30 de dezembro de 2024
Entretenimento

Maria Rita Stumpf, revelação de 1989, é redescoberta por DJs

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Ih, já apareci em vários lugares como ‘Maria Rita, filha do César Camargo Mariano’.”, ela lamenta, resignada.
Antes da cantora Maria Rita, filha da Elis Regina e de Mariano, houve outra cantora Maria Rita, que lançou dois discos entre os anos 1980 e 1990 e, depois, desapareceu dos palcos. Sua voz está retornando agora, redescoberta por jovens DJs e colecionadores europeus e asiáticos.

Estamos falando de Maria Rita Stumpf –o sobrenome não aparecia quando a cantora gravou os álbuns “Brasileira” (1988) e “Mapa das Nuvens” (1993) e se apresentava ao lado de músicos como o maestro Luiz Eça (1936-1992), o multi-instrumentista Ricardo Bordini e do grupo Uakti.

Hoje item raríssimo no mercado de sebos do país (um exemplar chegou a ser vendido no Mercado Livre por R$ 2.000), o disco “Brasileira” está sendo relançado em formato digital e vinil (com prensagem alemã e remasterização britânica). O material estarà à venda em junho.

A iniciativa é do selo Selva, nova empreitada da dupla de DJs que forma o núcleo Selvagem, conhecido por tocar músicas brasileiras esquecidas em festas disputadas em São Paulo e no Rio.

CÂNTICOS

Em seu apartamento em São Paulo, a gaúcha Stumpf, 58, conta que foi surpreendida pelo interesse recente.

“Sinto uma mistura de surpresa com uma quase obviedade da vida, que me gerou um sentimento de gratidão. Estou muito contente que o trabalho que gerava tanto esforço e era ao mesmo tempo tão prazeroso tenha merecido reconhecimento e atenção, mesmo tantos anos depois.”

Em suas 12 músicas, “Brasileira” passeia por cânticos brasileiros, percussões africanas e ritmos indígenas, embalados em uma concepção erudita –na qual se incluem dois poemas de Mario Quintana feitos canções.

Isso era 1988, época pré-internet, em que as cenas musicais brasileiras eram fortemente influenciadas pela geografia. E, nesse sentido, Maria Rita Stumpf sempre esteve deslocada –o que talvez explique a pouquíssima atenção que o LP recebeu.

No Rio Grande do Sul, onde nasceu, recusava-se a seguir a tradição cancioneira dos pampas. Quando mudou-se para o Rio de Janeiro, nos anos 1980, encontrou uma cidade musicalmente comandada pelo samba e pela MPB mais tradicionalista.

“O Brasil, de uma forma geral, tinha olhos e ouvidos para a estética do sertão. E, no Rio, para a estética do samba”, afirma. “Eu trabalhava em gravadora. Sabia como funcionava o esquema das rádios. Só tocava música de quem pagava. E, na época, o rádio mandava em tudo.”

Como funcionária da gravadora Continental, Stumpf trabalhou com gente como Tim Maia e Luiz Melodia. Conseguiu gravar seus dois discos de maneira totalmente independente.

Depois de 1993, decidiu dedicar-se apenas à produção de espetáculos –foi responsável, por exemplo, por vindas do bailarino russo Mikhail Baryshnikov ao Brasil.

Talvez Maria Rita Stumpf não precisasse ser redescoberta se, em 1989, ela tivesse recebido o troféu de “revelação feminina” do extinto Prêmio Sharp. Ela estava entre as três indicadas.

A vencedora foi uma certa Marisa Monte.


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