O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, pode enfrentar mais um na disputa para ser o candidato da direita à presidência em 2026, e dessa vez é o também goiano, Pablo Marçal, ex-influenciador digital que disputou a Prefeitura de São Paulo em 6 de outubro. Marçal estaria negociando com o próprio União Brasil (UB), o partido do governador. A informação foi veiculada nesta quinta-feira (7) pelo portal Terra, repercutindo apuração feita pelo Estadão.
Marçal foi o terceiro colocado na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Se por um lado isso tem um peso, considerando que ele nunca tinha disputado, vai rivalizar com um governador que fez a Prefeitura de Goiânia e de mais 93 cidades do estado, sem contar os partidos aliados. De todo modo, o governador tem pela frente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro, que tenta voltar à elegibilidade.
O ex-influenciador confirmou que tem conversado com a legenda, o que foi confirmado pelo presidente do UB, Antonio Rueda. Os dois, porém, evitam cravar que já haja qualquer alinhamento, embora um aliado do ex-coach estipule até um período para que a filiação aconteça: o primeiro semestre do próximo ano.
Rueda mandou Marçal se filiar e citou candidatura de Caiado, que confirma disposição
Antônio Rueda disse ter conversado com o ex-influenciador, mas evitou apontá-lo como um nome da legenda ao Planalto, afirmando que “se Marçal quer ser candidato à Presidência, tem que se filiar ao partido primeiro.” Ele reafirmou que atualmente está colocada a pré-candidatura de Caiado à Presidência, como havia declarado no dia da eleição em Goiânia.
Conforme o Estadão, o governador, por sua vez, afirma que tem boa relação com Marçal, e que não vetaria sua presença na sigla. Por outro lado, mesmo fazendo elogios ao eventual futuro colega de legenda, Caiado declarou que seria ele, e não o ex-influenciador, o nome da legenda ao Planalto.
“Acho que ele teve um papel importantíssimo na eleição de São Paulo. Acho que ele mostrou um ponto que é importante para a democracia, ou seja, que cada eleição é uma eleição, não existe uma regra única”, disse ao Estadão.
Marçal e Caiado têm em comum farpas recentes com Bolsonaro
O jornal lembra que há outro ponto comum aos dois, além de serem goianos da direita. Tanto Caiado como Marçal trocaram farpas com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a última disputa eleitoral, dividindo o campo da direita. Sobre isso, Caiado afirmou: “O PL é que fez questão de produzir um enfrentamento com uma candidatura nossa. Então, não sou eu que criei qualquer situação de constrangimento”.
Pablo Marçal, por sua vez, teve quedas de braço na relação com Bolsonaro e seu entorno durante a campanha. “Ele chegou a pedir que o ex-presidente devolvesse recursos de uma doação dele nas eleições de 2022 e exigiu que o ex-chefe do Executivo pedisse desculpas a ele após a campanha, o que não aconteceu”, cita o Estadão. E o clima ruim continua, assim como ocorreu com Caiado. Na última sexta-feira (1°), Marçal publicou um vídeo em que distribui ataques ao ex-presidente. O empresário mandou Bolsonaro ‘cuidar da vida’.
Logo após ser derrotado no primeiro turno da eleição em São Paulo, Pablo Marçal indicou a ideia de ser candidato ou ao governo do Estado de São Paulo, ou à Presidência da República em 2026. Porém, ele tem enfatizado a intenção principal de ser candidato a presidente.
Pesquisa pode influenciar, diz aliado
Um aliado de Marçal dentro do UB, não nominado pelo jornal, afirma que, se fosse para o partido, seria natural que Marçal fosse escolhido para concorrer pela legenda, por ter melhores resultados nas pesquisas de intenção de voto.
Ele fazia referência a uma pesquisa publicada pela Genial/Quaest que mostrou, em outubro deste ano, que Marçal aparecia com 18% de intenções de voto em uma disputa ao Planalto. O ex-coach estaria tecnicamente empatado com Tarcísio de Freitas, que apareceu no levantamento com 15%, e atrás apenas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que pontuou com 32%. Contudo, o nome de Caiado não foi testado neste cenário.
PRTB nega saída
Em entrevista ao Estadão, o presidente do PRTB, Leonardo Avalanche, afirmou que Pablo Marçal é o candidato da sigla a presidente do Brasil. Ele acrescenta que o empresário também está trabalhando em vários Estados para convocar candidatos a deputados federais, governadores e senadores.
Em relação a uma possível filiação de Pablo Marçal ao União Brasil, Avalanche diz que Marçal é um político e empresário inteligente e que o UB tem vários caciques que são candidatos a presidente. “Seria o famoso canto da sereia se ele fosse, pois iria ficar refém de vários interesses que resultariam no máximo no final em uma vaga de deputado federal”, observa o presidente da legenda.
Durante a campanha eleitoral, a presença de Marçal no PRTB foi um dos principais motivos de críticas ao ex-influenciador, em razão das revelações de que figuras ligadas ao PCC estariam infiltradas na legenda. O primeiro episódio de vinculação da sigla a um integrante da organização foi revelado pelo Estadão. Avalanche sempre negou qualquer relação entre a sigla e o PCC.
Acenos ao União Brasil começaram antes das eleições
A proximidade de Marçal com o União Brasil vem desde o período de pré-campanha, quando o ele, filiado desde abril ao PRTB para concorrer à Prefeitura de São Paulo, chegou a iniciar conversas para uma chapa com a legenda. Na época, Marçal afirmou que o partido queria sua ‘alma’ para apoiá-lo na eleição a prefeito de SP. O UB acabou acertando-se com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), após ameaçar abandonar o prefeito.
No primeiro turno das eleições, Marçal terminou com 28,14% dos votos válidos, pouco atrás de Guilherme Boulos (PSOL), que teve 29,07% dos votos e de Ricardo Nunes (MDB), que recebeu 29,48%. Diante do desempenho e do resultado considerável, o empresário voltou a conversar com os outros partidos, como UB.
Pablo Marçal também já havia feito acenos à legenda de Rueda apoiando alguns candidatos da sigla no segundo turno. Durante a live com Boulos, nas vésperas da segunda etapa da votação, o goiano pediu votos para Gil Arantes, de Barueri, interior de São Paulo, e para Rose Modesto, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Mas todos perderam a eleição.
Risco de inelegibilidade ronda ex-influenciador goiano
Mas a ambição de Marçal de ser presidente do Brasil pode ser barrada porque existe a possibilidade de que ele fique inelegível caso seja condenado em ações movidas durante e após a disputa eleitoral de 2022. Em uma delas, ele é alvo por conta da publicação de um laudo médico falso para acusar o rival Guilherme Boulos (PSOL) de ser usuário de cocaína.
No final de outubro, o Estadão mostrou que, entre os 14 principais processos movidos contra Marçal na disputa eleitoral, cinco estão sob cuidados da Polícia Federal, que já abriu ou abrirá inquéritos para investigações sobre crimes contra honra, divulgação de laudo falso ou suposta omissão de bens declarados. Especialistas ouvidos pela reportagem citaram uma possível inelegibilidade de até oito anos — principalmente no caso do laudo. Marçal não tem se manifestado sobre os processos.
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