Buenos Aires – O candidato kirchnerista Daniel Scioli venceu neste domingo, 9, a eleição primária de participação obrigatória disputada na Argentina. Segundo resultados de boca de urna, entretanto, os votos que o ex-piloto de lancha e atual governador da Província de Buenos Aires conquistou não seriam suficientes para levar o governismo a uma vitória no primeiro turno da disputa presidencial, em 25 de outubro.
Até as 22 horas, quando a apuração oficial ainda não havia começado, as únicas certezas entre os institutos de pesquisa eram a vitória de Scioli e de seu grupo político, a Frente pela Vitória (FPV), e a ordem dos opositores que o seguiram.
Em segundo lugar, ficou o conservador Mauricio Macri, prefeito de Buenos Aires, que venceu a interna da coalizão Cambiemos, formada ainda pelo senador Ernesto Sanz, da União Cívica Radical (UCR) e pela deputada Elisa Carrió (ARI). Em terceiro, terminou o grupo UNA, liderado por Sergio Massa, que venceu na interna a José de la Sota.
Fontes da campanha de Scioli estimavam que ele havia alcançado 38% dos votos. Para evitar um segundo turno, um candidato precisa obter 45% dos votos válidos ou 40%, desde que consiga 10 pontos porcentuais sobre o segundo colocado. “Foi um triunfo categórico. Uma distância grande da chapa de Macri e da liderada por Mass”, limitou-se a dizer Alberto Pérez, chefe de campanha de Scioli.
Não era possível saber a diferença entre as coalizões de Macri e Massa, dado decisivo para se deduzir se haverá uma polarização até outubro -o que era uma tendência nos últimos meses, pela queda de Massa nas pesquisas -, ou se os opositores travarão uma disputa para enfrentar Scioli em 22 de novembro, no segundo turno. Um triunfo por larga margem de Macri sobre Massa tenderia levar o “voto útil” para o candidato conservador. Um equilíbrio entre os dois opositores favoreceria Scioli.
Regional decisiva. Na disputa pela nomeação para representar o governismo na eleição pelo comando da Província de Buenos Aires, o número 2 do kirchnerismo, Aníbal Fernández, aparecia, também segundo bocas de urna, à frente do presidente da Câmara dos Deputados, Julián Domínguez. A votação regional, que já era importante pelo número de eleitores – 37% do país – ganhou relevância por uma denúncia feita há oito dias de envolvimento de Fernández com o narcotráfico e um triplo homicídio há sete anos. O tema será um dos centros da campanha nos 77 dias até a eleição. A denúncia foi feita por um dos condenados pelo crime no programa Periodismo para Todos, do jornalista Jorge Lanata. O condenado a prisão perpétua disse que Fernández recebeu US$ 5 milhões com venda de efedrina, usada na fabricação de êxtase. Fernández se declarou inocente e creditou a acusação a seu colega de partido e rival na primária, Domínguez. O duelo expôs uma divisão no kirchnerismo.
Adeus.A primária marcou o início da despedida de Cristina Kirchner do poder. Ela governou nos últimos oito anos e permanecerá na Casa Rosada até 10 de dezembro. A presidente votou em Río Gallegos, na Província de Santa Cruz, base política da família, às 12h20. Ela falou que nunca o país passou por uma eleição presidencial sem uma crise institucional. “Neste aspecto, é uma votação inédita”, afirmou, depois de pedir aos repórteres que se agachassem para que as câmeras pudessem enquadrá-la melhor.
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