23 de dezembro de 2024
Mundo • atualizado em 13/02/2020 às 09:54

Jornal de oposição a Putin diz que vai dar armas para seus profissionais

Um dos principais jornais de oposição ao governo de Vladimir Putin, o “Novaia Gazeta”, anunciou nesta sexta (27) que irá distribuir armas que disparam balas de borracha para que seus profissionais possam se defender de ataques.

A medida ocorre dois dias depois que a apresentadora de rádio Tatiana Felgenhauer foi esfaqueada no estúdio da rádio “Eco de Moscou” -a única estação independente do Kremlin no país. O homem que a atacou foi preso, e o governo trata o caso como um evento motivado por “loucura”. Tatiana segue internada.

“Eu vou armar a redação. Vamos fornecer outras medidas de segurança aos jornalistas, que não irei revelar. Não temos outra opção”, disse à imprensa russa o editor-chefe do “Novaia Gazeta”, Dmitri Muratov.

Ele afirmou que está em negociações com o Ministério do Interior da Rússia, que regula o porte de armas no país. O adjunto de Muratov, Sergei Sokolov, disse por sua vez que “se o Estado não está pronto para nos proteger, nós vamos nos proteger sozinhos”. A publicação emprega cerca de 20 jornalistas.

Recentemente, a fabricante de armas Kalashnikov, que produz o famoso fuzil AK-47, divulgou que daria desconto de 10% para jornalistas interessados em adquirir pistolas de pressão que disparam balas de borracha.

Quatro jornalistas do “Novaia Gazeta” ou morreram misteriosamente ou foram ameaçados desde os anos 2000. O caso mais famoso foi o de Anna Politkovskaia, assassinada em 2006. Ela era uma repórter investigativa e crítica aberta de Putin.

O jornal foi fundado em 1993 com a ajuda do último presidente soviético, Mikhail Gorbatchov, que usou o dinheiro que ganhou ao receber o Prêmio Nobel da Paz de 1990 para equipar a redação. Os antigos computadores estão lá ainda, no hall de entrada do jornal. A publicação circula três vezes por semana, com tiragem de cerca de 180 mil exemplares.

Desde a elevação de Putin ao poder, em 2000, a “Novaia Gazeta” assumiu um tom explicitamente oposicionista. Recebeu prêmios internacionais de liberdade de imprensa, e recentemente foi vítima de ameaças após publicar reportagens sobre a perseguição a homossexuais na Tchetchênia.

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