Esqueça os cafés esfumaçados de Amsterdã. Nos EUA, a maconha virou matéria-prima de uma nova indústria bilionária em ascensão, estimulando o surgimento de produtos variados e experiências inusitadas para os setores do turismo e do bem-estar.
Embora legalizada para maiores de 21 anos em oito Estados americanos, a planta ainda é considerada uma substância ilegal pelo governo federal, do mesmo nível que a heroína. Seu uso recreativo é controverso entre médicos, que alertam sobre chances de dependência e piora em quadros psiquiátricos, como depressão, ansiedade e esquizofrenia.
Enquanto a legalização completa não chega, e parece mais longe com o governo de Donald Trump, turistas americanos e estrangeiros tomam conta de cidades onde o comércio floresce de forma razoavelmente organizada desde 2014, com lojas que vendem a droga em uma variedade sem fim de produtos, de pastilhas de microdosagens, chocolates finos e refrigerantes a pílulas para cólicas menstruais, géis eróticos e pomadas para dor.
“Percebemos que toda a experiência de comprar e consumir cannabis está mudando”, disse a empresária Emily Paxhia, cofundadora do fundo de investimentos Poseidon Asset Management, dedicado a firmas da indústria da maconha, ou cannabis, como os profissionais da área preferem.
“Não é mais apenas a procura por ficar bem louco e sim uma busca por uma experiência completa. Visitar uma loja agradável e bonita, frequentar clubes sociais. Existem muitas conversas sobre espaços em potencial para degustações”, diz. “A cannabis sempre teve apelo social. E agora estamos começando a entender como criar experiências ao redor dela.”
Analistas acreditam que o mercado tenha potencial de crescer dos atuais US$ 6 bilhões para US$ 50 bilhões em uma década, impulsionado principalmente pela Califórnia, maior PIB dos EUA e sexto do mundo, à frente de Brasil e França. Os californianos votaram pela legalização em 2016, e o comércio vai começar em 2018.
É no extremo norte do Estado que ficam as plantações de Humboldt County, um marco zero da produção de maconha de alta qualidade no mundo e que abastece todo o país, tanto o mercado legal como ilegal. A região é quase o dobro de tamanho dos vales vizinhos do vinho Napa e Sonoma.
AIRBNB CANÁBICO
No Colorado e em Washington, Estados pioneiros no comércio legal, o turismo da planta está por todos os lados. Há panfletos de ônibus que levam por lojas, aulas de gastronomia e visitas a pequenas plantações em estufas, além de diversos sites de hospedagens com casas particulares ou hotéis que recebem usuários sem preconceito. Isso resolve o principal problema do turista, já que é proibido fumar ou consumir em lugares públicos, incluindo nas próprias lojas ou tours.
O BudandBreakfast.com, por exemplo, imita o formato do Airbnb, mas com ferramentas que detalham como a droga pode ser usada: pode-se fumar apenas no quintal, só com vaporizador ou, se for liberado, nos quartos.
“Os donos acham que os turistas de cannabis são mais respeitosos e interessantes do que a típica molecada universitária ou galera de 20 e poucos anos. Isso minimiza os riscos de danos às propriedades”, diz o site.
O empresário Michael Gordon, 29, começou a Kush Tourism com uma van que circulava por lojas de Seattle e hoje é uma marca que abrange parceiros em seis Estados. O site oferece hospedagens, atividades e até transporte especializado. “As ruas de Seattle, numa sexta-feira à noite, cheiram bastante a maconha e ninguém parece se importar mais”, disse Gordon. “Nunca vi alguém multado, mas bom senso sempre ajuda.”
Mais de 20% de seus clientes são estrangeiros. “Há muitos do Canadá e Europa. E, por alguma razão, muitos brasileiros e australianos.”
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