07 de agosto de 2024
Economia • atualizado em 13/02/2020 às 10:08

Lentidão da retomada da economia, e não reforma, explica corte de vagas

Apesar de a reforma trabalhista ter sido associada a demissões em massa no setor de educação e de saúde nas últimas semanas, não é possível relacionar sua entrada em vigor à queda do emprego no mês de novembro.

Houve mais demissões do que contratações no mês, com um saldo negativo de 12,3 mil vagas formais, divulgou o governo nesta quarta-feira (27).

O mês de novembro é marcado por demissões em setores específicos. Na indústria e na agricultura, o mês tem corte de vagas desde 2013. O comércio, por outro lado, costuma compensar com a criação de empregos sazonais de fim de ano, o que faz com que o mês geralmente feche com saldo positivo.

Em 2014, por exemplo, o comércio gerou 105 mil novos postos de trabalho em novembro. No ano passado, em meio à crise, foram criados apenas 60 mil postos no setor, e neste ano, 68 mil.

Antes da crise, o último mês de novembro com um saldo total negativo foi em 2008, com uma baixa de 40,8 mil vagas.

“No fim do ano, em novembro e em dezembro, a indústria tem desligamentos após o fim do ciclo de produção. Também há uma sazonalidade negativa na educação e na agropecuária”, afirma o assessor econômico da Fecomercio-SP, Jaime Vasconcellos.

Em dezembro deste ano, Vasconcellos prevê que a queda nas vagas deve ser ainda pior, mas não deve chegar ao tombo de 462,3 mil vagas fechadas no último mês do ano passado.

“Os valores são negativos, mas um pouco menores do que no ano passado, o que mostra que, no segundo semestre, conseguimos estancar a perda de empregos”, diz Vasconcellos.

Analistas ouvidos pela Reuters estimavam que fossem geradas 22 mil vagas em novembro. “Se você pensar que há quase 39 milhões de postos de carteira assinada, 22 mil a mais ou 12 mil a menos é estabilidade”, afirma Hélio Zylberstajn, professor de economia da USP (Universidade de São Paulo).

“Novembro não é um mês bom, e dezembro é um mês de demissões. Mas já há sinais tênues de retomada para o ano que vem”, diz Zylberstajn.

OBRAS PARADAS

Na construção civil, a queda foi de 22 mil vagas em novembro. “Não houve ainda um efeito da reforma trabalhista, porque as obras estão paradas”, diz Fernando Guedes, presidente da comissão de relações trabalhistas da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

“A capacidade do poder público de investir foi praticamente a zero, e, no setor privado, há dificuldade para destravar as obras”, afirma Guedes. Neste ano, até setembro, a construção civil caiu 6,1% em relação a 2016, segundo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O governo incluiu, no total de vagas de novembro, novas modalidades de trabalho criadas pela reforma trabalhista, como o trabalho intermitente (que gerou 3.067 vagas) e jornada parcial (que gerou 231).

A maior parte dos contratos intermitentes -nos quais o trabalhador ganha por hora e é convocado com três dias de antecedência- foram firmados no comércio (2.822), seguido de serviços (185) e construção civil (44).

“A reforma trabalhista fez com que a contratação sazonal fosse mais precária que de costume”, diz Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores). “Mas o saldo negativo é resultado da crise, que perdura no baixo consumo das famílias.”

Enquanto sindicalistas afirmam que a reforma pode agravar a precarização do emprego, patrões defendem que ela irá gerar novos postos de trabalho.

“Haverá um período de adaptação, mas sem dúvidas todos ganharão”, diz Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma, que representa a indústria farmacêutica. “Não acredito que o fechamento de alguns postos de trabalho em novembro seja efeito da reforma.”

DEMISSÕES

Em novembro, mais de 100 profissionais foram dispensados em hospitais do grupo Leforte, em São Paulo, para que o setor de fisioterapia do grupo fosse terceirizado. A dispensa coletiva foi barrada na Justiça.

Em dezembro, diversas faculdades demitiram professores, como Estácio, Cásper Líbero, Metodista e Anhembi Morumbi, o que sindicatos associaram à reforma trabalhista.

“Dizer que isso tem relação com a reforma é pura bobagem”, diz Zylberstajn, da USP. “É uma jogada para reduzir o custo deles em um momento de crise do Prouni, que teria acontecido com ou sem a reforma.”

Sejam ou não motivados pela reforma, desligamentos desse tipo não são grandes o suficiente para afetar o resultado geral da estatística de emprego, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, já que houve 1,111 milhão de admissões e 1,124 demissões em novembro no país.

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