17 de novembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 01:18

Longe do holofote, cracolândia fora do centro de SP oferece droga a motorista

Homem aborda motoristas para oferecer drogas em 'minicracolândia' na Zona Oeste / Foto: Avener Brado
Homem aborda motoristas para oferecer drogas em 'minicracolândia' na Zona Oeste / Foto: Avener Brado

Um homem faz sinal com a mão para os motoristas no meio da rua. Parece um flanelinha em busca de um possível cliente: levanta o braço e chama. Porém o que ele oferece não é vaga de estacionamento, e sim pedras de crack.

A abordagem é feita à luz do dia para qualquer um que passe na esquina da avenida José César de Oliveira com a rua Doutor Avelino Chaves, na Vila Leopoldina, bairro da zona oeste de São Paulo.

Essa é uma das oito áreas consideradas pela prefeitura como “minicracolândias” fora do tradicional ponto de tráfico e consumo de crack na região da Luz, no centro.

Neste domingo (21), a cracolândia “original” passou por operação policial que prendeu traficantes e reprimiu aglomerações de viciados – em ação celebrada pelos governos tucanos de Geraldo Alckmin e João Doria.

Os usuários de drogas que estavam lá acabaram se espalhando pelo entorno, ainda no centro. Agora, um dos efeitos temidos por moradores de alguns bairros é a expansão dessas “minicracolândias”.

A reportagem visitou cinco desses pontos de tráfico e consumo de crack fora do centro em dias alternados na semana passada e nesta segunda (22).

Diferentes da “matriz”, essas áreas não contam com rede de apoio estruturada e permanente como no centro, que tem programas recuperação da prefeitura e do governo estadual. Em um dos pontos, no Jabaquara (zona sul), só há assistência social e médica uma vez a cada 15 dias.

Também há pouca presença de ONGs que ajudem na alimentação dos dependentes ou que fiscalizem a atuação policial – algo comum na cracolândia da região central.

Na Vila Leopoldina, por exemplo, cerca de 50 usuários de crack ocupam as calçadas dos arredores da Ceagesp. Só há visitas de assistentes sociais, médicos e psicólogos uma vez por semana, segundo a própria prefeitura.

A reportagem visitou o local quatro vezes, mas não constatou a presença de agentes públicos. Como no centro, os dependentes ergueram barracos nas calçadas e consomem crack à vista de quem passa.

No meio da rua, uma travessa da avenida Doutor Gastão Vidigal, os traficantes abordam os carros e oferecem crack – se o motorista demonstrar interesse, é seguido pelo “vendedor”. Esse comércio de droga ocorre a 400 metros de uma delegacia.

Moradores e funcionários que trabalham na região disseram que, há alguns meses, a frequência dos atendimentos da prefeitura aos usuários diminuiu –
antes era diária e, agora, é semanal.

OPERAÇÕES

Para Nathália Oliveira, presidente do Conselho Municipal de Políticas sobre Álcool e Drogas, as “minicracolândias” ganharam força após uma ação policial em janeiro de 2012 que expulsou muitos usuários da região central.

Nesta segunda, após a nova ação policial, dependentes de crack se espalharam pelo centro de São Paulo.

Esse fenômeno pode ter ocorrido com os baixios do viaduto Jabaquara, zona sul. Segundo moradores e comerciantes, a área foi ocupada no começo de 2012, logo após a ação na cracolândia do centro. Hoje, cerca de 30 pessoas em situação de rua vivem embaixo da estrutura – muitas delas foram vistas pela reportagem consumindo crack.

A reportagem não encontrou agentes públicos.

“Chegam umas meninas bonitas. Dois meses depois, elas parecem caveiras de tão mal cuidadas que ficam”, diz Neide Pitta, 81, corretora de imóveis e moradora de uma casa ao lado. Para ela, a presença de dependentes não aumentou a violência. “Eles ficam entre eles”, diz.

Já na zona leste, embaixo da ponte do Aricanduva, usuários se arriscam entre os carros que saem em alta velocidade da marginal Tietê. No semáforo, motoristas são abordados com pedidos de dinheiro. A reportagem também não encontrou agentes públicos.

“No centro, a rede de apoio do Estado já é insuficiente. Quando os usuários se espalham, essas novas áreas ocupadas não têm nada. Eles [dependentes] são muito vulneráveis, às vezes vivem na miséria e acabam abandonados”, diz Nathália, do Conselho Municipal de Políticas sobre Álcool e Drogas.

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