Por João Peres, publicado originalmente da Rede Brasil Atual
Na primeira declaração pública sobre as manifestações de junho, ex-presidente afirma que apenas dentro dos partidos existe solução para os problemas do mundo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu hoje (18) aos jovens que participem da política, mesmo quando tudo pareça perdido, porque continua sendo a melhor solução para os problemas do mundo. “Quando vocês estiverem putos da vida e não estiverem gostando de ninguém, ainda assim não neguem a política. E muito menos neguem os partidos. Quando você estiver puto e quiser negar as coisas, em vez de negar a política, entre na política”, disse, durante palestra a estudantes de ensino superior na Universidade Federal do ABC.
“A mãe tem um filho drogado e acha que o problema é o vizinho. Ela nem para para pensar o que fez com o filho, a culpa é do outro. A política é assim. Dentro de vocês está o político que vocês querem que os outros sejam. Fora disso não há solução.”
Este foi o primeiro pronunciamento público de Lula no Brasil desde as manifestações de junho. Nas últimas semanas, o petista esteve na África e manteve alguns compromissos privados no país. Na segunda-feira (15) ele se reuniu com jovens integrantes de movimentos sociais na sede do Instituto Lula, na zona sul da capital paulista. No mesmo dia, em sua coluna no jornal norte-americano The New York Times, Lula defendeu que os políticos ouçam as queixas das ruas e modifiquem antigas práticas.
Ontem, a presidenta Dilma Rousseff voltou a pedir a realização de um plebiscito sobre a reforma política. Mas, no mesmo dia, o grupo de trabalho criado na Câmara para analisar o tema reiterou que não há possibilidade de realizar a consulta popular este ano. Oposição e parte da base aliada trabalham para aprovar as mudanças apenas dentro do Congresso, sem participação social direta, e outros propõem que os brasileiros apenas referendem as alterações votadas pelos parlamentares.
Durante conferência sobre a política externa brasileira, ele comparou os jovens do Brasil, que lutam por mais conquistas, com os da Europa, que lutam para não perder direitos. “Saio daqui mais esperançoso. A pior coisa que pode acontecer no mundo é aceitar a negação da política. Não existe nenhuma experiência no mundo em que a negação da política deu melhor resultado que a podridão da política”, afirmou, recordando casos mal-sucedidos em várias partes do mundo quando as pessoas perderam a crença na capacidade das instituições de resolver problemas.
Lula atribuiu parte da insatisfação dos jovens aos reflexos de avanços obtidos nos últimos dez anos. Para ele, é natural que o país esteja vivendo um momento de rearranjo de infraestrutura para dar conta da inclusão de dezenas de milhões de pessoas ao longo dos governos do PT. “Os conservadores não se conformam. Sentem saudade dos tempos em que o continente era subalterno. Em que a miséria era um dado sociológico”, disse. “É lógico que começa a ter problema em aeroportos. É lógico. A gente produzia 80 milhões de toneladas de grãos, passou a 180 milhões de toneladas, lógico que tem problema no transporte.”
A questão da mobilidade urbana foi apontada como um dos fatores de insatisfação no cotidiano das grandes cidades, reflexo, em parte, da venda de automóveis graças ao aumento do poder de compra e à maior oferta de crédito. “Chega na Pereira Barreto e não consegue andar a 10 quilômetros por hora. Tá entupida. Aí fala: ‘Puta que pariu, vou protestar contra esse prefeito, vou protestar'”.
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