19 de novembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 00:22

Lula critica conservadorismo paulista e “concepção retrógrada” do país

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta terça-feira (1) o que qualifica como “conservadorismo” paulista, a PEC 241 e a reforma do ensino médio. Disse, ainda, que a “desgraça” de quem não gosta de política é ser governado pela elite.

As afirmações foram feitas em Buri (a 257 km de São Paulo), onde o ex-presidente esteve para inaugurar um laboratório da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), que funciona numa área de 643 hectares que foi doada pelo escritor Raduan Nassar , autor de obras como o romance “Lavoura Arcaica” (1975).

Foi a primeira aparição de Lula após o segundo turno das eleições municipais, ocorridas no último domingo (30). Ele estava acompanhado do escritor, de Guilherme Boulos, membro da coordenação nacional do MTST, da deputada estadual Márcia Lia (PT) e do vereador mais bem votado na capital, o petista Eduardo Suplicy.

“Aqui em São Paulo nós temos um problema que é o conservadorismo. Desde a Revolução de 32, quando foi construída a USP, que eles não queriam universidade federal aqui para não ter pensamento federal no Estado de São Paulo. Uma ideia, uma concepção retrógrada, que não tem noção de país, não tem noção de que o país tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados, que nós somos uma meganação, que tivemos as mais diferentes culturas desse mundo, e tem gente que não gosta disso. Tem gente que não gosta da ascensão de outros Estados”, disse Lula em discurso a estudantes.

No Estado, o PSDB, partido do governador Geraldo Alckmin, conquistou prefeituras importantes, como a da capital, enquanto o PT definhou e tem como maior vitória a Prefeitura de Araraquara.

De acordo com ele, faltou força para evitar o “golpe”, e os estudantes devem participar da política. “Nós temos que aprender que cada vez mais, ao invés de a gente negar a política, a gente tem que fazer política. Porque a desgraça de quem não gosta de política é que é governado por quem gosta. E quem gosta é sempre a minoria, é sempre a elite.”

O ex-presidente reconheceu que o país vive uma crise financeira e que erros foram cometidos pelo governo, mas disse que “não se conserta um país discutindo crise”.

“Estamos numa crise agora? Estamos. Temos responsabilidade? Temos. Fizemos erros? Fizemos. Agora a verdade é a seguinte: não se conserta esse país discutindo crise […] Esse país era o país mais otimista do mundo, esse país era um país alegre, de repente esse país ficou mal humorado.”

Pré-sal

Lula ainda levantou questionamentos sobre os motivos que levaram ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

“Será por causa do pré-sal, que é a maior descoberta de petróleo do século 21? Será que é por que nós destinamos 75% dos royalties para resolver o problema da educação, para recuperar o tempo perdido do século 21? Será que essa coisa que aconteceu no Brasil tem alguma ligação de o Brasil ter virado um protagonista internacional, ter criado o Brics, ter criado um banco fora do FMI e do Banco Mundial? Será que o que está acontecendo no Brasil tem a ver com a relação do Brasil com a África, da criação da Unasul, do Mercosul? Então é importante que a gente discuta que não é por acaso o que está acontecendo nesse país, não é por acaso. Tem algo maior do que a gente imagina acontecendo nesse país.”

O ex-presidente ainda criticou a PEC 241, que estabelece um teto de gastos para o governo, e a reforma do ensino médio, que modifica a matriz curricular dessa etapa de ensino.

“Agora nós vimos entrar um ministro que a gente nem sabe que ele cuidava de educação e a primeira coisa que propõe é uma PEC 241 para cortar gastos da educação e uma reforma no ensino médio, que vai piorar muito as condições.”

Ainda conforme o ex-presidente, os estudantes não têm de abrir mão de brigar pela educação, porque ela é o “mais importante investimento que um país faz”.

Folhapress

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