O professor e pós-doutor em Cinema Lisandro Nogueira fez uma crítica direta ao que definiu como a “fetichização” do Oscar no debate recente sobre o cinema brasileiro. Para ele, a premiação da Academia de Hollywood passou a ocupar um espaço desproporcional nas discussões culturais, desviando o foco de critérios estéticos e de festivais historicamente mais relevantes para a consolidação artística do audiovisual nacional.
A avaliação foi feita durante participação no podcast Domingos Conversa, apresentado pelo jornalista Domingos Ketelbey, nesta segunda-feira (29). Segundo Lisandro, o Oscar é прежде de tudo um evento da indústria cinematográfica norte-americana, no qual a dimensão artística não é prioridade. “O Oscar é uma festa da indústria do cinema americano. A questão estética ali é secundária”, afirmou.
De acordo com o professor, durante décadas o cinema brasileiro buscou reconhecimento em festivais como Cannes, Veneza e Berlim, espaços tradicionalmente associados a critérios artísticos mais rigorosos e a debates estéticos aprofundados. Esse movimento, segundo ele, mudou nos últimos anos, impulsionado pela lógica de mercado e pela busca por visibilidade global.
Lisandro relaciona essa mudança, em parte, à repercussão internacional de Ainda Estou Aqui, que conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional neste ano. Embora reconheça a qualidade das produções que chegam à premiação, ele ressalta que isso, por si só, não garante sucesso. “Filme muito bom tem vários”, disse, ao destacar que campanhas de marketing, lobby e o poder financeiro dos grandes estúdios são fatores decisivos na disputa.
Ao comentar expectativas em torno de novos títulos brasileiros, como O Agente Secreto, o professor ponderou que o reconhecimento internacional é positivo, mas não pode ser tratado como objetivo final. Para ele, existe o risco de reduzir o debate sobre cinema à conquista de prêmios, deixando em segundo plano a necessidade de políticas públicas permanentes para o fortalecimento da indústria audiovisual.
Na avaliação de Lisandro Nogueira, o cinema brasileiro precisa de planejamento, estrutura e políticas de Estado que garantam produção contínua, circulação das obras e formação de público. “O Oscar é um prêmio do marketing, do dinheiro e do lobby. Esteticamente, depois”, resumiu.
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