20 de novembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 00:36

Maior matança em presídios desde o Carandiru deixa 56 vítimas no AM

Complexo Penitenciário Anísio Jobim tem rebelião desde a tarde de domingo (1º) / Foto: Divulgação/Seap
Complexo Penitenciário Anísio Jobim tem rebelião desde a tarde de domingo (1º) / Foto: Divulgação/Seap

Uma briga entre facções criminosas rivais seguida de rebelião no maior presídio do Amazonas deixou 56 mortos entre domingo (1º) e segunda-feira (2) em Manaus, capital do Amazonas.O motim durou 17 horas, com algumas vítimas decapitadas. A matança é a maior em presídios do país desde o massacre do Carandiru, em 1992, em São Paulo, quando uma ação policial deixou 111 mortos na Casa de Detenção.

A rebelião em Manaus começou na tarde de domingo no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), localizado na BR-174. Na unidade havia 1.224 homens, o triplo da capacidade (454), segundo dados de dezembro.

Ela foi motivada por uma disputa entre as facções criminosas Família do Norte e PCC -e levou integrantes do governo federal a temerem retaliações pelo país.O governo do Amazonas, comandado por José Melo de Oliveira (Pros), avalia que a rebelião foi comandada pela Família do Norte e que a maioria dos mortos era do PCC.

“Há uma guerra silenciosa que o Estado tem que intervir. Que guerra é essa? Narcotráfico. Uma facção brigando com a outra. Porque cada uma quer ganhar mais dinheiro que a outra, a briga é por dinheiro e por espaço”, disse o secretário estadual da Segurança Pública, Sérgio Fontes.

Ele afirmou que a polícia não entrou no presídio “para evitar um Carandiru 2”.O juiz Luís Carlos Valois, titular da Vara de Execuções Criminais do TJ (Tribunal de Justiça) do Amazonas, afirmou ter ficado chocado.

“Uma pilha de corpos, alguns esquartejados, sem braço, perna e sem cabeça, uma cena dantesca. Nunca vi um negócio tão horrível”, disse à Folha Valois, que foi ao complexo penitenciário no domingo para intervir junto aos detentos, após ser acionado pela secretaria da Segurança.

“PÉSSIMA”

A prisão, uma das 11 do Amazonas, havia passado por inspeção do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) em outubro e classificada como “péssima” para qualquer tentativa de ressocialização, com presos sem assistência jurídica, educacional, social e de saúde, além da ausência de detectores de metais e bloqueadores de sinal de celular.

Antes de consolidar um balanço com 56 mortos em Manaus, o governo estadual chegou a divulgar até 60 vítimas –número corrigido depois.A maior quantidade de mortos em prisões depois do massacre do Carandiru havia sido, até então, em rebelião de 2004 que matou 31 na Casa de Custódia de Benfica (RJ).

A rebelião no Compaj também resultou na fuga de 112 presos e em reféns (74 detentos e 12 funcionários da Umanizzare, empresa que presta serviços no complexo), liberados na manhã desta segunda-feira sem ferimentos.

Pouco após o motim na unidade, outros 72 presos fugiram do Ipat (Instituto Penal Antônio Trindade), a 5 km dali.A Secretaria de Estado da Administração Penitenciária, que administra o sistema penitenciário do Amazonas, isolou toda a área onde ficam as duas unidades prisionais.

Nas vias que dão acesso à rodovia BR-174, foram montadas barreiras policiais para auxiliar na busca. No final da tarde desta segunda o governo citava 40 recapturados.O governador José Melo de Oliveira disse que utilizará os R$ 44,7 milhões de repasse que o Fundo Penitenciário do Amazonas recebeu do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), na última quinta (29), para reformar a unidade.

O governo federal deve transferir presos ligados a facções criminosas para outras unidades prisionais no país.Ao ser questionado sobre as medidas que serão tomadas, o secretário da Segurança Pública do Amazonas afirmou ser necessária a construção de novos presídios e o combate ao tráfico de drogas.”Transferência de presidiário não seria eficaz nessa situação. Não temos condições de mantê-los separados. Temos quantidade limitada de presídios. Construir mais presídios seria uma boa opção.”

(FOLHAPRESS)

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