacional de Recuperação de Ativos de Facções Criminosas (Recupera).

Além disso, o MJSP e o Governo do Rio de Janeiro firmaram acordo de cooperação técnica para a criação da Célula Integrada de Localização e Captura de Foragidos, com foco na identificação, localização e prisão de criminosos de outras unidades da federação que se refugiam em comunidades fluminenses. A Célula realiza o cruzamento e análise de bancos de dados policiais e judiciais, a integração de mandados de prisão nacionais, com base na Lista dos Procurados do SUSP e na Matriz de Risco Nacional, e a coordenação de operações conjuntas de captura de criminosos prioritários.

O MJSP e o Governo do Rio de Janeiro também firmaram acordo para a criação do Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (CIFRA), com foco na descapitalização das organizações criminosas, mediante inteligência financeira, recuperação de ativos e assessoramento especializado em investigações de lavagem de dinheiro. Até setembro de 2025, o CIFRA havia analisado 59 Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) emitidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), envolvendo operações com mais de R$ 65 bilhões em valores suspeitos, com 423 documentos produzidos e difundidos entre os anos de 2024 e 2025.

Ainda, em 5 de fevereiro deste ano, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, esteve no Ministério da Justiça e Segurança Pública para uma reunião com o ministro Ricardo Lewandowski. À ocasião, o ministro atendeu a um pedido do Estado e ofereceu dez vagas em presídios federais para alocar lideranças criminosas do Rio de Janeiro.

“A missão é a cooperação total entre União e o RJ. Estamos empenhados em combater o crime de forma cooperativa e integrada. Esse é mais um exemplo da integração federativa que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública pretende colocar em prática”, disse o ministro após o encontro.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública reafirma seu compromisso com o Estado do Rio de Janeiro, promovendo a segurança pública por meio do apoio integrado.

As ações coordenadas têm como objetivo fortalecer o combate ao crime organizado, reduzir índices de criminalidade e garantir maior sensação de segurança à população. Com investimentos significativos e esforços contínuos, o MJSP permanece empenhado em assegurar resultados efetivos e contribuir para a preservação da ordem pública no Estado do Rio de Janeiro.”


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