Após a polêmica envolvendo um médico da Cidade de Goiás onde ele gravou um vídeo de seu funcionário, um homem negro, acorrentado pelos pés, mãos e com uma argola em seu pescoço, ironizando a escravidão e em seguida dizendo que tudo não passou de uma ‘’brincadeira’’, o Diário de Goiás procurou explicações sobre o assunto e esclarecer de uma vez por todas porque ‘’brincadeiras’’ assim são inaceitáveis.
A Coordenadora do Movimento Negro, Iêda Leal, explica que situações como esta não é brincadeira. ‘’Não é brincadeira porque a escravidão tirou vidas, a escravidão perpetuou durante muito tempo em nosso país a exploração dos seres humanos’’, destaca Iêda.
Para a ativista, em pleno 2022 é inacreditável que alguém ache que estes fatos vividos pela comunidade negra, na época da escravidão era brincadeira. ‘’Nós perdemos vidas, fomos colocados em situações que era humanamente viver, nós morríamos não só de tristeza, mas morríamos porque faltava para nós condições de trabalho, nós éramos trabalhadores naquele momento sem direito a nada’’, disse.
Não é brincadeira! Iêda explica que naquela época, o fim da escravidão foi a rua, falta de indenização, as perdas históricas do nosso povo. ‘’Não é brincadeira’’.
‘’Não é brincadeira a tortura, não é brincadeira transformar a relação de poder econômico em uma relação para interiorizar a população negra. População humilde, que tem lutado para sobreviver’’, disse a ativista.
Para Iêda Leal, essa origem nefasta da sociedade brasileira ela alimenta esse racismo que vem a todo tempo retirar os direitos humanos colocando pessoas em situação de inferioridade. ‘’O constrangimento, ridicularizar, inferiorizar revela a mente de um homem que odeia e que não respeita uma população que colaborou com o desenvolvimento do nosso país’’, frisa Iêda.
Nesse sentido, de acordo com a ativista, é preciso reafirmar que não é brincadeira. ‘’A escravidão foi uma situação vivida por negros brasileiros que hoje irá continuar sendo exigido a reparação do estado brasileiro, e que estes herdeiros das famílias escravagistas do país possam pagar por esse crime’’, destaca.
‘’A gente luta contra os fatos que não é brincadeira. Tirar vidas, matar, separar famílias, explorar a condição humana do seu mais grau de exploração, usar os corpos negros e negras do país para se enriquecer para não ter que pagar os direitos trabalhistas? Não! Não é brincadeira’’, frisa Leal.
A falta de cuidado com ser humano ainda reina
Durante a gravação do vídeo, o médico faz comentários de ironias com a senzala. Em um determinado trecho ele diz: ‘Falei para estudar, mas não quer, vai ficar na minha senzala’’.
Para a ativista, isso confirma e mostra a triste realidade, onde as pessoas acham que as senzalas, os porões, as prisões e a falta de cuidado com o ser humano ainda reinam. ‘’Reina em uma cidade onde historicamente os negros construíram essa cidade’’, destaca Iêda fazendo referência a Cidade de Goiás, onde o médico pertence a uma tradicional família do município.
Para Iêda essa situação nos traz um sentimento de grande revolta, mas a certeza de articular um trabalho para que não só repudiar o ato, mas exigir a punição rigorosa.
‘’A punição para um crime que foi gravado e mostrado para todo país, para o mundo todo. A tortura feita pelas mãos de um homem que se diz médico, aquele que estudou para cuidar e curar e não para subjugar, maltratar e se o faz, a gente precisa ter o sentimento, o sentido, a exigência da punição a essa pessoa que viola o direito de viver’’, finaliza a ativista do movimento negro, Iêda Leal.
Relembre o caso
Um vídeo tomou conta das redes sociais nesta quarta-feira (16/02) onde um médico que pertence a uma tradicional família da Cidade de Goiás, acorrenta seu funcionário, um homem negro, submetendo-o à condição análoga à escravidão.
“Falei para estudar, mas não quer, vai ficar na minha senzala’’, comenta o médico aos risos mostrando o que seria um funcionário acorrentado pelas mãos, pés e uma argola de aço no pescoço. A brincadeira parecia ser consentida com o rapaz, negro.
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Em outro trecho do vídeo, o médico comenta: ‘’tenta fugir, pode ir embora’’, logo dispara risos tanto do médico quanto do homem negro que aparece na publicação. A filmagem teria sido feita em um colégio da zona rural localizado no município de Cidade de Goiás.
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