Fiel a seu estilo centralizador e disciplinado, o ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht reclamou de seus ex-subordinados durante depoimento ao juiz Sergio Moro na segunda-feria (4), disse ter distribuído ordens a advogados e revelou que vem se debruçando na cadeia sobre uma infinidade de dados de pagamentos da empresa para tentar esclarecer questões levantadas pela Operação Lava Jato.
Ele disse que teve um “trabalho louco” ao pesquisar em uma “pilha de documentos” trazidos pelos advogados com informações de pagamentos da empresa. O empreiteiro prestou depoimento a Moro dentro de uma ação penal que aborda o suposto favorecimento do grupo ao ex-presidente Lula por meio da compra de um terreno para o Instituto Lula e de um apartamento em São Bernardo do Campo (SP).
“Na minha cabeça, eu não conhecia os fatos e, como nós todos somos colaboradores, eles [outros executivos] iriam esclarecer”, disse o empreiteiro a Moro. Como as informações não foram passadas e os investigadores ficaram sem os relatos, falou ele, o delator pediu dados de um sistema interno chamado Mywebday à sua defesa.
“Aí foi que eu mergulhei com meus advogados para eles fazerem várias pesquisas no material que nós tínhamos do [sistema] Mywebday, do Drousys. Recebi uma pilha de material dos meus advogados e mergulhei nesse assunto.”
E acrescentou: “O pessoal deveria ter feito esse trabalho, nosso pessoal interno. É muita informação para o Ministério Público conseguir mergulhar.”
Ele disse que está tentando dar “dar mais efetividade ao todo da colaboração da empresa.” “Vou procurar elucidar, tentar identificar os ilícitos que por acaso tiveram. Eu já identifiquei, ficou evidente aqui nesse processo, [que] tem omissões, tem mentiras, tem obstruções que estão ocorrendo.”
Marcelo Odebrecht disse que quer falar “exatamente o que sabia”. “Para depois não me cobrarem informações que eu não vou saber dar.”
Indisciplina
O delator falou que não conhecia o sistema Drousys, usado pelo setor da Odebrecht conhecido como “departamento da propina”, e disse que, contrariando orientações superiores, eram lá arquivadas informações sobre contas e destinatários.
Também disse que foi contrariado e que houve “indisciplina” por a empresa ter mantido pagamentos diretos a agentes públicos e políticos por meio dessa equipe.
Disse ainda que é preciso que os delatores ajudem a “filtrar” os dados. “Esse sistema são páginas e páginas de informação que sem que o empresário [executivo] que tenha feito o pagamento possa avaliar e filtrar, é difícil. Não adianta nada alguém receber, uma defesa, uma acusação.”
O empreiteiro está preso no Paraná há dois anos e, pelo acordo de colaboração, deve ir para o regime domiciliar no fim deste ano. É o único delator da empresa que ainda permanece na cadeia. (Folhapress)
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