A corrupção que apareceu com a Operação Lava Jato, considerada a maior investigação do mundo sobre essa questão, é pequena quando comparada às fraudes que ocorrem nos municípios brasileiros.
A opinião é do ministro da Justiça, Torquato Jardim, que falou sobre a questão em debate realizado nesta quinta (15) no Fórum Econômico Mundial para a América Latina, em São Paulo.
“O que se conhece da Lava Jato é 10% [do problema geral], é a ponta do iceberg”, afirmou Jardim.
Segundo o ministro, contribui para a cultura do suborno o fato de o jornalismo independente brasileiro ficar concentrado em cinco Estados brasileiros. Na avaliação dele, não há jornais fazendo cobranças sobre ética no setor público em 80% do território nacional.
O ministro citou uma auditoria feita pela CGU (Controladoria Geral da União) para respaldar a sua opinião de que a Lava Jato é pequena. Segundo ele, o controle da CGU revelou que dois terços dos municípios fraudavam a compra de merenda escolas.
Jardim disse que o Brasil tem uma “corrupção estrutural” e colocou a culpa no tamanho do Estado: “Enquanto o Estado for do tamanho que é, teremos corrupção”.
De acordo com ele, a lei brasileira permite 32 maneiras de fazer compras públicas sem concorrência, o que eleva o risco de suborno.
Também participaram do debate a advogada argentina Delia Ferreira Rubio, presidente da Transparência Internacional, a mais reputada organização de combate à corrupção no mundo, a mexicana Denise Dresser, do Itam (Instituto Tecnológico Autônomo do México), e Paula Belizia, presidente da Microsoft no Brasil. O debate, sobre como romper o ciclo da corrupção, foi mediado por José Antonio Vera, presidente da agência de notícias Efe.
“A primeira coisa a fazer é romper o ciclo da impunidade”, afirmou Rubio.
Segundo ela, a chegada de empresários ao poder público na América Latina, com a eleição de grupos de centro-direita, trouxe um problema a mais: o conflito de interesses.
A pesquisadora disse que a sociedade civil precisa encontrar meios para canalizar a energia após a indignação que acompanha os escândalos.
Há ainda uma mudança na sociedade que precisa chegar aos políticos: “Temos de revisar o que a sociedade acha que é aceitável”.
Dresser, que vem do México, endossou a ideia de Rubio de que é preciso rediscutir o que é suborno segundo as novas exigências dos eleitores e defendeu a educação: “Temos de educar a população sobre o que é corrupto ou não. O que antes era válido agora não é mais”.
A pesquisadora mexicana afirmou que é fundamental incorporar o setor privado no combate à corrupção e fortalecer o jornalismo independente.
A presidente da Microsoft no Brasil defendeu o uso de tecnologia para atacar a cultura do suborno.
Segundo ela, já há tecnologias de inteligência artificial e “big data” (uso de dados em grande escala) que permitem saber de antemão se uma licitação é dirigida para determinada empresa ou se há cartel.
“A tecnologia é um meio de quebrar o ciclo da corrupção”, disse Paula Belizio. (Folhapress)
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