19 de dezembro de 2024
Brasil

Justiça prorroga a prisão de três investigados na Operação Carne Fraca

A Justiça decretou na madrugada desta quarta-feira (22) a prorrogação por cinco dias da prisão temporária de três pessoas suspeitas de envolvimento na venda ilegal de carnes por frigoríficos.

Os investigados Brandizio Dario Junior, 50, Rafael Nojiri Gonçalves, 26, e Antonio Garcez da Luz, 59, estão presos na carceragem da Superintendência Regional da Polícia Federal no Paraná.

A prisão dos três suspeitos ocorreu na última sexta-feira (17) na Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal. Alguns dos principais frigoríficos do país foram alvo da operação, como BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, e JBS, dona das marcas Seara e Big Frango.

A Justiça Federal do Paraná determinou o bloqueio de R$ 1 bilhão das investigadas. No total, cerca de 30 empresas foram alvo da operação, incluindo fornecedoras dos grandes frigoríficos.

O objetivo da operação foi desarticular uma suposta organização criminosa liderada por fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura, que, com o pagamento de propina, facilitavam a produção de produtos adulterados, emitindo certificados sanitários sem fiscalização.

A investigação revelou até mesmo o uso de carnes podres, maquiadas com ácido ascórbico, por alguns frigoríficos, a re-embalagem de produtos vencidos e até papelão na produção de embutidos.

Entre os presos, estavam executivos da BRF como Roney Nogueira dos Santos, gerente de relações institucionais e governamentais, e André Baldissera, diretor da BRF para o Centro-Oeste.

Também estavam na lista funcionários da Seara e do frigorífico Peccin -um dos que tinha irregularidades gravíssimas, como uso de carnes podres, segundo a PF-, além de fiscais do Ministério da Agricultura.

A investigação apontou que os frigoríficos exerciam influência direta no Ministério da Agricultura para escolher os servidores que iriam efetuar as fiscalizações na empresa, por meio do pagamento de vantagens indevidas. Roney dos Santos, executivo da BRF, tinha acesso inclusive ao login e senha do sistema de processos administrativos do órgão, de uso interno.

“Parece realismo mágico. Infelizmente, não é”, disse o juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal do Paraná, que determinou as prisões.

“Dedo”, “luva” e “documento” eram alguns dos termos usados pelos fiscais agropecuários para o pedido de propina. Mas até mesmo caixas de carne, frango, pizzas, ração para animais e botas eram dadas em favor pela vista grossa na fiscalização, disse o juiz Josegrei.

“É um cenário desolador”, afirmou Josegrei. “Resta claro o poderio de intimidação, de influência e de uso abusivo dos cargos públicos que ostentam para se locupletarem, recebendo somas variáveis de dinheiro e benesses in natura das empresas que deveriam fiscalizar com isenção e profissionalismo.”

De acordo com a Receita Federal, que também participou da investigação, os fiscais valeram-se de distribuição de lucros e dividendos de empresas fantasmas, da montagem de redes de fast food em nome de testas de ferro e da compra de imóveis em nome de terceiros para esconder o aumento de patrimônio.

O líder do esquema, segundo a PF, era o fiscal Daniel Gonçalves Filho, que foi superintendente do escritório do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016.

Ele atuava em parceria com pelo menos outros oito servidores do órgão, além de Flávio Evers Cassou, atual executivo da Seara Alimentos, ligada à JBS, que também atuou como fiscal agropecuário entre 2009 e 2014.

A operação cumpriu 27 mandados de prisão preventiva, 11 de temporária (válida por cinco dias) e 194 buscas e apreensões.


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