23 de dezembro de 2024
Sem aliança • atualizado em 23/02/2022 às 08:53

Maioria da bancada do PSDB no Congresso rejeita acenos a Lula

Tucanos históricos não descartam aproximação com petistas, mas maioria do partido rejeita eventual aliança com petista
FHC e Lula em encontro recente. (Foto: Ricardo Stuckert/Assessoria Lula)
FHC e Lula em encontro recente. (Foto: Ricardo Stuckert/Assessoria Lula)

A disposição de lideranças históricas do PSDB para dialogar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não encontra eco na bancada do partido no Congresso. Tucanos ouvidos pelo Estadão criticam os acenos a Lula, lembram os escândalos de corrupção envolvendo o pré-candidato do PT e defendem a unidade da terceira via. Enquete feita pelo Estadão mostrou que, em uma bancada com 32 deputados e seis senadores do PSDB, 16 parlamentares (12 na Câmara e quatro no Senado) se opõem a uma aliança com o petista no primeiro turno. Outros 15 parlamentares não quiseram se manifestar, e sete não deram retorno aos contatos da reportagem.

Estadão perguntou se os integrantes da bancada defendem a manutenção da candidatura do governador João Doria à Presidência e 13 congressistas responderam que sim. A ideia, porém, não é consenso, e a maioria (18) preferiu não se manifestar sobre o tema. Apenas sete declararam estar abertos a negociar a cabeça de chapa com outro nome da terceira via.

O PSDB da Câmara tem um histórico de votações alinhado aos interesses do presidente Jair Bolsonaro. No ano passado, por exemplo, a bancada rachou durante a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelecia o voto impresso, bandeira do presidente. A proposta foi derrotada, mas expôs a divisão na seara tucana.

Hoje o cenário no partido é de guerra. Uma ala trabalha contra a pré-candidatura de Doria, e pelo menos seis deputados federais vão se desfiliar. Há os que apoiam outros nomes para presidente, como o do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite – que em novembro perdeu as prévias do PSDB para Doria – e outros que não querem dividir os recursos do fundo eleitoral.

Na tentativa de conquistar apoios ao centro, Lula passou a procurar importantes nomes do PSDB. O petista já se reuniu com o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador Tasso Jereissati (CE), o ex-chanceler Aloysio Nunes e o ex-governador de Goiás Marconi Perillo.

Em clima de distensão, Fernando Henrique chegou a dizer que votaria em Lula em um eventual segundo turno contra Bolsonaro neste ano. “Se a eleição ficar entre o atual e Lula, eu voto no Lula e não será a primeira vez”, afirmou o ex-presidente em entrevista à rádio Eldorado, em maio de 2021. Cobrado pelo partido, FHC teve de afirmar nas redes sociais que apoia Doria.

O deputado Beto Pereira (MS), secretário-geral do PSDB, criticou os correligionários que conversaram com Lula. “É quem está no PSDB e não sabe onde está”, reagiu. Para Aloysio Nunes, porém, “é legítimo” o ex-presidente se debruçar sobre a montagem de um amplo arco de alianças. “É da natureza dele. O extremista dessa campanha é o Bolsonaro, e é ele que temos que derrotar”, afirmou o ex-chanceler.

No caso mais simbólico de apoio de um quadro histórico do PSDB a Lula, o partido perdeu o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Ele saiu da legenda após atritos com Doria. Alckmin está agora em avançadas negociações para ser candidato a vice na chapa do petista. O anúncio deve ser feito em março, quando Alckmin deve escolher o novo partido. O ex-governador já foi adversário do PT em duas eleições presidenciais e hoje negocia a filiação ao PSB, ao PV ou ao Solidariedade.

“O Lula tem muitos amigos no PSDB, mas o projeto do Lula, ao meu ver, não é o projeto do PSDB, como também não é o do Bolsonaro”, disse o deputado Aécio Neves (MG), que foi candidato do partido ao Palácio do Planalto, em 2014.

Jogo

Aécio é crítico da candidatura de Doria e defendeu a escolha de Eduardo Leite nas prévias do PSDB. Apesar da divisão entre várias pré-candidaturas, Aécio aposta que a terceira via pode se fortalecer. “Esse jogo ainda não está jogado. Pode ser zerado daqui para a frente, se houver desprendimento e responsabilidade dos principais atores e partidos”, destacou.

Embora classifique como “natural” o diálogo com Lula, o senador José Serra (PSDB-SP) disse que a terceira via é o caminho para a eleição presidencial. “Acho natural e importante o diálogo político. É da democracia, inclusive entre atores que não compartilham suas bandeiras e ideologias.”

Líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF) sugeriu a quem quiser apoiar Lula que vá para o PT. “Quem apoia deve ir para o partido dele (Lula). O PSDB vai ter candidato, já teve prévias. Está definido isso”, disse.

Vice-presidente do PSDB, o deputado Domingos Sávio avaliou que Doria não deve desistir da pré-candidatura, mas pregou o diálogo com outras forças políticas. “Uma coisa é buscar aliança, outra é buscar meramente apoio”, afirmou Sávio. “O PSDB não está numa condição de querer sentar à mesa para dizer ‘eu quero só o apoio de vocês.”

Por Lauriberto Pompeu, Iander Porcella e Izael Pereira, Estadão Conteúdo


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