22 de novembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 09:37

Janot e JBS já discutem revisão de acordo

A equipe do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e a J&F, controladora do frigorífico JBS, começaram a discutir a possibilidade de rever o acordo de delação premiada da empresa homologado em maio.

A retificação, que pode culminar no cancelamento do acordo, é consequência da polêmica envolvendo o áudio de Joesley Batista, sócio do grupo, e Ricardo Saud, ex-executivo da empresa.

A gravação levanta a suspeita de que o ex-procurador Marcello Miller, que trabalhou por três anos com Janot, atuou na negociação da delação da JBS antes de se desligar oficialmente do órgão, em 5 de abril.

Janot já decidiu pedir ao ministro Edson Fachin, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, a revogação da imunidade aos delatores, entre eles Joesley Batista.

Para ele, houve patente descumprimento de dois pontos de uma cláusula do acordo de delação que tratam de omissão de má-fé, o que justificaria rever os benefícios.

É alta a possibilidade de o procurador-geral pedir a prisão dos delatores a Fachin, incluindo a da próprio Miller, que depôs na sexta (8) no Rio.

Segundo interlocutores da PGR (Procuradoria-Geral da República), a JBS já foi informada das intenções de Janot. Diante disso, a empresa atua para “reduzir danos”, passando a admitir nos bastidores a possibilidade de repactuar as cláusulas do acordo homologado por Fachin em troca de evitar sua anulação.

A JBS considera que, com o episódio do áudio, terá, por exemplo, que aumentar o valor da multa acertada no acordo de delação.

No acerto, os delatores da empresa se comprometeram a pagar um total de R$ 225 milhões. O montante foi considerado baixo considerando os ilícitos cometidos pelo grupo.

No caso da Odebrecht, a multa dos delatores, por exemplo, se soma em meio bilhão de reais.

Em relação a medidas cautelares, como prisão, a JBS vai esperar a posição que será enviada por Janot a Fachin antes de sugerir algo -como detenção domiciliar, por exemplo.

Representantes do frigorífico foram informados que o procurador-geral decidirá como proceder até segunda-feira (11), após os investigadores ouvirem todos os envolvidos no caso.

Segundo apurou a reportagem, os delatores aceitam negociar, mas já traçaram a estratégia para evitar a rescisão.

O caminho da defesa tem sido argumentar à Procuradoria que a empresa apresentou um volume de provas considerável, entre eles as obtidas em ação controlada, como a mala de R$ 500 mil entregue ao ex-assessor do presidente Michel Temer Rodrigo Rocha Loures.

Por meio da ação controlada, os policiais também filmaram o primo do senador Aécio Neves (PSDB-MG) recebendo dinheiro em espécie.

Na avaliação de um interlocutor da empresa, essa é a “rainha de todas as provas” por mostrar um crime que está em curso.

Representantes da JBS alegam que tirar o benefício dado aos delatores, mas usar as provas colhidas, será a destruição do instituto da delação.

A JBS destaca também que apresentou recentemente mais 50 anexos, além do áudio que gerou a polêmica.

Advogados e delatores têm insistido junto à PGR que a gravação não traz crimes e que não houve omissões, por isso o acordo deveria mantido, mesmo que com revisões.

Na quinta (7), Joesley, Saud e o advogado e também delator Francisco Assis e Silva depuseram por cerca de dez horas à PGR, em Brasília.

Joesley afirmou que não recebeu orientações de Miller para negociar um acordo de delação, nem para gravar Temer no encontro no Palácio do Jaburu, em 7 de março.

Todos relataram que consultaram Miller em linhas gerais sobre o processo de delação e que acreditavam que ele já havia saído da PGR na época. Afirmaram ainda que nenhum das gravações foi feita por orientação dele.

Joesley disse no depoimento que foi apresentado a Miller por Francisco Assis e Silva porque estava à procura de alguém para a área de anticorrupção da empresa

No áudio, além de citar a ajuda de Miller, os delatores falam sobre o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, e os ministros do Supremo Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. (Folhapress)

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