Em um dos vídeos que integram o processo de delação premiada, a empresária Mônica Moura, sócia do marqueteiro João Santama, explica como funciona a definição do custo das campanhas eleitorais, que saem por milhões de reais.
“Eu sentava com o João e fazia um esboço. Isso tinha muito a ver com o tempo de televisão. Com a Dilma, era quase um capítulo de novela. E tinha [filmagem] no Brasil inteiro. Em um dia, tinha que filmar a Dilma no Rio Grande do Sul, uma usina na Amazônia e o Lula num evento em Minas Gerais. A gente tinha que ter três equipes simultâneas”, conta ela.
“Depois que eu tinha os dados do que o João precisava, traçávamos um orçamento. Botava 30% de lucro. Se o orçamento dava 20 milhões, a gente pedia 30 milhões e negociava. O cliente pechinchava, mas depois era preço fechado. Se eu quisesse chamar a Regina Duarte, um diretor da Conspiração Filmes, era problema meu”, prossegue.
“Na campanha do Haddad, o lucro foi só de 10%. Degringolei no orçamento e o João passou a pedir mais coisas, porque queria ganhar”, lembra Moura.
Definido o valor, um representante do candidato era escolhido para tratar dos pagamentos. Segundo ela, nas eleições presidenciais disputadas por Lula e Dilma, Antonio Palocci fez essa intermediação, com exceção de 2014, quando Guido Mantega teve esse papel.
Outro ponto de debate era sobre qual parcela do dinheiro seria paga de forma oficial e qual seria via caixa 2. “Queria muito trabalhar com tudo por dentro. Mas nenhum político, nenhum marqueteiro trabalha só com dinheiro por dentro”, disse a delatora.
“O por fora nunca estava garantido. Era sempre de boca. Não tinha um contrato, nem de gaveta. Por isso que demorava tanto pra receber”, prosseguiu.
De acordo com ela, os valores pagos via caixa 2 eram frequentemente entregues em hotéis, em quartos alugados apenas para esse fim. “A pessoa as vezes estava com mochila, as vezes com um meião de futebol cheio de dinheiro”, recorda.
O dinheiro recebido no Brasil era usado para pagar fornecedores. Já o montante recebido no exterior, em contas em lugares como a Suíça, era o lucro do casal, que definia junto aos tesoureiros e operadores das empresas qual parcela dos valores seria paga de qual forma.
“Essa prática vem desde que virei dona de empresa, em 2002. Antes, como freelancer nas campanhas, também recebia parte por fora, mas não sabia como eram as negociações. Eu só recebia”, afirmou.
(FOLHA PRESS)
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