23 de dezembro de 2024
MANIPULAÇÃO DE JOGOS • atualizado em 23/07/2024 às 15:35

Kajuru e Girão chamam Lucas Paquetá para depor na CPI da manipulação de jogos e apostas

Senador goiano que preside CPI e seu vice querem ouvir jogador da Seleção que joga na Inglaterra, que foi denunciado pela federação inglesa; contexto que formou a CPI iniciou com denúncia em Goiás
Presidente da CPI, Kajuru assina o convite ao jogador da Seleção junto com Girão - Foto: Marcos Oliveira / Agência Senado
Presidente da CPI, Kajuru assina o convite ao jogador da Seleção junto com Girão - Foto: Marcos Oliveira / Agência Senado

A CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, em curso no Senado Federal, quer ouvir no segundo semestre o jogador Lucas Paquetá, meio-campista do time inglês West Ham e da Seleção Brasileira de Futebol. Os requerimentos de convite ao atleta foram apresentados pelo presidente da comissão, o senador goiano Jorge Kajuru (PSB), e pelo vice-presidente, senador Eduardo Girão (Novo-CE), e aprovados em 18 de junho. A CPI deve ser prorrogada até o fim do ano.

A suspeita é de que mais de 300 partidas de futebol tenham sofrido manipulação dos resultados. A CPI apura fatos relacionados às denúncias e suspeitas de manipulação de resultados no futebol brasileiro, envolvendo jogadores, dirigentes e empresas de apostas. 

Jorge Kajuru e Eduardo Girão consideram fundamental o depoimento de Lucas Paquetá. Os parlamentares relacionam notícias veiculadas na imprensa segundo as quais o jogador teria sido denunciado pela Federação Inglesa de Futebol (a FA, ou The Football Association na sigla em inglês) por má conduta com relação a apostas em quatro jogos da Premier League. 

Paquetá teria forçado cartões

Em seus requerimentos, os senadores mencionam a acusação formal, conforme divulgou a Agência Senado na tarde desta terça-feira (23). Segundo essa acusação,  Paquetá teria forçado cartões amarelos em quatro partidas entre novembro de 2022 e agosto de 2023. 

Na justificativa do convite ao jogador, Kaguru argumenta que os fatos tiveram repercussão no Brasil. E cita que “algumas dezenas de apostadores residentes na área de origem do jogador (a ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro) apostaram nos cartões amarelos do atleta e, por isso, fizeram jus à premiação. 

A data do comparecimento de Paquetá à CPI ainda será definida.

Jogador abriu empresas de jogos, revelou jornal

Em junho, o jornal O Extra mostrou que Paquetá abriu uma empresa para explorar “jogos eletrônicos recreativos”. A Paquetá 10 Esportes LTDA, com capital social de R$ 345 mil, foi aberta no dia 13 de dezembro de 2022, com sede no Rio de Janeiro.

A fundação da empresa do jogador aconteceu um mês após o jogo entre o West Ham, e o Leicester, no dia 12 de novembro de 2022. Nessa partida o jogador levou um cartão amarelo. Segundo o jornal, foi a primeira partida colocada sob suspeita pela Federação Inglesa de Futebol. A FA investiga se Paquetá teria cometido a infração para favorecer apostas feitas por amigos.

Ainda segundo o Extra, em 23 de maio, Lucas Paquetá publicou um post no Instagram defendendo-se das acusações. Ele não é acusado de ter recebido dinheiro das apostas, mas de ter beneficiado amigos que moram na Ilha de Paquetá, onde o jogador morou.

“Estou extremamente surpreso e chateado com o fato de a FA ter decidido me acusar. Cooperei com todas as etapas da investigação e forneci todas as informações que pude durante estes nove meses. Nego as acusações na íntegra e lutarei com todas as minhas forças para limpar meu nome. Devido ao processo em andamento, não fornecerei mais comentários”, publicou na época.

Nesta terça, a reportagem do DG não conseguiu localizar o contato do jogador para falar sobre o convite da CPI e a equipe dele ainda não respondeu uma mensagem privada enviada pelas redes sociais.

Arquivos da Receita e da Polícia Federal

Ainda conforme a Agência Senado, Kajuru adiantou que há elementos suficientes para estender os trabalhos da CPI pelo menos até dezembro, mediante a chegada de novos documentos. De acordo com ele, a comissão recebeu novos arquivos da Receita Federal e da Polícia Federal que precisam ser analisados.

Para o parlamentar, há vários fatos que justificam o pedido de prorrogação da comissão, cujos trabalhos terminariam em 7 de outubro. A comissão parlamentar de inquérito foi instalada em 10 de abril, com prazo inicial de funcionamento por 180 dias.

“A gente vai até o recesso natalino. É a nossa posição porque, além do que chegou para nós da Receita e da Polícia Federal, tudo muito grave, temos 109 partidas que trouxeram a confirmação de manipulação de resultados por meio da empresa Esporte Radar, contratada pela CBF [Confederação Brasileira de Futebol]. Temos outras 200 partidas, de 2020 até hoje, com suspeitas de manipulação. De 109, subimos para 309 partidas. Creio, então, que está justificado o pedido de prorrogação desta CPI”, declarou Kajuru em entrevista à TV Senado em 11 de julho. 

MP de Goiás viu aliciamento

Em 11 de junho, o procurador-geral do Ministério Público de Goiás, Cyro Terra Peres, e o promotor de Justiça Fernando Martins Cesconetto, declararam na CPI que jogadores foram aliciados para receber cartões amarelos ou vermelhos de propósito. O depoimento foi sobre a Operação Penalidade Máxima, que investigava um grupo acusado de oferecer dinheiro para jogadores de futebol receberem punições em campo. 

Denúncia do presidente do Vila Nova desencadeou investigações sobre manipulação de jogos

As investigações sobre fraudes em partidas de futebol no estado de Goiás começaram em novembro de 2022, após uma denúncia do presidente do Vila Nova Futebol Clube, Hugo Jorge Bravo, que é policial militar. O presidente do time goiano denunciou a manipulação em três jogos da Série B do Campeonato Brasileiro para favorecer apostadores.

Segundo os depoentes, os atletas também teriam sido usados para segurar a derrota parcial por tempo determinado, em troca de propinas que chegavam a R$ 500 mil.

CPI também ouviu, entre outros, integrantes da CBF e do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), árbitros de campo e de VAR (vídeo) e dirigentes de clubes de futebol — como a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, e o proprietário da SAF (Sociedade Anônima de Futebol) Botafogo, o empresário John Textor.


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