O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa se desfiliou do PSB para retomar as conversas sobre eventual candidatura ao Palácio do Planalto. Barbosa manteve, nos últimos meses, interlocução com empresários, economistas, investidores e políticos. O ministro aposentado deve iniciar diálogo com PSD e União Brasil, partidos que se mostram abertos para recebê-lo.
Os movimentos de Barbosa se dão de forma cautelosa, como é próprio do seu estilo. Entre seus principais interlocutores estão um ex-sócio de Paulo Guedes na gestora de recursos JGP, o apresentador Luciano Huck, o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga e o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung
Barbosa se desfiliou há pouco mais de dez dias do PSB. Depois de ingressar no partido, em 2018, e ensaiar uma candidatura presidencial, ele desistiu da postulação logo depois. Não manteve nenhum convívio na legenda. A desfiliação de Barbosa foi revelada pela colunista Daniela Pinheiro, do UOL. “Estou livre, estou solto”, disse ele, cuja passagem no Supremo ficou marcada pela relatoria do inquérito do mensalão, que condenou a cúpula do PT.
A interlocutores, Barbosa tem dito que analisa o quadro eleitoral e que suas conversas são embrionárias. Em encontros privados, porém, ele tem feito consultas sobre eventuais credenciais que levaria para uma futura campanha. A decisão de se desfiliar do PSB se cristalizou após o partido iniciar negociações para uma federação com o PT. O ministro aposentado, conforme pessoas próximas, antes de abrir diálogo com outras legendas, queria primeiro comunicar a saída ao presidente do PSB, Carlos Siqueira.
Movimento
As possibilidades são tratadas com reticências. A expectativa no entorno de Barbosa é de que ele se reúna na próxima semana com o presidente do PSD, Gilberto Kassab. Outra frente está sendo aberta com ACM Neto e Mendonça Filho, ambos do antigo DEM, hoje União Brasil. Procurados, ACM Neto e Mendonça Filho não se manifestaram. A assessoria de Kassab afirmou que o partido deve ter candidatura própria ao Planalto e o pré-candidato, “por ora”, é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG).
Um dos principais “torcedores” por uma candidatura do ministro aposentado é Arlindo Raggio Vergaças, que, em 1998, fundou a JGP, gestora que tinha como sócio o atual ministro da Economia, Paulo Guedes. Na semana passada, Vergaças foi o anfitrião de um encontro no qual Barbosa fez um relato de sua trajetória, lembrando a infância humilde no noroeste de Minas, a mudança para Brasília, os estudos e o ingresso no serviço público como tipógrafo do Senado, ponto de partida para a ascensão à Corte máxima do País. A reunião no apartamento na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, juntou políticos, empresários e acadêmicos. Alguns deles saíram com a impressão de que Barbosa ensaia um discurso de candidato.
Segundo apurou o Estadão, Huck também recebeu Barbosa recentemente em sua casa para um jantar em que o tema foi a política nacional. Os dois são amigos – o filho de Barbosa integrou a equipe de produção do Caldeirão do Huck, antigo programa do apresentador. Outro interlocutor é Hartung, que negocia a filiação ao PSD de Kassab.
Centro
Para aliados de Barbosa, o cenário segue aberto na terceira via, e a pré-candidatura de Sérgio Moro (Podemos), para decolar, precisa de uma mudança no cenário polarizado que diminua seu índice de rejeição. O ex-juiz da Lava Jato se encontrou com o ministro aposentado em janeiro. Como noticiou o UOL, Barbosa avaliou que Moro se precipitou e “saiu muito cedo” da área jurídica. “Está apanhando adoidado”, afirmou.
O ex-presidente do STF considerou ainda uma chapa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador Geraldo Alckmin uma “jogada de mestre”, mas disse que o PT não pode comemorar antes da hora: “Esse jogo está longe de estar definido, como os analistas estão dizendo. Tem que observar, ver o que vai acontecer ainda. É preciso esperar o começo da campanha de verdade”.
Incentivadores de uma candidatura apostam na capacidade de Barbosa de atrair votos na esquerda e na direita, além de representar temas latentes como o combate ao racismo. Lembram o fato de que, mesmo sem se lançar candidato, ele chegou a aparecer com 10% das intenções de voto em 2018.
Por Luiz Vassallo; colaboraram Pedro Venceslau e Eduardo Kattah, Estadão Conteúdo
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