23 de dezembro de 2024
Destaque 3

Médica que atendeu vítima de coronavírus em Luziânia relata falta de EPIs

UPA Jardim Ingá, em Luziânia. (Foto: Google Maps)
UPA Jardim Ingá, em Luziânia. (Foto: Google Maps)

A médica Marielly Matias, que trabalha da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Ingá, em Luziânia, e atendeu a paciente de 66 anos que acabou falecendo, contou ao Diário de Goiás que faltam Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para os profissionais.

Segundo ela, uma das maiores carências é em relação às máscaras. A recomendação é que elas sejam trocadas a cada duas horas. Os profissionais, porém, vêm trabalhando com apenas duas máscaras em um período de 24 horas. Vários outros equipamentos também não estão disponíveis para as equipes médicas.

“A gente está trabalhando com proteção bem restrita. Minha equipe médica, técnica em enfermagem e enfermagem estava sem equipamentos. Quando você vai fazer qualquer procedimento em um paciente com Covid-19, precisa se portar de muitos aparatos. Óculos, máscara, touca, macacão de proteção e tudo mais. Isso nunca tivemos”, conta.

A situação já havia sido exposta em um relatório médico, no qual a médica diz que “toda equipe de limpeza, técnicos de enfermagem, enfermagem e médica foram expostos sem nenhum EPI necessário para a gravidade do quadro”.

Marielly disse que entrou em contato com a Vigilância Epidemiológica para cobrar os EPIs desde segunda-feira. Ela foi depois recebida pela prefeita Edna dos Santos. “Ela nos recebeu bem, se preocupou e se dispôs a entrar em contato e disponibilizar (os EPIs). Na quarta-feira, alguns equipamentos já chegaram”, contou a médica.

Apreensão

Marielly revelou ainda que todos os profissionais que tiveram contato próximo com a paciente que faleceu temem estar infectados. De acordo com a médica, todos estão ainda assintomáticos, mas o período de incubação do vírus ainda não passou. “Estão todos com medo, esperando os próximos dias. É o terceiro dia de contato. Há alguns dias para talvez se manifestar algum sintoma”, afirmou.

Ela diz que, apesar da apreensão, continua trabalhando para manter a renda e tem se precavido de todas as maneiras para evitar qualquer possibilidade de contágio.

“Eu continuo trabalhando, me portando de todos os contatos possíveis para não contaminar ninguém. Não tenho possibilidade de parar. Se paro, não recebo. Não tenho um respaldo legal que me permita ficar de atestado”, relatou.

Situação no Entorno do DF

Mais cedo, o governador Ronaldo Caiado expôs a preocupação com a região do Entorno do Distrito Federal. Pela co-dependência de Brasília, cidade com mais de 200 casos da Covid-19, o risco de infecção é considerado mais alto. E segundo relatou Marielly, a falta de EPIs também se estende a outros municípios. “A situação está se repetindo em quase todos os municípios. Tenho contato com colegas em Cristalina e Valparaíso, onde também trabalho, e a situação é igual”, contou.

Ela diz que teme ainda um colapso do sistema caso os profissionais não sejam bem equipados. “Minha maior preocupação é com a equipe, pois se expô-los, todos ficarão doentes. O pessoal da minha unidade está recebendo um suporte bom, mas existe a possibilidade de que toda equipe esteja doente e vai entrar em colapso total. Tem que existir uma prioridade, pois se não todo mundo ficará doente”, explicou.


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