O MEC (Ministério da Educação) promete abrir uma investigação para apurar supostas fraudes de universidades particulares no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), prova federal que mede a qualidade dos cursos e serve para regulação do ensino superior.
Dois dos maiores grupos educacionais particulares do país, a Unip e Uninove, usaram estratégias para manipular os resultados no exame, segundo reportagem deste final de semana publicada pela revista “Veja”.
Segundo a publicação, as instituições selecionavam só os melhores alunos para fazer a prova. Com os estudantes de baixo desempenho fora do exame, conseguiam notas médias mais altas.
Segundo a pasta, o caso também será encaminhado para uma investigação do Ministério da Transparência.
O Enade faz parte do sistema de avaliação do ensino superior. Pelas regras, a prova é obrigatória a todos concluintes dos cursos avaliados (um grupo de graduações é avaliado a cada três anos).
As notas compõem os indicadores de qualidade que definem a continuidade de um curso ou o funcionamento da instituição. Também são critérios para acesso a programas federais, como Fies (Financiamento Estudantil) e o ProUni (Programa Universidade Para Todos). Resultados positivos são ainda usados em propagandas.
ESTRATÉGIAS
Segundo a reportagem da “Veja”, a Uninove impedia que alunos ruins concluíssem o curso, chegando a não oferecer disciplinas em determinados semestres a esses estudantes. Outra estratégia era adiantar a formatura de alunos com baixo desempenho a partir de avaliações que nem sequer eram corrigidas.
Dessa forma, eles ficavam de fora do Enade. Coordenadores também alteravam respostas nos questionário de alunos, excluindo avaliações negativas ao curso. Para fazer isso, obrigavam os alunos a acessar as perguntas com uma senha padrão.
“Li alguns questionários e não estão bons. Mudei o que pude”, descreve uma diretora da Uninove, em mensagem reproduzida pela revista.
Na Unip, os melhores alunos eram escolhidos a partir de uma prova interna, similar à do Enade. Aqueles com pior desempenho eram reprovados propositalmente em várias disciplinas e, dessa forma, não faziam o exame.
Uma funcionária da Unip aparece em um vídeo de 2012, publicado no site da revista, orientando coordenadores a realizar essa prática. “A ideia é deixar alguma DP [dependência] para cumprir em agosto de 2013 para ficar fora do Enade”, afirma ela na reunião gravada.
A Folha de S.Paulo não conseguiu falar com a Unip e Uninove. À revista as duas instituições negaram irregularidades no exame. Os casos citados são entre 2012 e 2013.
HISTÓRICO
Surgiram em 2012 denúncias de que a Unip fraudava o Enade ao inscrever no exame federal apenas alunos com bom desempenho.
Ainda sob o governo Dilma Rousseff, o MEC alterou, em março de 2012, as regras de participação no Enade. Além dos concluintes em dezembro, também passaram a fazer a prova estudantes que concluíssem o curso seis meses depois.
Era uma forma de exigir a participação daqueles que, por ventura, haviam tido a formatura postergada. No vídeo da “Veja”, entretanto, a funcionária da Unip cita formas de deixar alunos com DP em semestres anteriores. “Uma [DP] bastava na regra passada. Agora não basta mais”, diz.
Ainda em 2012, o MEC determinou auditoria presencial na Unip. O relatório final apontou que não havia irregularidades.
Na mesma época, a pasta admitiu que tinha informações de outras 30 instituições suspeitas de inflar o Enade. Não há notícias de punições.
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