05 de dezembro de 2025
FOGO AMIGO

Lista dos “amigos pero no mucho” dos Bolsonaro vai de Zambeli, Joyce, Frota, Cid a Caiado, generais, Nikolas e Tarcísio

Conflitos recorrentes revelam como bolsonaristas se denunciam publicamente — de Zambelli, a generais ou governadores aliados — e expõem a falta de coesão do movimento
Autoagressões reiteradas atordoam a extrema-direita liderada por Jair Bolsonaro - Foto: Alan Santos / PR - arquivo
Autoagressões reiteradas atordoam a extrema-direita liderada por Jair Bolsonaro - Foto: Alan Santos / PR - arquivo

O bolsonarismo, maior movimento político da extrema-direita que alardeia lealdade a vários símbolos conservadores e, em especial, orbita em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), vive crises internas cíclicas, onde o “fogo amigo” virou rotina e parece espantar só quem está fora da roda. E nessa roda, a expressão espanhola “amigos pero no mucho” tem se revelado a qualquer momento, expondo conflitos de interesse gritantes, doa a quem doer, como revelam dez casos selecionados pelo Diário de Goiás e listados ao final.

O cenário sinaliza o que pode parecer uma “desintegração silenciosa” do movimento. Seus membros não seguram a língua diante da combinação incendiária de investigações judiciais, restrições a fake news, perda de poder político e o desgaste natural do discurso extremista que não consegue, por exemplo, aglutinar multidões a favor de uma “punição ao Brasil”, como está acontecendo na atual conjuntura, com o tarifaço vindo dos Estados Unidos pelas próprias mãos bolsonaristas.

Desde que o movimento brotou, com as primeiras instabilidades após a eleição de Bolsonaro, em 2018, parlamentares, militares e até governadores da ala se envolvem em ataques publicamente, sem pudor, como flecha ou alvo. Trocam acusações de traição, oportunismo e até envolvimento com esquemas ilegais. A aparente coesão que sustentava o grupo de “aliados” nos anos mais turbulentos do governo Bolsonaro agora se assume fragmentada publicamente sempre que um desagrada o outro.

São muitos os episódios. Alguns mais antigos e emblemáticos como da ex-deputada e jornalista Joice Hasselmann, que após intensos ataques sofridos de seus aliados, denunciou a existência de uma “quadrilha digital bolsonarista” em plena CPMI das Fake News.

Também está na lista o já falecido Gustavo Bebianno, um ministro ignorado pela família que ele venerava, e que acusou Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente, de tentar montar uma “ABIN paralela”, terminando por ser demitido e morrendo mergulhado na amargura.

Alvos mais recentes

Da turma a virar alvo mais recentemente, há o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o deputado mineiro Nikolas Ferreira (PL). Mesmo fazendo a defesa de Jair Bolsonaro em meio ao processo por tentativa de golpe de Estado, ambos foram criticados pelo também filho e deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em meio à crise diplomática envolvendo tarifas impostas por Donald Trump e a indignação do eleitorado diante de quem pressionou por aumento e não por proteção à economia brasileira.

As trocas de ofensas e abandono de aliados se estendem a nomes como o da antes aguerrida bolsonarista deputada Carla Zambelli. Acabou responsabilizada por Bolsonaro pela derrota eleitoral de 2022 e hoje presa na Itália não sente clamor por si. Também o ex-porta-voz General Otávio Rêgo Barros, isolado pelo Planalto. Até o General Freire Gomes, acusado de ter ameaçado prender Bolsonaro e de mentir em depoimento. Somando até o ex-vice-líder, o ator Alexandre Frota, que se tornou um dos principais inimigos.

Nem a intimidade escapa e Michelle Bolsonaro, casada há 17 anos com o ex-presidente, uma hora é alvo do filho Carlos Bolsonaro, outra do filho Renan Bolsonaro, e por aí seguem. Mas deixamos as brigas de família para ir nos temas ácidos de interesse público.

Dez recortes do “FOGO AMIGO” Bolsonarista

1. Carla Zambelli – Deputada Federal (PL-SP)

Foto: reprodução
  • Data: Outubro 2022 / Março 2025
  • Quem criticou: Jair Bolsonaro
  • Motivo: Ameaça armada em plena campanha eleitoral; Bolsonaro responsabilizou Zambelli pela associação negativa ao armamentismo.

“A Carla Zambelli tirou o mandato da gente.”

2. Joice Hasselmann – Ex-deputada e jornalista

  • Data: Dezembro 2019 / Junho 2020
  • Quem criticou: Carlos e Eduardo Bolsonaro, Olavo de Carvalho
  • Motivo: Denunciou estrutura de milícia digital bolsonarista durante a CPMI das Fake News.
Joice Hasselman na CPI Foto Fábio Pozzebom Agência Brasil
Foto: Fábio Pozzebom / Agência Brasil

“Tem uma quadrilha espalhada no Brasil”; “Eles escolhem uma pessoa e essa pessoa é massacrada.”

Foi hostilizada com incentivo de Bolsonaro

“Vamos fazer uma seleção melhor (…) tem uma que falava fica em casa, fica em casa, e foi na festa (do Arthur Lira sem máscara durante a pandemia)”

3. Mauro Cid – Ex-ajudante de ordens da Presidência

  • Data: Julho 2025
  • Quem criticou: Defesa de Bolsonaro (delatado)
  • Motivo: Cid afirmou ao STF que Bolsonaro leu e avaliou minuta de golpe e defesa nega atacando o delator.
Foto: Lula Marques / Agência Brasil

“Eu vi o presidente tocando a minuta… previa prisão de Moraes e novas eleições”

Defesa rebate:

“Ele tem memória seletiva”

4. Tarcísio de Freitas – Governador de São Paulo (Republicanos)

Tarcísio de Freitas
(Foto: divulgação)
  • Data: Julho 2025
  • Quem criticou: Eduardo Bolsonaro
  • Motivo: Adotou postura diplomática e moderada na crise com os EUA, sem defender anistia de Jair Bolsonaro.

 “Ensaboado”; “Atrapalha”; “Moderação traiçoeira.”

5. Nikolas Ferreira – Deputado Federal (PL-MG)

  • Data: Julho 2025
  • Quem criticou: Eduardo Bolsonaro e Alan dos Santos
  • Motivo: Publicou crítica ao bolsonarismo e se declarou “ex-bolsonarista”.
Nikolas e Zema – Fotomontagem Agência Câmara e Agência Brasil

  “Uma pessoa abjeta, que defende a minha prisão e de minha família” – “É triste ver a que ponto o Nikolas chegou.”

6. Romeu Zema – Governador de Minas Gerais (Novo)

  • Data: Julho 2025
  • Quem criticou: Eduardo Bolsonaro (reação indireta)
  • Motivo: Zema considerou que apoio de Eduardo ao tarifaço de Trump causou embaraço à direita.

 “Criou um embaraço… causou um problema para a direita.”

Eduardo retrucou: “Turminha da elite financeira”

7. Ronaldo Caiado – Governador de Goiás (União Brasil)

  • Data: Março 2020 / Setembro 2024
  • Quem criticou: Jair Bolsonaro / bolsonaristas em ato público em Goiânia
  • Motivo: Defendeu isolamento social na pandemia e foi chamado de “covarde”.
Foto: arquivo DG

 “Governador covarde! O vírus ia pegar todo mundo, não tinha como fugir do vírus…” dito por Bolsonaro

Também já ouviu de apoiadores do ex-presidente “Filho da p…!”

8. Gustavo Bebianno – Ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência

  • Data: Fevereiro 2019 / Morte em março 2020
  • Quem criticou: Carlos Bolsonaro (por exposição); depois, o próprio Jair Bolsonaro o demitiu
  • Motivo: Primeiro suspeita de financiamento de candidatos laranjas contra Bebiano, depois este denunciou tentativa de Carlos montar uma “ABIN paralela”.

“Mentiroso” – disse Carlos sobre conversa com entre o pai e o então ministro

O que disse Bebiano depois: 

“Carlos queria montar uma inteligência com um delegado e três agentes da PF.”

9. General Freire Gomes – Ex-comandante do Exército

  • Data: Maio 2025
  • Quem criticou: General Braga Neto, candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro
  • Motivo: Freire Gomes teria resistido ao plano de golpe e ameaçado prender Bolsonaro; acuado, foi acusado de mentir em depoimentos.
Jair-Bolsonaro-e-General-Marco-Antonio-Freire-Gomes minuta golpista governo bolsonaro
General Freire Gomes (farda escura) – Foto: reprodução

“Cagão” – afirma Braga Neto como o colega de farda e oferece a cabeça dele aos manifestantes

 “Jamais mentiria ao STF” – disse Freire Gomes para os ministros

10. General Otávio Rêgo Barros – Ex-porta-voz da Presidência

  • Data: Agosto / Outubro 2020
  • Quem criticou: Ala ideológica do governo / Carlos Bolsonaro e Fabio Wajngarten
  • Motivo: Foi isolado após não conseguir controlar a comunicação com a imprensa nem conter Carlos Bolsonaro.

Foi posto na “geladeira”: “Porta-voz que derreteu”; “Ficou meses sem exercer funções públicas.”

General Rêgo Barros Foto Fábio Pozzebom Agência Brasil
Foto: Fábio Pozzebom / Agência Brasil

Carlos Bolsonaro ironizava o trabalho dele perante a imprensa e ameaçava:

“[sei] exatamente o que acontece e por quem, mas não posso falar nada porque senão é ‘fogo amigo’. Então tá, né?! O sistema não parará!”


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