Em uma edição cheia de produções hollywoodianas e de caráter politizado, nada mais coerente que o Festival de Veneza de 2017 escolhesse duas estrelas americanas e ativistas para homenagear. Jane Fonda, 79, e Robert Redford, 81, receberiam, na sexta-feira (1º), um Leão de Ouro especial pela carreira.
Dois dos maiores astros das décadas de 1960 e 70, Fonda e Redford já fizeram quatro filmes juntos e estão em Veneza também para promover o mais novo deles -“Our Souls at Night”, de Ritesh Batra, produção Netflix exibida fora de competição.
“A primeira vez que encontrei Robert no estúdio [nos anos 60], vi as secretárias olharem para ele e dizerem: ‘Uau! Ali vem ele’. Pude sentir ali o que ele se tornaria”, disse Fonda em entrevista à imprensa.
“E ainda continua sendo assim”, completou Redford, arrancando gargalhadas.
O filme, inspirado no romance “Nossas Noites”, de Kent Haruf, mostra dois vizinhos que, por décadas, mal se falaram, mas que começam a se conhecer melhor já na maturidade.
Tudo começa quando a personagem de Fonda propõe ao de Redford: “Vamos dormir juntos?”.
Não, não é um convite sexual (ao menos não ainda), mas uma forma de enfrentar as noites na companhia de alguém de confiança. Delicado, apesar de banal, o filme mostra que sempre é tempo para o encontro de duas almas solitárias.
“Para mim o [diretor] Ritesh cortou a cena cedo demais. Ou será que foi o Robert quem pediu? Eu amo cenas de sexo. Vivo pra isso”, brincou a atriz. “Hoje eu sei o que o meu corpo quer. [Na maturidade] você se conhece bem mais. O sexo é melhor.”
Se faziam elogios mútuos e falavam pelos cotovelos do novo filme, os atores foram escorregadios diante de temas mais sérios. Apesar do histórico engajado, evitaram falar de política, a despeito da insistência dos jornalistas.
Esperava-se algum discurso crítico a Trump ou aos EUA. Mas, no máximo, proferiram falas genéricas sobre uma ou outra questão mais atual. “O mais importante agora é salvar o planeta”, disse Fonda, em tom ecológico. Já Reford foi bem direto: “Não quero entrar em política”.
WEI WEI
Se a dupla fugiu do assunto, o artista chinês Ai Weiwei fez o esperado e mostrou engajamento. Ele apresentou na competição o documentário “Human Flow”, sobre o status de refugiados pelo mundo. “Temos que entender que essa situação não é sobre os refugiados, mas sobre todos nós”, disse o artista.
Apesar de muito aguardado, o filme foi recebido com aplausos mornos. Embora comovente, é um tanto longo e cansativo, além de ser um projeto ambicioso demais.
Algumas cenas são desoladoras, mas a tragédia é por vezes aliviada pela própria presença de Weiwei, o artista superstar, que interage com refugiados, em geral em instantes de descontração.
Apesar da decepção de muitos, há rumores de que o longa possa sair com algum prêmio, mais pela relevância do tema que pelo filme em si. (Folhapress)
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