17 de novembro de 2024
INVESTIGAÇÃO ABERTA

Líder de Pacto Global da ONU no Brasil é acusado de favorecer DJ goiano Alok e ONGs

Pacto Global é uma iniciativa da ONU para engajar empresas justamente no desenvolvimento sustentável, mas porta-voz do grupo afirma que houve desvios; MPT investiga denúncias de assédio
CEO Carlo Pereira (de óculos) e diretor Otávio Toledo, do Pacto Global da ONU no Brasil - Foto: UOL / Divulgação
CEO Carlo Pereira (de óculos) e diretor Otávio Toledo, do Pacto Global da ONU no Brasil - Foto: UOL / Divulgação

O diretor do Pacto Global da ONU no Brasil, Otávio Toledo, está sendo investigado pelo Ministério Público do Trabalho por suposto assédio moral ao ser confrontado pelo uso da instituição para beneficiar outras organizações e firmar acordos sem contratos ou memorandos. O órgão recebeu denúncia de funcionários e ex-funcionários do Pacto apontando entre os supostos beneficiados o Instituto Alok, do DJ goiano Alok Petrillo, 33 anos, de quem Toledo é amigo, e as organizações internacionais Global Citizen e Togetherband.

As informações foram divulgadas com exclusividade neste domingo pelo portal Uol.  Conforme o portal, os profissionais enviaram uma denúncia ao MPT e o órgão instaurou inquérito civil.

Nos relatos ao MPT, segundo o UOL, eles denunciaram que discussões sobre a necessidade de transparência resultaram em assédio moral.

Oito denunciantes e outras testemunhas que trabalham ou trabalharam no Pacto Global que presenciaram as situações relatadas foram ouvidas para a reportagem.

Esses profissionais, conforme o portal, afirmaram que levaram reclamações relacionadas ao cumprimento de políticas do Pacto ao CEO do Pacto da ONU no Brasil, Carlo Linkevieius Pereira.

“Há relatos de conflitos de interesse, falta de transparência e greenwashing“— estratégia chamada de “lavagem verde”, usada para ajudar empresas que não têm ações sólidas de sustentabilidade a melhorar a imagem pública usando indevidamente a marca ONU, divulgou o UOL.

Segundo uma das testemunhas ouvidas pela reportagem, ocorre “um faz-de-conta: a organização finge que a empresa está engajada, a empresa melhora a imagem, mas nada muda estruturalmente”.

Crimes ambientais e apagão

Entre essas empresas, por exemplo, estariam uma companhia indiciada por crimes ambientais e outra acusada de apagões.

De acordo com uma das testemunhas, Toledo orientava decisões da área de captação de recursos apenas pelo dinheiro, sem passar projetos e prospecções pelo crivo da própria casa.

Segundo relatos, o CEO e o diretor respondiam com agressividade quando questionados sobre a falta de transparência de projetos que envolviam potenciais conflitos de interesses.

Patrocínio do BB

“Um dos gatilhos foi um questionamento sobre a ausência de contrato ou memorando (documento preliminar que formaliza acordo) enquanto se discutia um pedido de patrocínio ao Banco do Brasil, entre fevereiro e abril”.

Confrontado, segundo relatos, mais de uma vez, o CEO teria levantado a voz: “Quem manda nesse negócio sou eu. A última palavra é minha!”.

Havia, inclusive, medo de responsabilidade por parte dos profissionais: “Os autores da denúncia dizem que também questionaram os projetos pelo temor de serem responsabilizados por violações de políticas”, detalharam ao portal.

A advogada Juliana Bertholdi, porta-voz do grupo, afirma na reportagem que as vítimas do suposto assédio buscam é “que sejam resgatadas a transparência e a integridade da organização, para que não seja utilizada para agendas pessoais e em desacordo com seus princípios e diretrizes da ONU”.

O Pacto Global da ONU é uma iniciativa das Nações Unidas para engajar empresas justamente no desenvolvimento sustentável.

Procurado pelo UOL, Carlo Linkevieius Pereira afirmou que todos os projetos seguiram rigorosamente os trâmites previstos.

Já Otávio Toledo acrescentou que propostas do Pacto requerem sigilo. “Assim, como executivo da instituição, não posso me manifestar sobre elas.”

Procurados, Alok, Global Citizen e Togetherband ainda não responderam ao portal.


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