O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou depoimento à Justiça Federal no Distrito Federal nesta terça (4) como testemunha de defesa do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em uma ação em que o peemedebista é acusado de ter recebido propina em troca da liberação de recursos da Caixa para empresas.
A estratégia da defesa de Cunha foi questionar Lula sobre a indicação do hoje ministro Moreira Franco (Secretaria de Governo) para uma vice-presidência da Caixa, em 2007, e uma suposta participação do presidente Michel Temer nessa nomeação.
O empreiteiro Marcelo Odebrecht também foi ouvido, mas como testemunha de defesa do corretor de valores Lucio Funaro, réu na mesma ação que tramita na 10ª Vara Federal em Brasília. Odebrecht também foi indagado sobre Moreira e Temer e disse que, pelo que sabia, o presidente integrava o grupo chamado de “PMDB da Câmara”.
Cunha, Odebrecht e Funaro estão presos pela Lava Jato no Paraná. Os depoimentos foram feitos por videoconferência -Lula estava em São Bernardo do Campo (SP) e Odebrecht, em Curitiba.
Entre as operações supostamente ilícitas que constam da denúncia do Ministério Público Federal nesse processo está a liberação de R$ 3,5 bilhões para o Porto Maravilha, no Rio, em benefício de Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia. Os recursos eram do FI-FGTS, um fundo de investimento da Caixa.
Em seu depoimento, Lula disse desconhecer qualquer interferência ou cobrança ilícita de Cunha em relação ao FI-FGTS. Também afirmou que não sabia que o ex-deputado havia indicado Fábio Cleto para uma vice-presidência da Caixa.
Réu na mesma ação, Cleto é acusado de votar pela liberação ou não de recursos do fundo de investimento em conluio com Cunha, mediante acerto de propina com as empresas interessadas.
A defesa de Cunha perguntou se Temer teve participação na indicação de Moreira Franco para uma vice-presidência na Caixa, em 2007, no governo Lula. O ex-presidente respondeu que não, e que, como em outros casos, a indicação partiu de alguma bancada da base, provavelmente a do PMDB.
Lula foi questionado, então, se Temer e Moreira foram lhe agradecer pela nomeação em 2010, quando Moreira deixou a Caixa. “Não. Aliás, nem me agradeceram, foram ingratos”, disse o petista.
Já Odebrecht disse em seu depoimento que, pelo que ouviu de um dos executivos de sua empreiteira, Claudio Melo Filho, o presidente Temer integrava o grupo chamado de “PMDB da Câmara”, do qual também faziam parte Cunha e Henrique Eduardo Alves -outro réu na ação sobre desvios na FI-FGTS.
Odebrecht relatou que a empreiteira tinha interlocutores que acionava quando tinha que tratar de assuntos de seu interesse no fundo de investimento: André de Souza, ligado ao PT, Moreira Franco, do PMDB, e Carlos Lupi, do PDT, que foi ministro do Trabalho de 2007 a 2011.
“Nós tínhamos vários interlocutores no FI-FGTS que o pessoal buscava, até para um processo de convencimento [dos demais membros]. Entre as pessoas do PMDB, só me recordo do Moreira Franco. Não conheço nenhuma tratativa ilícita com Moreira Franco. Quem pode dizer se houve ou não é o Claudio [Melo Filho]”, disse.
“No caso específico do PT, eu sabia que tinha uma pessoa de influência dentro do FI-FGTS que nosso pessoal também buscava interagir, acho que era o André de Souza. Eu sabia que as pessoas buscavam o André porque alegavam que ele tinha influência dentro do FI-FGTS. Não conheço outra pessoa do PT. E sabia que as pessoas conversavam com pessoas do PDT, que tinham influência por conta do Ministério do Trabalho, que atuava vinculado com o PDT”, afirmou.
Já sobre Cunha, Odebrecht foi taxativo. “Eu tinha conhecimento que nossos executivos acertavam pagamentos a Eduardo Cunha. O que informavam é que Eduardo tinha um grupo de influência dele. Inclusive, quando ele buscava essas contribuições, ele ajudava muitos deputados do grupo político dele”, do PMDB ou de outros partidos, afirmou. (Folhapress)
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