07 de agosto de 2024
Política

Marconi pressionado por sua base

(Texto publicado originalmente no Tribuna do Planalto, por Marcelo Tavares)

Enfraquecimento das chapas proporcionais, grande risco de perder a eleição para o governo e até mesmo dificuldade de manter a base aliada unida. Esses são os temores dos aliados do governador Marconi Perillo (PSDB) caso ele não seja candidato à reeleição no ano que vem. O líder tucano disse e repetiu durante todo o segundo semestre de 2013 que desejaria não ser candidato em 2014. Marconi ainda não deu o veredito de qual será sua decisão final, mas sua base política já o pressiona – sem tréguas – para que ele não desista do projeto.


O recado da base governista é claro – para continuar como um bloco forte e unido em 2014, o nome do candidato ao governo do Estado tem que ser o de Marconi Perillo. Integrantes de várias legendas não veem outra opção que não o tucano para a sucessão do ano que vem. O comportamento dos governistas (leia as declarações no quadro) confirma a declaração de um aliado de Marconi, que disse à coluna Linha Direta, na edição passada da Tribuna, que o governador é hoje “refém” do desejo e necessidades de sua base.
Impor uma decisão diferente do que a base aliada planeja não será nada fácil para Marconi Perillo. Líderes de todos os partidos aliados fazem um discurso acalorado de que o tucano é o nome mais competitivo para a eleição e que ele é o único que conseguirá manter a base unida. “O Marconi é o ímã que une todos os partidos. É um nome que tem respeito e amizade de todos os lideres partidários”, diz o secretário de Cidadania, Henrique Arantes (PTB).
Na hipótese de Marconi não ser candidato os prognósticos dos aliados não são dos melhores e a tão ressaltada unidade estaria ameaçada. Segundo Henrique Arantes, outro nome para concorrer ao Palácio das Esmeraldas pode provocar um racha na base e cada partido pode buscar seu caminho. “Ele é o comandante de todas as legendas e sem um comandante, as legendas tendem a voltar para as suas posições originais. Ou seja, se o Marconi não for o candidato da base, esta pode virar dois grupos ou até três. Algumas siglas podem até se aliar a outras de oposição”, prevê o secretário.
O deputado estadual Ademir Menezes (PSD) diz que o governador é o candidato que os partidos exigem. “Vejo que para manter a base unida e ainda reforçá-la, só o Marconi consegue”, sublinha. O pessedista afirma que não enxerga outro nome que tenha poder de aglutinação igual ao de Perillo e que está certo na sua candidatura à reeleição. “Não parei para pensar em outra opção, o meu foco é o governador como candidato”, cobra.

Lançamento
Fábio Sousa (PSDB), líder do governo na Assembleia Legislativa, não tem preocupação e se mostra confiante na candidatura de Marconi Perillo. Para ele, o governador é o candidato e não há motivo para discussão ou preocupação sobre isso. “Refém é uma palavra muito forte, mas o Marconi é o nosso candidato. Já viramos o jogo e as pesquisas demonstram isso. Hoje, tudo tem favorecido para que ele seja o nome da base. Estou defendendo abertamente que no próximo encontro (sábado, 12), em Goiânia, devemos lançar ele como candidato. Ele não vai aceitar, mas que vamos pedir, nós vamos”, antecipa.
Quem também cita que o encontro da base servirá para aumentar o coro para que Marconi seja o candidato é o presidente estadual do PSDB, Paulo de Jesus. Ele diz que sabe que o governador vai dizer que não pode se declarar agora, já que o foco tem que ficar na gestão, mas vai haver uma intensificação no pedido de que ele seja o nome da base governista. “Vamos mostrar que há toda uma energia empregada em sua candidatura”, frisa.
Líder da bancada do PTB na Assembleia Legislativa, outro parlamentar que afirma não ter dúvidas de que Perillo será o candidato da base é o deputado estadual Talles Barreto, que diz que vai trabalhar diuturnamente para que Goiás tenha mais quatro anos com Marconi à frente de sua gestão. Segundo o petebista, não há ninguém no grupo governista que reúna a mesma força que o tucano. “A candidatura não é do Marconi é da base. Sabemos que há o desejo da família dele para que ele não seja o candidato, mas Goiás precisa disso”, diz o deputado.
Segundo o secretário estadual de Articulação Política, Joaquim de Castro (PSD), a base não trabalha com outra hipótese que não a de Marconi como candidato, já que ele é o nome mais competitivo, que reúne as melhores condições e que compacta as ideias de todo o grupo governista. “Não adianta querer inventar moda, o Marconi é a melhor opção. Toda base clama pelo seu nome. Em qualquer município que a gente vá as lideranças falam que o governador é que dever ser o candidato”, ressalta. Segundo Castro, trabalhar somente com uma opção não se torna perigoso porque não há qualquer impedimento para ele tentar a reeleição.

Dúvida
Marconi Perillo afirmou que pode não ser candidato em 2014, argumentando que isso é um desejo pessoal e de sua família. Em agosto, durante entrevista exclusiva à Tribuna, o governador foi direto: “Há essa sensação de que estarei com o dever cumprido até o final do ano que vem (2014), e tenho muita consciência disso. A vontade pessoal e da minha família é de eu não ser candidato. Claro que, pelo que estou vendo, essa não é a vontade da base, mas eu já atendi à minha base várias vezes. No momento em que ninguém queria ser candidato a governador, em 1998, aceitei, colocando em risco minha vida pessoal”. No entanto, na mesma entrevista Marconi disse que “não fechou as portas em relação à candidatura” e que neste ano iria tomar uma decisão.
Na mesma entrevista, o governador afirmou que “ninguém poderá dizer que não foi avisado”, caso ele decida não ser candidato. De lá para cá, o líder tucano tem evitado declarações sobre sucessão eleitoral e, no discurso, diz estar “focado” na administração. Alguns interlocutores do governador acreditam que ele tomará sua decisão no ano que vem, por meio de conversas com a família e análise sobre a sua situação política. Depois de ser um dos alvos da Operação Monte Carlo, em 2012, Marconi tenta impulsionar a sua popularidade e minimizar os desgastes.
Logo após as declarações do governador, aliados afirmaram que, ao dizer que não quer ser candidato, Marconi estaria blefando. Seria apenas estratégia para se preservar para o jogo eleitoral. Com a aproximação do fim do ano, esta tese está cada vez mais difícil de ser ouvida nos bastidores. Cada vez mais, aliados temem que o governador queira mesmo dar um tempo na política. O problema será convencer a sua base disso.

Comedidos
O vice-governador, José Eliton (PP), que é visto como sucessor natural, caso Marconi não participe do processo em 2014, também diz que tem convicção que Perillo encabeçará a chapa majoritária da base e que tudo caminha para essa direção. Acredita ainda que o governador é nome mais apto e preparado entre os partidos aliados. Mas ressaltou que todos saberão respeitar, caso ele não se confirme como candidato.
“A pessoa só é candidata quando ela quer ser, quando tem vontade disso e as pessoas próximas também enxergam isso com naturalidade”, pontuou o vice-governador, que confessou que na hipótese do governador não ser o nome da base, há possibilidade de ocorrer resistências de outros partidos ao novo nome.
Segundo o deputado federal Jovair Arantes, presidente do PTB em Goiás, Marconi é a opção que mais agrega força e que tem maior respaldo da base, mas que no caso dele não buscar a reeleição, novos nomes irão aparecer. No entanto, o parlamentar prefere não citar nomes.
Jovair lembrou que caso o governador não seja candidato, os nomes para a chapa proporcional de deputados estadual e federal podem ter uma chance menor de eleição, já que não teriam uma figura de referência como cabo eleitoral em todo o Estado. Joaquim de Castro também concorda com esse ponto de vista, já que para ele, uma liderança de grande destaque encabeçando a chapa majoritária abre muito espaço de palanque para os candidatos a Assembleia Legislativa e a Câmara Federal.

Base aliada sem alternativa

“Se o Marconi não for candidato, a base pode virar dois grupos ou até três. Algumas siglas podem até se aliar a outras de oposição”

Henrique Arantes (PTB), secretário de Cidadania


“Marconi é o nosso candidato. Já viramos o jogo e as pesquisas demonstram isso. Hoje, tudo tem favorecido para que ele seja o nome da base”

Fábio Sousa (PSDB), deputado estadual e líder do governo na Assembleia


“Tenho que ser categórico e verdadeiro nesse ponto. Não há outro nome na base (além de Marconi). Seria hipocrisia minha dizer que há outra opção”

Joaquim de Castro (PSD), secretário de Articulação Institucional


“A pessoa só é candidata quando ela quer ser, quando tem vontade disso e as pessoas próximas também enxergam isso com naturalidade”

José Eliton (PP), vice-governador e presidente regional do PP


“Vejo que para manter a base unida e ainda reforçá-la, só o Marconi consegue”

Ademir Menezes (PSD), deputado estadual


“A candidatura não é do Marconi é da base. Sabemos que há o desejo da família para que ele não seja o candidato, mas Goiás precisa dele”

Talles Barreto (PTB), deputado estadual


“Hoje não tem ninguém com a mesma força ou que substitua o Marconi. A liderança dele é incontestável”

Paulo de Jesus, presidente do PSDB;


Sem Marconi, nossos deputados podem ter chance menor de eleição”

Jovair Arantes, deputado federal e presidente regional do PTB


Em 15 anos, base não preparou outro nome

Para os integrantes da base governista, falar em outro nome para substituir Marconi Perillo numa corrida eleitoral é quase impossível. Isso mostra uma fragilidade do grupo político que, há quase 15 anos no poder, ainda não possui um substituto para o governador. “Hoje não tem ninguém com a mesma força ou que substitua o Marconi. A liderança dele é incontestável. A base não tem nenhum outro plano que não seja o de Marconi como candidato”, afirma Paulo de Jesus.
O presidente do PSDB diz que falar em outro nome não é prioridade para a base aliada e que essa discussão nem tem previsão de acontecer, já que todos esperam a confirmação da candidatura de Marconi no ano que vem. “Numa possibilidade remota dele não ser candidato, e se isso chegar a acontecer, pensamos e discutimos outras possibilidade, mas lá na frente. Agora é trabalhar o nome de Marconi. Estamos ciente que com ele temos grandes chances de vitória”, afirma o presidente.
Ademir Menezes, deputado estadual, também concorda que o governador é o principal ator para 2014 e que construir outro nome como alternativa é muito difícil, já que isso não foi cogitado na base aliada. Esse discurso faz ressonância com o do secretário Henrique Arantes, que acredita que os nomes apontados para compor chapa em 2014 não teriam condição de substituir Marconi: “O vice-governador não tem força política como o Marconi tem e nem igual ao nosso adversário (o ex-governador Iris Rezende). O secretário Vilmar Rocha é um bom nome para o Senado não para o governo. O nome para ganhar a eleição é o de Marconi”.
O secretário Joaquim de Castro chega a citar os nomes de José Eliton, Vilmar Rocha (PSD), Thiago Peixoto (PSD) e Giuseppe Vecci (PSDB) como opções, mas também ressalta que nenhum destes teria as mesmas condições que Marconi tem de aglutinar. “Tenho que ser categórico e verdadeiro nesse ponto. Não há outro nome na base. Seria hipocrisia minha dizer que há outra opção”, frisa.
Quem foi mais positivo nesse aspecto de acreditar que outro nome é possível foi o vice-governador José Eliton. Ele ressalta que Marconi é o nome mais apto, mas afirma que isso não significa que grupo não enxergue em seus partidos outros nomes qualificados para exercer a função. “Caso o governador não queira se candidatar, nos reuniremos e de forma natural buscaremos um encaminhamento”, frisou o Eliton.
Sucessor
Sobre a questão de se preparar um sucessor, a maioria das lideranças acredita que isso terá que ser feito a partir da reeleição de Marconi, em 2014. “Cons­truir sucessor será a partir do próximo mandato”, diz Paulo de Jesus. “Isso é para ser construído a partir do momento que ele estiver proibido por questão uma questão legal, como por exemplo, não poder se reeleger. Mas isso é coisa para ser tratada no futuro. Para 2014 a bola da vez é o Marconi”, ressalta Ademir Menezes.
Para José Eliton, fazer sucessor não é papel de nenhum governante, já que cada indivíduo é que deve construir o seu destino, seja ele com equívocos e acertos, felicidades e tristezas e vitórias e derrotas: “O governador exerce seu papel com liderança, mas sem tolher qualquer um que seja. Não se deve esperar que ele chegue e coloque alguém para exercer determinado papel. Ele abriu espaço e diversas pessoas cresceram e se destacaram no seu governo. O que as pessoas não podem cobrar do governador é que ele faça a trajetória de outra pessoa. Esse tempo da pessoa querer indicar alguém, não é nem salutar para o processo democrático. Liderança se constrói pela sua atividade, ação e trajetória”. (M.T.)


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